"Liga Europa de 2011? Estás no túnel, vês a taça, olhas e está o adversário do dia a dia"
Rolando e Silvestre Varela juntaram-se na Torre Lidador, na Maia, para recordar a conquista da Liga Europa, na época 2010/11. Da Taça de Portugal à Liga Europa, os antigos futebolistas relembraram a era dourada do FC Porto sob o comando técnico do atual presidente André Villas-Boas e com estrelas como Hulk e Falcao
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Rolando e Silvestre Varela, ex-futebolistas do FC Porto, foram os convidados da segunda ronda de “Conversas com Campeões” na Torre Lidador, na Maia, depois de Carlos Queiroz ter feito as honras da casa, no passado dia 21, para assinalar o 40.º aniversário do jornal O JOGO. Os dois craques preferiam certamente ter a bola nos pés em vez do microfone nas mãos, mas, mesmo assim, lá se reuniram para relembrar a época de 2010/11, era dourada para os dragões.
Com André Villas-Boas como treinador, venceram a Liga Europa frente ao Braga, em Dublin, graças ao golo de cabeça de Falcao, a I Liga, a Taça de Portugal, com uma goleada por 6-2 diante do Vitória de Guimarães, e a Supertaça, frente ao Benfica. O primeiro feito tem o merecido destaque numa das 40 primeiras páginas de O JOGO em exposição e, mais de dez anos depois, está surpreendentemente bem fresco na memória dos dois, desde logo porque “foi uma estranha final europeia” disputada contra um plantel que conheciam (demasiado) bem.
“Jogar com o Braga era como jogar com o vizinho. Essa final europeia foi espetacular por ter uma equipa portuguesa, mas estranha ao mesmo tempo. Estás no túnel de acesso ao relvado, vês a taça, olhas para o lado e vês o adversário do dia a dia, mas num jogo europeu. Mesmo assim, o sabor da vitória é sempre especial”, destacou Rolando, perante uma plateia composta.
Nessa altura, o plantel do FC Porto era feito de estrelas como João Moutinho, Belluschi, Falcao, Hulk e o jovem James Rodríguez, que, segundo Varela, penou até conseguir lugar fixo na frente. Na vitória, lembrou o antigo avançado, foi preciso “dar à perna” e “rezar para ‘São Helton’ defender” aquele que podia ter sido o golo do Braga, quando Mossoró aproveitou a perda de bola de Fernando. “Foi um momento marcante por tudo, pelas conquistas, pelo grupo que tínhamos. Quando a coisa estava feia, estávamos sempre unidos e isso marcou-me muito”, concluiu.
Plantel do “homem que sabia tudo”
Os ex-jogadores recordaram o papel apaziguador de Villas-Boas, que acabou com as discussões ao montar um ringue de boxe
Apesar de o plantel portista estar, na época, repleto de estrelas, os antigos jogadores dos dragões destacaram os conflitos normais de quem estava na casa dos 20 anos e a forma peculiar que o então treinador André Villas-Boas arranjou para resolver os problemas.
“O grupo tinha muitas personalidades fortes e o míster ajudou muito ao montar um ringue de boxe no centro de treinos para quem quisesse lutar e resolver as coisas frente a frente. Eram pequenos problemas e até saudáveis, se ninguém ultrapassasse os limites. Mas a partir daí não tivemos mais”, recordou Varela. Os temas da fricção continuam a ser segredo, mas, segundo Rolando, não estava relacionado com questões de titularidade. “Um dos segredos do míster foi a forma como geriu o grupo. Transmitia confiança e dizia-nos as coisas que iam acontecer. No balneário perguntávamos sempre como é que o homem sabia o que ia acontecer”, recordou.
Mudar as peças para a vitória
Além do discurso certo para acalmar os jogadores, André Villas-Boas também tinha a tática certeira para eliminar os adversários na Liga Europa.
“Quando íamos para o intervalo a perder, bastava o míster mudar duas ou três peças no balneário para mudar o jogo na segunda parte”, revelou Rolando. O duelo ante o Villarreal, para a meia-final da Liga Europa, foi o que mais marcou os dois ex-dragões, desde logo porque a equipa passou de estar a perder por 1-0 para marcar cinco golos após o intervalo. “Naquele momento, o Villarreal estava melhor. Mas tínhamos o super Falcao a resolver na frente”, concluiu o antigo central.
Conversas continuam ao lado de outros campeões do desporto
Depois de Carlos Queiroz e dos antigos futebolistas portistas, os ciclos de conversas semanais com outros campeões do desporto destacados nos últimos 40 anos de jornal O JOGO continua até ao dia 21 de Março, na torre do centro da Maia. Depois de ter desistido da Volta ao Algarve na sequência de uma queda, o campeão olímpico Iúri Leitão é o convidado de sexta-feira, seguido de figuras como os andebolistas Rui Silva e Victor Iturriza e os canoístas Fernando Pimenta, medalhado olímpico, e Teresa Portela, que arrecadou o ouro mundial para Portugal no verão de 2024. Jaime Pacheco, antigo treinador do Boavista e o único a conseguir fazer deste clube campeão nacional, corria a época de 2000/2001, é outra das presenças confirmadas.