Instrumento de compensação às duas equipas despromovidas começa a ser pago em 2018/19, mas G15 pressiona para obter o dobro (200 mil euros por equipa) pela excecionalidade de haver um terceiro despromovido devido à reintegração do Gil Vicente. Liga quer que o bolo de 300 mil euros seja partilhado pelos três.
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Há um mês, foi aprovado na Liga de Clubes, em sede de grupos de trabalho, ou seja, na especialidade, o pagamento de uma compensação de 300 mil euros para amortizar a queda da I para a II Liga, depois de o mecanismo ter tido luz verde na generalidade em assembleia geral de dezembro de 2017. Seja 150 mil euros ou 200 mil (como pretende o G15) por equipa, ajuda. Mas é um paraquedas curto para sociedades que, com a despromoção, têm de gerir uma perda de receitas de quase seis milhões de euros, contra custos que não sobem muito.
Diferença entre estar na I ou na II Liga é, genericamente, de seis milhões de euros nas receitas, contra um aumento de despesas de 500 mil euros.
"Essa é a pergunta: de onde virá o dinheiro? Já viu a situação financeira da Liga? ["Mas não tem dado lucro?"] Tem tido saldos positivos, mas herdou um passivo gigantesco que é preciso liquidar. O dinheiro terá de vir dos clubes. Imagina os clubes a pagarem a outros clubes dinheiro que lhes faz falta?", questiona-se Lúcio Correia, professor de Direito do Desporto da Universidade Lusíada.
A Liga não faz comentários de momento, mas Pedro Proença, que prometeu empenhar-se na melhoria da solução de amortização da queda do 16.º classificado (definida antes da época começar), está a demarcar-se de ter dado a garantia de que o fazia. Tentar, sim, garantir, não. Só em março (quando 11 equipas estavam ligadas à luta pela manutenção) é que o G15 começou a pressionar publicamente no sentido de duplicar a verba do "parachute payment" (ver texto sobre a Premier League, que tem duas vantagens à cabeça: é a mais rica do mundo e, sublinha Lúcio Correia, tem os direitos televisivos centralizados).
Na Liga (ou seja, pelos clubes), ficou determinado que seria distribuído a partir da próxima época um bolo de 300 mil euros, 150 mil euros por cada um dos despromovidos. E a solução para esta época de excecionais três descidas (pela reintegração judicial do Gil Vicente) é dividir o mesmo bolo por três: 100 mil euros a cada.
O organismo que gere as competições profissionais defende este mecanismo como instrumento de prevenção a graves problemas de incumprimentos contratuais com as enormes perdas causadas pela descida às SAD ou SDUQ. O dinheiro obedece a regras rígidas, dará para pagar rescisões (obrigatórias quando há contratos de I Liga num plantel para a realidade da II Liga), mas não pode ser usado no reforço do plantel. Tem de ser previamente solicitado e justificado dentro das despesas elegíveis até ao limite previsto. Este instrumento financeiro será controlado pela Comissão de Auditoria.
"Será um fundo criado pela Liga, possibilitado pelo lucro nas últimas duas/três épocas? Terá outra proveniência [clubes]? Haverá um valor de referência para cálculo do mecanismo, por exemplo orçamentos mais altos da II Liga?", baralha um alto responsável do futebol português. E diz que "300 mil euros se aproximam daquilo que vem sendo ponderado", embora O JOGO saiba que o G15 se tem atirado aos 600 mil euros por haver a exceção da descida de uma terceira equipa.
Baralhando e voltando a dar: ninguém faz ideia de como se vai descalçar esta bota - "Só sei que isto vai acabar mal", augura Lúcio Correia. Para já, a questão foi introduzida no Núcleo de Regulamentos, que funciona nas reuniões da Direção da Liga e teve o primeiro episódio terça-feira, sem grandes avanços. Nessas reuniões procura-se um modelo e um oásis de financiamento mais generoso, discutidos pelos clubes eleitos para esse fórum (FC Porto, Benfica, Sporting, Belenenses, Nacional, I Liga; Estoril, Académica e Varzim, II Liga), além de juristas e outros especialistas convidados pelo presidente da Liga, coordenador destes encontros.
A compensação ao 16.º de 2018/19 na próxima época será previsivelmente um dos temas mais quentes da assembleia geral da Liga de maio.
O JOGO sabe que o G15 se tem atirado aos 600 mil euros por haver a exceção da descida de uma terceira equipa.
Descida vale cem milhões na Premier League
O sistema de compensação para evitar choques financeiros que ponham em perigo a sobrevivência das equipas que são despromovidas da Premier League, a mais rica do planeta do futebol, existe desde o início da prova (1992/93). Esta época, Swansea, Stoke e West Brom (relegados em 2017/18) recebem cada um 48,3 milhões de euros - em 2019/20 serão 24,3 milhões e 24,2 milhões em 2020/21.
Em Portugal, que só encontra em Chipre paralelo enquanto país europeu a negociar os direitos clube a clube, as receitas estimadas de TV são de 190 milhões no total dos 18 clubes. São 100 milhões para os três grandes, cerca de 125 milhões incluindo Braga e V. Guimarães - restando à volta de 65 milhões para as outras 13 sociedades, com valores entre os seis e os quatro milhões.
Em Inglaterra, o cálculo do "parachute payment" baseia-se em percentagens degressivas sobre os 50% do bolo total das receitas de televisão, fatia distribuída equitativamente pelos 20 clubes da principal liga inglesa. Em vigor está a verba da venda dos direitos em 2015 (à Sky Sports e BT Sport), por um valor recorde de 5,918 mil milhões de euros, para as três épocas seguintes (independentemente da divisão em que compitam): 2016/17, 2017/18 e 2018/19. Garante 102,7 milhões de euros entre 2018/19 e 2020/21 aos três clubes que desceram em 2017/18, apurou O JOGO junto da Premier League, que não se pronunciou sobre a forte contestação dos emblemas do Championship (II Liga) pela vantagem conferida pelos milhões em compensações a quem cai da liga de topo.
Desde o seu arranque, em 1992/93, que a liga inglesa paga uma compensação às equipas despromovidas para suavizar a quebra de receitas nos escalões inferiores.
As receitas da Premier League com os direitos televisivos caíram pela primeira vez na história - em mais de 500 milhões de euros - para o triénio 2019-22. A transmissão de 200 jogos por três operadoras (pela primeira vez haverá streaming, com a entrada da Amazon a romper o duopólio Sky Sports/BT Sport), renderá 5,414 mil milhões de euros (contra os 5,918 mil milhões encaixados em 2015/18). Os sete pacotes foram divididos pela Sky Sports (quatro, 128 jogos, 4,154 mil milhões de euros), BT Sport (dois, 52 jogos, 1,160 mil milhões) e Amazon (um pacote de 20 jogos, incluindo o Boxing Day, estimado em cerca de cem milhões), num total de 200 jogos (no acordo anterior, venderam-se 165).
Cada espectador terá de desembolsar 1122 euros para ver os 200 jogos através da televisão tradicional ou via streaming.