ENTREVISTA, PARTE II - José Tavares reconhece que os títulos fugiram, mas lembra que os dragões estiveram nas decisões
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Desde 2018/19 que o FC Porto não vence um campeonato na formação. O motivo, segundo José Tavares, é complexo. Mas a qualidade do trabalho neste departamento não se mede apenas por aí.
Como explica que um clube que gera talento esteja tanto tempo sem um título na formação?
—A resposta é extremamente complexa, porque, quem ganha títulos, normalmente, são as equipas dotadas de maior volume de talento ou de jogadores que possam ter rendimento a um determinado nível. O FC Porto tem uma cultura e uma mentalidade vencedora. Faz parte do nosso ADN e os nossos jovens, desde tenra idade, são ensinados e educados nessa mística e caráter. No entanto, a questão da vitória num campeonato será quase sempre decidida por detalhes. O FC Porto continua a lutar pelos títulos a todos os níveis. Ainda este ano tivemos as cinco equipas dos campeonatos nacionais a disputar as fases de campeão. No entanto, muitas vezes, só quem está próximo e quem acompanha é que percebe que por vezes é um jogo que tira as equipas do título, uma infelicidade num ou noutro momento... O sucesso de um departamento de formação não pode ser visto pela quantidade de títulos que tem, mas pelas condições que vai proporcionando aos jovens para se desenvolverem. O nível competitivo da formação em Portugal está altíssimo, com equipas bem preparadas, em que o investimento no passado e ainda hoje é fortíssimo a todos os níveis, não só de instalações, como também no recrutamento e no desenvolvimento.
Como é que o FC Porto contraria isso?
—O FC Porto, como foi público, não acompanhou tanto essas equipas e agora, volta e meia, também tem algumas dificuldades em apresentar níveis superiores, mas, mais uma vez, entra o lado da cultura. Não é com essa aparente dificuldade que não consegue competir olho no olho com os adversários e tantas vezes também ganhar. Nesta seleção estão representados cinco clubes com quantidades de jogadores diferentes e, por exemplo, um dos grandes tem apenas um jogador que não foi utilizado. Relembro que o FC Porto já tem no seu historial três fases finais da Youth League, foi o primeiro clube português a vencer o troféu e continua a produzir talento para a equipa A, como o nosso Rodrigo Mora, que foi um dos últimos a chegar. Mas a geração de 1999, por exemplo, produziu bastante. Tivemos agora o Vitinha, que está no topo mundial e que vem desde tenra idade da nossa formação. Ou seja, o FC Porto continua a ter talento, vai continuar a desenvolvê-lo e, com toda a certeza, a competir no máximo das suas capacidades, tendo consciência da realidade. Ser campeão faz parte do desenvolvimento. Não o sendo, são outro tipo de aprendizagens que os jovens têm. Agora, gostamos muito de desafiar esta cultura vencedora, esta mentalidade de campeão que queremos que todos tenham e que, fundamentalmente, estejam preparados para, na equipa principal, dar isto também aos nossos sócios.