À boleia dos direitos televisivos, pretende reforma estatutária e que a Direção da Liga não seja condicionada pela vontade dos três grandes
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Júlio Mendes admite que a centralização dos direitos televisivos é um tema tão delicado como essencial ao crescimento do futebol português, sendo a única forma de nivelar a competitividade na modalidade. Horários de jogos e modelo da Taça da Liga também fazem parte do caderno de encargos.
Qual é a visão que tem sobre o processo de centralização dos direitos televisivos?
-A centralização dos direitos televisivos implicará a democratização do futebol português. Com esta nova realidade, deixa de fazer sentido que os votos dos clubes tenham pesos diferentes e que a Direção da Liga seja condicionada pela vontade dos denominados três grandes. Defendo uma reforma estatutária que altere isto.
Como pensa contribuir para a sua implementação a curto prazo?
-A centralização dos direitos televisivos trará a mudança de que futebol português precisa, porque induzirá aumento de competitividade e um aumento de receitas para todos. A nossa estratégia deve passar por uma fusão com o mercado brasileiro e acrescentar mais de 200 milhões de consumidores. Com o aumento da receita de direitos televisivos a nível internacional e o combate à pirataria, a par de outras receitas, poderemos construir um mecanismo de 20 a 30 milhões de euros para atenuar o impacto nos clubes do topo da tabela envolvidos nas competições europeias.
Que outras receitas, por exemplo?
-Várias. A negociação centralizada de direitos comerciais ou, por exemplo, as bebidas de baixo teor alcoólico, o que pode trazer cerca de 10 milhões de euros anuais em receita adicional para os clubes. Temos de reduzir custos de contexto para poder reter talento e aumentar a competitividade através da centralização, para que os clubes estejam menos dependentes das vendas prematuras de jogadores.
A ideia de devolver o futebol à família com jogos às 15 horas é um cenário que tem pernas para andar?
- Eu continuo a afirmar que o cerne do futebol não é o negócio. São os adeptos e o desporto. Mas os aspetos financeiros não podem ser negligenciados para garantir a sustentabilidade dos clubes. Temos de encontrar um equilíbrio, que é sempre difícil, e seguir os bons exemplos de outras ligas. Não seremos capazes de ter sucesso na internacionalização do nosso produto com estádios vazios e em mau estado.
O contrato de patrocínio da Taça da Liga está a terminar e há quem garanta que a competição poderá não ter condições de continuar. Pensa em mantê-la?
- Isso dependerá da vontade dos clubes. Eu acho que o modelo atual não corresponde à vontade e aos interesses da grande maioria dos clubes. Talvez faça sentido rever o regulamento da competição, também numa lógica de reformulação dos quadros competitivos. Procurar um modelo mais competitivo, com menos jogos no campeonato, que vá de encontro às necessidades dos clubes que jogam competições europeias.
A internacionalização da Taça da Liga é exequível?
- Tenho algumas dúvidas, sobretudo porque, para ser coerente com o que disse atrás, vejo o futebol com o adepto no centro. Julgo que jogar uma final da Taça da Liga noutro país distante não corresponderá ao desejo da maioria dos adeptos.