Sérgio Conceição e Bruno Lage transmitem muita confiança aos jogadores e estes sentem-se na obrigação de retribuir. Garante quem os conhece bem.
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Apaixonados pelo que fazem, Sérgio Conceição e Bruno Lage têm uma forma de liderar muito diferente. Se o treinador do FC Porto dá a cara pelos jogadores e defende-os, embora mantenha sempre uma distância por entender que "trabalho é trabalho e conhaque é conhaque", já o seu homólogo do Benfica mantém um relacionamento muito próximo com os atletas e contacta-os frequentemente, inclusive quando já estão em clubes diferentes. João Teixeira, médio do Chaves e antigo jogador dos dois técnicos, desvenda a O JOGO uma mensagem que recebeu de Bruno Lage. "Na época passada, quando estava no V. Setúbal, saí chateado no jogo com o Portimonense e ele mandou-me uma mensagem a dar-me uma "descasca". Não só me chamou a atenção como me deu um conselho", lembra, destacando a frontalidade do treinador com quem trabalhou três épocas nas camadas jovens do Benfica. "É muito direto e às vezes diz coisas que não gostamos de ouvir, mas que são verdades", afiança.
João Teixeira jogava com frequência com Bruno Laje, mas isso não lhe dava um estatuto diferente. "Jogava regularmente com ele, mas não deixava de me criticar e de me corrigir. Já sabíamos que quando nos dava uma "dura", era para nosso bem. Nunca tive nenhum problema com ele, porque é uma pessoa tranquila e justa. É uma boa pessoa, muito acessível, um amigo", destaca o médio.
A relação com Sérgio Conceição não era tão próxima. Compreende-se. Se com Bruno Lage trabalhou três anos, com o então técnico do V. Guimarães coincidiu apenas meia época, a partir do mercado de janeiro de 2016. "Não tínhamos um relacionamento de amizade: era mais de treinador/jogador. Nos treinos, era um pouco fechado. Falava mais com os capitães. Com ele, era trabalho é trabalho, conhaque é conhaque", avalia, revelando que alguns colegas de profissão garantem que o treinador do FC Porto é muito diferente fora do local de trabalho. "Alguns colegas que trabalharam com ele disseram-me que passa uma imagem diferente e que quem o encontra na rua ou num restaurante fica logo com outra ideia", afirma.
Sem tempo para formar uma relação de amizade, João Teixeira recorda, ainda assim, a confiança que recebeu de Conceição logo no primeiro dia. "Quando cheguei ao V. Guimarães, chamou-me ao balneário e estivemos a falar. Deixou-me tranquilo e senti que confiava em mim. Isso foi muito importante", admite, garantindo também que o portista "não é treinador de dar "duras" nos jogadores"; lembra, inclusive, que "nas conferências de Imprensa defendia os atletas". Por isso, estes sentiam que tinham de retribuir. "Quando íamos para o campo, tínhamos de dar sempre um pouco mais", reconhece.
Curtas
A importância das bolas paradas
Sérgio Conceição sempre deu muita importância aos lances de laboratório. "Nos treinos, ensaiávamos muito as bolas paradas. Ainda agora, no jogo FC Porto-Braga, houve um canto estudado nos primeiros minutos que nós já trabalhávamos com ele quando estávamos no V. Guimarães", conta João Teixeira.
Palestras deixavam jogadores tranquilos
Antes dos jogos, as palestras de Sérgio Conceição "eram curtas". "Deixava os jogadores tranquilos e não pressionava muito", recorda João Teixeira. Já Bruno Lage dava liberdade e confiança. "Não era aquele tipo de treinador que encarava os jogos como uma guerra ou que tínhamos de ir para o campo para comer a relva", relata o médio formado nas camadas jovens do Benfica.
Expulsão sem direito a reprimenda
Em 2015/16, no V. Guimarães, João Teixeira foi expulso, aos 45"+5", contra o Paços de Ferreira. Apesar da derrota (2-0), Conceição preferiu sair em defesa do jogador. "Não me criticou. Ele até entendeu que o árbitro é que errou", recorda o médio, destacando a atitude do seu antigo treinador.
Bases na defesa, poder no ataque
As comparações entre Sérgio Conceição e Bruno Laje tornam-se complicadas, tendo em conta que só se defrontaram uma vez na carreira. Mas não deixa de ser curioso que existam alguns pontos em comum entre os dois treinadores, a começar pelo facto de esta época já terem conseguido séries vitoriosas impressionantes. Isto numa temporada bastante desgastante, o que tem obrigado os dois a gerir bem os respetivos plantéis.
Sérgio Conceição já recorreu a 31 jogadores em 41 jogos, em todas as competições. Herrera é o que tem mais, somando 3331 minutos, mas não deixa de ser curioso que quatro dos sete atletas mais utilizados em 2018/19 sejam todos do sector defensivo: Felipe e Alex Telles têm ambos 39 encontros, Éder Militão soma 32 e Casillas contabiliza 31.
Bruno Laje também começou a construir a casa pela defesa, suportada por Vlachodimos (10 jogos), André Almeida (10), Rúben Dias (11) e Grimaldo (12), mas é no ataque que estão os dois jogadores mais utilizados pelo sucessor de Rui Vitória: é até curioso que Seferovic e João Félix tenham sido utilizados nas 13 partidas de Laje. Juntos, os dois avançados marcaram 19 dos 39 golos dos encarnados. No FC Porto, Marega (16 golos), Soares (15) e Brahimi (10) contribuíram para 41 dos 96 golos.