Para Manuel Brito, tem de haver uma coisa que é “uma chave do desporto,” a incerteza do resultado”.
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Um caso de doping é uma derrota para Manuel Brito, que garante não estar interessado em estatísticas que revelem muitos positivos e se mostra convicto de que os portugueses não gostam de batoteiros.
“Fazemos por isso. Já houve ocasiões em que, digamos, a luta antidopagem media-se pelo número de controlos positivos. Eu não alinho nisso. Um bom resultado para mim é zero. Haver um caso positivo, para mim, é negativo, muito negativo. Eu não estou interessado em estatísticas que revelem muitos casos de dopagem. Evidentemente, se apareceram, registam-se, publicam-se, publicitam-se, que é o que está na lei, comunica-se à AMA [Agência Mundial Antidopagem], etc. Mas eu acho que é uma derrota”, confessou.
O presidente da Autoridade Antidopagem de Portugal (ADoP) respondia assim a uma questão da agência Lusa sobre a eficácia da luta contra o doping no país, numa altura em que, na sua opinião, “o que vale é lutar contra tudo e contra todos, ganhar a qualquer custo na vida”.
“Tenho lido trabalhos interessantes sobre a perceção do público em relação à dopagem. Eu acho que não está a haver, como direi, um movimento social forte de rejeição relativamente a isso. ‘Vide’ o caso dos Estados Unidos, em que nas ligas fechadas eles sabem que eles estão dopados, não há controlos. E isso não afasta o público. […] Isso é preocupante, porque nós lutamos em dois grandes planos, o plano da saúde e o plano da verdade desportiva. Portanto, não se admite batota”, defendeu.
Para Manuel Brito, tem de haver uma coisa que é “uma chave do desporto,” a incerteza do resultado”.
“Ora, no caso de haver uma equipa ou um praticante que esteja dopado, não haverá incerteza. É ele sempre a ganhar. Nós lutamos, certo, com problemas de métodos e substâncias proibidas, mas eu acho que estamos a lutar muito também com a opinião pública”, estimou.
Embora estudos recentes em vários países europeus demonstrem que “a opinião pública não queria saber” se os desportistas se dopavam, preocupando-se apenas com o resultado, o responsável pela luta antidoping nacional acredita que em Portugal a perceção é distinta.
“Os portugueses não gostam de batoteiros. Não estou tão certo se esse estudo fosse replicado em Portugal, se os resultados seriam iguais. Os portugueses não gostam de batota e eu, por dever de ofício, faço quase diariamente um exercício de consulta da opinião pública e publicada, comentários nos blogs, faço isso. É muito deprimente, porque há muito desconhecimento sobre o que se faz, sobre a honestidade de processos. Há muito pouca informação por um lado, contrainformação por outro, os maus somos nós, nós é que temos de provar que somos sérios”, revelou.
No entanto, Brito mostrou-se otimista que o combate ao doping está a funcionar no país, salientando as inúmeras ações de formação feitas pela ADoP, sobretudo junto dos mais jovens, nomeadamente nos Centros de Alto Rendimento e nas Unidades de Apoio ao Alto Rendimento na Escola (UAARE).
“Eu creio que está a dar resultados, dará no futuro, porque são os jovens que vão ser os nossos membros das seleções nacionais, nas diferentes modalidades. Estou com muita expectativa nos resultados positivos desta nossa opção” pela formação, concluiu.