Luis André, Quadrantis, Zubizarreta, Antero e a segurança: recorde tudo o que disse Villas-Boas
Declarações de André Villas-Boas, candidato às eleições do FC Porto - a 27 de abril -, em entrevista à RTP
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Diz que tem de ser agora o momento de mudança. Porquê que tem de ser agora? Qual é a pressa?
Não tem a ver com pressa, tem a ver também com a preparação que eu fiz para me apresentar ao ato eleitoral de 2024. Sempre perspetivei uma carreira curta de treinador. Estou intimamente e emocionalmente vinculado ao FC Porto, como sócio e adepto, e nestes dois últimos anos dediquei-me a preparar esta candidatura de uma forma criteriosa e rigorosa.
Disse que Pinto da Costa não tem condições de ser presidente mais quatro anos. Porquê?
O FC Porto encontra-se num momento decisivo da sua estabilidade e sustentabilidade. Nós, nos últimos 12 anos, acumulamos 250 milhões de euros de passivo, significa que anualmente adicionamos prejuízo às nossas contas. Os modelos de governação do FC Porto têm de ser imediatamente refeitos, reformatados e obedecer a gestão rigorosa e cuidada, a disciplina orçamental. Se o presidente continuasse, e tendo em conta também as pessoas com as quais está a rodear-se, poderíamos continuar facilmente para a ruína financeira. Acho que nós já não vamos lá com retoques de maquilhagem das equipas e desculpabilizando-se com a saída de outros administradores que colocaram o FC Porto nesta situação que está atualmente.
"Acho que nós já não vamos lá com retoques de maquilhagem das equipas e desculpabilizando-se com a saída de outros administradores que colocaram o FC Porto nesta situação que está atualmente"
Acho que todos os líderes devem assumir as responsabilidades, tanto nos sucessos como nas derrotas. Eu, pelo menos, orientei sempre a minha carreira dessa forma, enquanto treinador, e acho que qualquer líder de organização também deve ser assim. E as responsabilidades contam também do ponto de vista financeiro, de sustentabilidade, de crescimento do clube, e é isso que nós não temos visto nestes últimos anos. Temos visto o FC Porto a perder capacidade competitiva, temos visto também um FC Porto que não se adaptou infraestruturalmente como se adaptaram os seus rivais, temos o FCPorto em déficit relativamente às modalidades femininas, nas suas diferentes categorias e vertentes, e tudo isso é um reflexo de uma gestão que estagnou no tempo. Daí que eu acho que o momento seja absolutamente agora".
Houve uma declaração de Pinta Costa que surpreendeu há algumas semanas, quando associou arbitragens que prejudicam o FC Porto à sua candidatura. Isso é quase colocá-lo como um inimigo do clube...
Sim, isso é uma declaração de infeliz. Muitas têm sido ditas durante esta candidatura, e o candidato Jorge Nuno Pinto da Costa nunca pensou que esta candidatura se tornasse tão forte e gerasse tanta onda de entusiasmo como está a gerar. A realidade é essa, e isso confrontou o presidente com uma situação que ele nunca teve nestes últimos 42 anos. A realidade é que os sócios se fartaram, querem mudança, exigem mudança, exigem um FC Porto que seja sustentável, que seja lançado para a modernidade, que corresponda aos desejos dos seus associados, e isso não está a acontecer.
Para terminarmos esta parte, ficou incomodado quando ouviu o Luís André?
Não, acho que são brincadeiras. O presidente tem essa ironia bem presente, e são brincadeiras suas, não levo a mal. Estou absolutamente focado na minha candidatura e na apresentação de um projeto desportivo, financeiro, associativo, social, para o FC Porto. Todas as divergências, e 'soundbytes' que surgem paralelos a este ato eleitoral, não me causam transtornos
"A realidade é que os sócios se fartaram, querem mudança, exigem mudança, exigem um FC Porto que seja sustentável, que seja lançado para a modernidade, que corresponda aos desejos dos seus associados, e isso não está a acontecer"
O André falou há pouco da sua carreira treinador, trabalhou ao mais alto nível quer no FC Porto quer em outros clubes do contexto europeu, sabe como é que hoje os grandes clubes escolhem um treinador, definem um modelo de jogo, identificam um perfil de treinador, fazem 3 ou 4 entrevistas e escolhem. O André já definiu esse perfil?
Eu gostava de começar por respeitar a palavra do treinador. O treinador Sérgio Conceição sempre se colocou à parte deste ato eleitoral, compreendo que não seja fácil para ele gerir toda a comunicação que há à volta da equipa relativamente ao ato eleitoral. É importante recordar que já o fez, ou seja, em 2020 também já era treinador do FC Porto, foi campeão nacional nesse ano e também houve um ato eleitoral. Portanto, tem essa experiência, isto não é novidade para ninguém. A realidade é que a única coisa que diverge de 2020 será o poder da candidatura de oposição. Portanto, o treinador atual do FC Porto manteve-se à parte, será a primeira pessoa que eu irei abordar quando, eventualmente.
Faz sentido nem mencionar a continuidade de Sérgio Conceição, apesar dos resultados péssimos...
Sobretudo o que faz sentido é uma conversa com o treinador atual, perceber as razões pelas quais não foi feita a sua renovação anteriormente, que podem ter a ver com as suas motivações relativamente ao seu futuro e à sua carreira. Portanto, eu como nunca falei com o treinador relativamente a este assunto, entendo fazê-lo quando…
E não falou com nenhum treinador?
Não, em absoluto.
Nem com Gasperini, o homem da Atalanta?
Em absoluto, em absoluto.
E Zubizarreta, esse nome histórico do Barcelona, que também trabalhou consigo em Marselha, vai ser o diretor desportivo do FC Porto?
Eu tive uma relação de muita empatia profissional e pessoal com o Zubizarreta. Eu tenho planos muito bem definidos relativamente à direção desportiva, o meu FC Porto do futuro assenta numa direção desportiva estruturada e será esse sempre o coração da sustentabilidade financeira do clube. A formação terá um papel a jogar, a performance tem um papel a jogar, o scouting tem um papel novo a jogar, tudo isto obedece uma direção desportiva estruturada, onde eu farei confiança a pessoas com as quais trabalhei. Portanto, é muito possível que isso aconteça, será um anúncio para breve, para esta quinta-feira. Acho que será um anúncio do agrado dos associados e são pessoas com esse…
Portanto, quando diz que é muito possível que aconteça, é porque vai acontecer na próxima quinta-feira.
"Neste momento o Jorge Costa é um dos apoiantes desta candidatura, entende, como elemento histórico do FC Porto, que esta também é uma altura de mudança e por isso manifestou claramente o seu apoio pessoal no anúncio da minha candidatura"
Como há pouco estávamos a falar de perfis, digamos que esse obedece ao perfil desejado.
E Jorge Costa, um capitão histórico do Porto, trabalhou com ele na altura da Taça do EF em Sevilha, da Liga dos Campeões, em que o André fazia parte da equipa técnica e do José Mourinho. Qual é que vai ser o papel do Jorge Costa no FC Porto do futuro, caso o André Villas-Boas ganhe?
Neste momento o Jorge Costa é um dos apoiantes desta candidatura, entende, como elemento histórico do FC Porto, que esta também é uma altura de mudança e por isso manifestou claramente o seu apoio pessoal no anúncio da minha candidatura e já esteve envolvido também em alguns eventos da minha candidatura. Neste momento, fico feliz por poder contar com um universo de pessoas do mundo azul e branco, com grande representatividade, que têm apoiado esta candidatura. O Jorge Costa é uma dessas pessoas, está vinculado ao Aves, evidentemente, e logo ver
Mas é possível que haja um lugar para ele no futuro?
Vamos ver. Não queria estar a antecipar cenários.
Há um nome que tem sido muito falado nesta campanha, o nome da Antero Henrique, que foi um homem importante na estrutura de FC Porto durante muitos anos, vai voltar ao Dragão, vai ser seu conselheiro, é um amigo que vai estar à distância, mas que vai ouvir para tomar algumas decisões...
O Antero não tem nada a ver com esta candidatura, é uma pessoa amiga que eu conheço, com a qual me relaciono, com a qual naturalmente falo de temas relacionados com esta candidatura, mas não tem absolutamente nenhum papel sobre decisões futuras e estruturantes do FC Porto. Na minha ótica, foi um dos melhores profissionais com os quais eu trabalhei e este é um sentimento partilhado em geral no futebol europeu, de uma pessoa de grande conhecimento e de grande profissionalismo, com uma visão estratégia sobre o futebol europeu difícil de encontrar, mas não terá nenhum papel no FC Porto no futuro."
Ficou incomodado quando ouviu um atual dirigente do FC Porto, Vítor Baía, dizer que o Antero Henrique era o mentor da sua candidatura e que o vosso objetivo é transformar o FC Porto num entreposto dos jogadores?
Sim, isso são perguntas que tem de fazer ao Vítor Baía, que melhor pode explicar as razões de determinadas coisas. Não posso dedicar-me continuamente a desmentir as declarações que vêm do outro lado, ainda ontem tivemos mais um episódio infeliz da candidatura de Pinto da Costa ao dizer que era falso, que nós não tínhamos recebido a aprovação por parte da Agência Portuguesa do Ambiente para a construção deste centro de alto rendimento em Gaia, o que facilitamos imediatamente a autorização do mesmo para a comunicação social. Não posso passar toda a vida a desmentir a quantidade de barbaridades que são ditas pela outra candidatura. Neste momento estou absolutamente focado no meu projeto.
"Não posso dedicar-me continuamente a desmentir as declarações que vêm do outro lado, ainda ontem tivemos mais um episódio infeliz da candidatura de Pinto da Costa ao dizer que era falso, que nós não tínhamos recebido a aprovação por parte da Agência Portuguesa do Ambiente"
Falou há pouco da academia, de Gaia como defende ou Maia como defende a candidatura de Pinto da Costa, é uma coisa que os tem dividido. Hoje, o Benfica, Sporting e até mesmo o Braga têm condições melhores do que o FC Porto a esse nível. O projeto de redimensionamento do Olival não é pouco ambicioso?
Repare que nós em 2022, quando iniciamos este projeto desta candidatura, não havia conversas sobre a academia da Maia, o FC Porto estava em vias de tentar rescindir um contrato que tinha assinado para construir uma academia em Matosinhos. Portanto, nós queríamos resolver imediatamente os problemas infraestruturais do FC Porto com a criação de um novo espaço e para nós fazia sentido, do ponto de vista da unidade, ou seja, a formação e o futebol profissional estarem juntos, colocá-lo em Gaia e também do ponto de vista do custo e da operação e da velocidade de execução dessa operação. Daí que encetámos os contactos necessários para encontrar terrenos no Olival e encontramos dois terrenos e acabamos por fechar um, que estava nas mãos da família Amorim. É um contrato de promessa de compra e venda que está assinado comigo e que depois será pegado pelo FC Porto, cedendo a minha posição ao FC Porto. Eu acho que é importante dizer o seguinte, as duas unidades juntas, normalmente em termos de futebol, obedecem a 10 campos relevados, o que é o 'benchmark' europeu para uma cidade de futebol igual ao que têm os clubes europeus.
"Tive muito gosto em convidá-lo, é uma pessoa com a qual me relacionei mais nos tempos em que estava no FC Porto, também fruto da amizade do presidente Jorge Nuno com o Joaquim Oliveira, tem que lhe perguntar a ele porque é que vê como um inimigo"
Há uma dúvida que tem sido motivo até de alguma polémica, o apoio do empresário Joaquim Oliveira, que Pinto da Costa diz que é um inimigo do clube. Porquê que Joaquim Oliveira é seu apoiante?
Decidi convidar Joaquim Oliveira para a minha apresentação no dia 17 de janeiro. Tive muito gosto em convidá-lo, é uma pessoa com a qual me relacionei mais nos tempos em que estava no FC Porto, também fruto da amizade do presidente Pinto da Costa com o Joaquim Oliveira. Tem que lhe perguntar a ele porque é que vê como um inimigo. Isso só é uma coisa que pode ser esclarecida entre os dois, a única coisa que é importante esclarecer é que isto não tem nada a ver...
Pinto da Costa fala dos direitos televisivos, não é?
Pois, se calhar naturalmente o presidente não tem acompanhado a liga sobre a centralização e as suas implicações e o que tem a ver com a liga centralização e com o decreto-lei do Governo para centralizar os direitos televisivos. A única coisa que falta definir é a chave de repartição relativamente ao futuro, onde o presidente da Liga, Pedro Proença, garantiu que os clubes não iam perder valor.
Os incidentes na Assembleia Geral e a Operação Pretoriano representam o que nestas eleições?
Talvez um marco histórico negro na história do clube. Em primeiro lugar, houve um sinal de grande vitalidade, ou seja, um grande movimento por parte dos associados de volta a uma Assembleia Geral que tem que ser valorizada. Este é o pré-evento, essa mobilização geral dos associados. Os incidentes que ocorrem a seguir são graves, são de intimidação, de agressões. De tentar impedir as pessoas de expressarem livremente a sua opinião. E é um dia para jamais esquecer e para jamais se repetir também.
O FC Porto vai continuar a ter claques, o que é que vai continuar e o que é que vai mudar? Se o André for presidente...
Sim, o FC Porto tem que ter, naturalmente. Os grupos organizados de adeptos representam também aquele tipo de associado, adepto e simpatizante, que gosta de viver os jogos de forma diferente, apoiando a sua equipa e cantando a favor do FC Porto. Este é um modo de estar que é respeitável e que é comum entre vários clubes europeus. O que não pode haver é desigualdades em termos de direitos e infelizmente… Entre os sócios e entre o público em geral também. Ou seja, no acesso à bilhética tem que haver igualdade e equidade, seja para adeptos e simpatizantes do FC Porto, seja para sócios do FC Porto. Eu acho que é esta falta de equidade que não existia e que levou também a muita frustração sentida por parte de alguns adeptos e por parte de alguns associados.
Desde que se começou a perceber que ia ser candidato a presidente, sentiu a sua segurança em risco, tem algum receio quando sai à rua, quando faz a sua vida?
Não, repare, houve incidentes que nós sofremos diretamente na pele e o meu zelador principalmente. Não foi o único evento que tem vindo a acontecer nesta caminhada, tentamos sempre encarar a vida de forma normal, agora são incidentes que nos marcam, a mim e à minha família evidentemente foi-nos atribuída proteção, sentimos-nos totalmente seguros, mas são eventos que não trazem boa memória.
"Eu acho que o presidente, neste caso, tem de ser o reflexo máximo deste esforço, mudar também o paradigma. Ele também já é presente no caso de um dos nossos rivais, onde há um presidente também não remunerado"
Já disse que não vai ter salário, que vai ser um presidente não remunerado, porquê?
Porque acho que estou e estamos para servir o FC Porto, dentro desta candidatura também há uma série de pessoas, destas que eu escolhi, que fazem um esforço financeiro para vir para o FC Porto, sofrendo cortes na sua remuneração e aceitando servir o FC Porto. Eu acho que o presidente, neste caso, tem de ser o reflexo máximo deste esforço, mudar também o paradigma. Ele também já é presente no caso de um dos nossos rivais, onde há um presidente também não remunerado, e eu penso que é assim que deve ser também no futuro. Portanto, tenho muito orgulho em representar esta mudança, nós teremos cortes acentuados no ponto de vista da remuneração, tem sido um dos pontos de escândalo relacionados com a administração do presidente Jorge Nuno Pinto da Costa, onde sensivelmente em 12 anos estamos a falar de 27 milhões de euros em remunerações. A administração tem de servir como exemplo.
O FC Porto pode deixar de ser dos sócios, há esse risco, eu creio que ouvi dizer que não era impossível o fundo Quadrantis, ligado a João Koehler, da candidatura de Pinto da Costa, vir a ser dono do FC Porto? Estamos a falar de um eventual incumprimento do clube que possa conduzir a isso?
Sim, o que nos alertou foi sobretudo um prospeto que estava presente no site do fundo Quadrantis, onde estavam a ser dados como colaterais receitas do FC Porto, portanto o fundo Quadrantis queria levantar 250, 300 milhões de euros, e no seu prospeto dava indicadores claros e nítidos de receitas do FC Porto. Curiosamente esse prospeto mudou muito recentemente, onde apareciam logos da UEFA, do Fundo Saudita, ou seja, a transferência do Otávio para a Arábia Saudita, onde apareciam o logo dos operadores e onde aparecia o logo da Super Bock, e aqui estamos a falar da antecipação de receitas do contrato da Super Bock, que foi feita com a Connect Capital, também precisamente detida pelo fundo Quadrantis, ou em parte pelo fundo Quadrantis.
"Isto ficou ainda mais claro e presente quando nesse fundo fazem parte não só João Koehler, como também a José Fernando Figueiredo, que mais tarde viria a ser apresentado como CFO do FC Porto"
Portanto, quando nós vimos a presença destas colaterais, destas receitas colaterais relacionadas com o FC Porto, ficou claro que este financiamento e este levantamento de capital que pretendia a candidatura do presidente Jorge Nuno Pinto da Costa, na ordem dos 250 milhões a 300 milhões, pudesse ter a ver com este fundo levantar este capital. Isto ficou ainda mais claro e presente quando nesse fundo fazem parte não só João Koehler, como também a José Fernando Figueiredo, que mais tarde viria a ser apresentado como CFO do FC Porto. Nós continuamos a ver muitos sinais presentes da influência deste fundo, não só também com a presença de Pedro Rosas recentemente no camarote de Pedro Pinho no jogo de FC Porto-V. Guimarães, portanto tudo roda à volta sempre das mesmas pessoas.
O FC Porto foi o grande vencedor do futebol português nas últimas quatro décadas, foi também grande na Europa, hoje e nos últimos anos tem sido uma sombra pálida daquilo que já foi. Ganhou três campeonatos nos últimos dez anos, é seguramente a pior década em termos de resultados. É possível o FC Porto voltar a ser grande, tendo em conta essa situação financeira de que tem falado na entrevista?
Sim, penso que sim. Eu acredito piamente que há possibilidades de sucesso, de criar equipas competitivas, de ser muito mais rigoroso e criterioso nas escolhas dos jogadores para a equipa principal.
De voltar a uma final europeia?
Dificilmente. Repare, há uma ameaça clara, em primeiro lugar, sobre o ecossistema do futebol atualmente, por conta da decisão do Tribunal Europeu relativamente às competições paralelas e a UEFA e a FIFA não poderem castigar novas competições que venham a ser, competições e jogadores, não poderem castigá-los. Acho que há uma nova ameaça sobre o ecossistema do futebol. Isto levou à reformatação dos quadros competitivos da UEFA, de todas as competições da UEFA, e vive-se uma altura muito sensível. Agora, o que é que parece claro? Há um domínio cada vez maior dos grandes clubes europeus dentro deste ecossistema do futebol e uma ameaça cada vez maior com os grupos de clubes. Temos o grupo City, temos o grupo Paris Saint-Germain, o grupo Textor, o grupo Red Bull, cada vez mais a funcionarem em cadeias, e agora temos também fundos de investimento que compram carteiras de agentes dos jogadores. Tudo isto são sinais da mudança do ecossistema do futebol, que leva as coisas a tornarem-se muito sensíveis, e para FC Porto poder chegar a uma competição europeia tem que estar ao máximo nível desportivo, ao nível do scouting, ao nível da sua formação e ao nível da criação de uma equipa competitiva. É muito mais complicado, temos essa experiência e esse background europeu que nos sustenta e que nos permite sonhar.
A família Pedroto apoia, o filho Rui Pedroto vai ser seu vice-presidente. Há mais de 40 anos, José Maria Pedroto dizia, enquanto formos bons rapazes, não ganharemos, algo deste género. Revê-se nessa máxima que foi quase uma refundação do clube nesse espírito de combate do FC Porto ou acha que o clube deve ser mais simpático?
Não, acho que não tem nada a ver uma coisa com outra. Sobretudo tem a ver com o ADN e a cultura de vitória do FC Porto. Essa ADN e cultura de vitória passa de geração em geração e está presente no que é nosso mais visceral. Esse, digamos que atravessa o tempo e é intemporal e será sempre intemporal. Não podemos confundir as coisas do ponto de vista competitivo e do ponto de vista do crescimento nacional, que é obrigatório para o FC Porto. Eu, neste périplo pelas casas, tenho dito frequentemente que estima-se que 88% dos associados do FC Porto estão apenas em três distritos, que é Porto, Braga e Aveiro, e 12% estão no resto do país. Para um clube que tudo ganhou no passado, isto significa muito pouco. Nós, como grande referência de clube internacional que somos, temos que também crescer nacionalmente enquanto clube de associados, porque este novo FC Porto que se levanta e esta nova vontade dos associados, esta nova liberdade de expressão por parte dos associados que esta candidatura acabou por causar, este partilhar e comunicar de via aberta entre adeptos e candidatura, deve também representar um crescimento do associativismo do FC Porto a nível nacional. Não tem nada a ver com ser simpático, tem a ver com o nosso ADN, com o que é o nosso mais emocional e visceral.
Está tranquilo em relação a toda a logística que vai envolver o ato eleitoral do dia 27 de abril?
Falta definir pequenos aspetos que estamos a tratar diretamente com o doutor Lourenço Pinto, no que toca particularmente aos delegados às mesas das candidaturas, tanto se os mesmos delegados às mesas podem ser candidatos aos órgãos ou não.Tudo isto são detalhes para facilitar o processo operacional da candidatura, ou das candidaturas, e temos estado em contacto direto com o doutor Lourenço Pinto para que o ato corra de forma operacionalmente mais eficaz e mais transparente.
Teme que alguns sócios possam votar em Pinto da Costa por gratidão?
Temer não temo, o que eu quero é que os sócios decidam racionalmente também, emocionalmente também, porque faz parte do que é o nosso ADN, do que é visceral. Há que ter uma consciência racional do futuro do FC Porto. Esta candidatura, nesta caminhada, tornou-se realmente muito forte, e estas serão, muito provavelmente, das eleições mais votadas da história do clube. Isto não só é um sinal de vitalidade, mas é também um sinal que tudo o que surgir, tudo o que for ditado como vencedor destas eleições, será uma vontade quase unânime por parte dos sócios. Acho que isso é muito importante e muito saudável. Portanto, que haja transparência, que haja escolha, que toquem as emoções, que toquem também as razões, e que o presidente eleito seja o que vai lutar pelo bem comum do FC Porto e que seja o presidente de todos os associados do FC Porto. É o que eu mais desejo.