FPF e Conselho de Arbitragem conheciam anomalias do CA anterior bem antes dos emails e tinham alguns nomes sublinhados a vermelho. Júlio Loureiro demitiu-se deixou de ser observador de árbitros na terça-feira.
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O observador de árbitros Júlio Loureiro pediu na terça-feira escusa de funções ao Conselho de Arbitragem da FPF, que já o despromovera à segunda categoria. Envolvido no caso dos emails por ter enviado a Paulo Gonçalves dados confidenciais de um processo relacionado com Rui Vitória, o funcionário judicial do Tribunal de Fafe foi uma das irregularidades detetadas pela equipa de José Fontelas Gomes antes ainda do início do seu mandato. A outra chama-se Ferreira Nunes, vice-presidente de Vítor Pereira e dono e senhor da pasta das classificações, que tanto o CA como a Polícia Judiciária consideram fundamental para perceber como funcionava o alegado condicionamento e seleção dos árbitros.
Pode estar aí, nas classificações entregues pelo presidente da FPF aos investigadores, em julho de 2017, a implicação mais grave a nível futebolístico de todo o vendaval que se abateu sobre o Benfica. Tanto a Federação como José Fontelas Gomes tinham suspeitas de anomalias no processo de apuramento das notas de cada árbitro e havia alguns nomes sublinhados a vermelho. O primeiro deles todos era o de Ferreira Nunes, uma escolha pessoal de Vítor Pereira para o CA que também consta dos emails. A correspondência trocada prova que o Benfica, através de Paulo Gonçalves, apoiava a candidatura do ex-vice-presidente do CA à Associação de Futebol de Coimbra e há a suspeita de que um parecer jurídico utilizado nessa corrida eleitoral tenha mesmo sido pago pelo clube da Luz. Para além disso, O JOGO avançou depois que, sob o mesmo pseudónimo utilizado nas conversas com Paulo Gonçalves, Ferreira Nunes enviava emails desestabilizadores aos árbitros. Mas como se operava o eventual condicionamento? Elementos do anterior Conselho de Arbitragem, eleito sob o método de Hondt (que mistura elementos de listas concorrentes no mesmo órgão), pensam ter reconhecido um padrão, baseado nos recursos que iam sendo levantados pelos árbitros às notas menos boas que lhes eram dadas. Esse método, que está a ser verificado pela PJ, acabaria por entregar, na prática, ao próprio Ferreira Nunes a capacidade de atribuir melhores ou piores classificações e, em consequência, manter ou excluir árbitros da primeira categoria. O caso mais notório foi o de Marco Ferreira, cuja despromoção vários especialistas em arbitragem receberam com perplexidade, incluindo Vítor Pereira, então presidente do CA, que o nomeou para a final da Taça de Portugal. Acrescente-se que esta influência era conhecida nos bastidores, de forma eventualmente até propositada.
Ninguém na arbitragem acredita, ou assume acreditar, em corrupção de árbitros, mas reconhecem a existência de condicionamentos a partir do momento em que fica subentendido contra quem fica mais caro errar. Para além de Ferreira Nunes, outros dois nomes estavam sublinhados à partida, antes ainda das últimas eleições para a FPF: o do árbitro Jorge Ferreira, despromovido no final da primeira época com o novo CA, e o de Júlio Loureiro, cujo benfiquismo e falta de isenção eram considerados notórios. Jorge Ferreira e Júlio Loureiro são ambos de Fafe. Uma das linhas de investigação que estão a ser seguidas pelo Departamento de Investigação e Ação Penal de Lisboa é o eventual apoio, jurídico e não só, que o Benfica terá prestado a Jorge Ferreira, quando este recorreu da despromoção à segunda categoria no último verão.