José Pedro Pereira da Costa, CFO da lista de Villas-Boas: "Considero urgente a mudança no FC Porto"
Declarações de José Pedro Pereira da Costa, CFO da lista de André Villas-Boas, que concorre à presidência do FC Porto
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Sobre o convite: "É com grande prazer e sentido de responsabilidade que aqui me encontro. Tentarei cumprir três objetivos: apresentar-me, depois enunciar as razões que me levaram a aceitar o convite e, finalmente, relembrar e detalhar as grandes linhas do programa eleitoral"
Sócio desde 1971: "Sou portuense, sócio do FC Porto desde 1971, número 3978, tive a felicidade de ser inscrito pelo meu avó e foi com ele que passei a frequentar as Antas. As minhas primeiras recordações de infância estão ligadas ao FC Porto. Na infância o momento alto da semana era o meu avó ir buscar-me para ver os jogos nas Antas. Lembro-me de ter chorado a morte de um dos grandes mitos do FC Porto, recordo-me do perfume futebolístico de Cubillas e dos meus tios me contarem as maravilhas do Dayle Dover no basquetebol. Mais tarde, por força do percurso profissional do meu pai, sócio 178, seis vezes campeão em andebol no clube, fui viver para Lisboa. Acompanhei sempre os jogos lá. Eram tempos em que era difícil, ser portista, dificilmente ganhávamos jogos, mesmo contra o Atlético, Estoril ou Setúbal. Vivi com muita intensidade o primeiro titulo após os 19 anos, ouvindo o relato pela rádio, uma equipa brilhantemente orientada pelo eterno mestre Pedroto, a quem presto a minha homenagem. Os momentos mais marcantes da minha vida de portista foram as finais europeias. Em Viena, as Intercontinentais em Tóquio que acompanhei pela televisão, e depois tendo o privilégio de assistir ao vivo com as históricas finais de Sevilha, Gelsenkirchen e Dublin. Curiosamente, algumas das maiores alegrias 'in loco' têm a marca de água do André: a final da Liga Europa em Dublin, os 5-0 a um dos nossos rivais no Dragão,a celebração do titulo no estádio do mesmo rival e às escuras e ainda nessa época, a menos mediática, mas também épica remontada na meia final da Taça no mesmo estádio. Obrigado André, essa época foi mesmo inesquecível."
A razão para aceitar o convite: "Importa referir as razões que me levaram a aceitar o convite. Subscrevo a 100 por cento todas as razões apresentadas pelo André por considerar urgente a mudança no FC Porto. Visão, rigor, planeamento, disciplina, profissionalismo, competência, sustentabilidade, ética formam algumas das linhas de força do programa do André. Considero que o FC Porto precisa de se renovar e entrar numa nova fase de gestão financeira. O André apresentou-me há alguns meses o seu projeto e convidou-me. No início fiquei surpreso por não ter uma ligação conhecida ao clube, mas não podia ficar indiferente a este apelo para ajudar a transformar o meu clube que tantas alegrias me deu. A minha família apoiou-me desde o primeiro momento. Da surpresa passei ao sim incondicional, aceitando o convite. Partilhámos ideias e conhecimentos que reforçaram a convicção de ter tomada a decisão certa
Estou convencido que o André é o candidato ideal para presidente do FC Porto. Em termos de motivação, energia, portismo, capacidade comunicação, seriedade e, sobretudo, capacidade de liderança e competência. Acrescento ainda que conhece como poucos a indústria do futebol e o FC Porto por dentro e por fora. As ideias para gestão desportiva estão alinhadas com as melhores práticas. Finalmente, porque tenho a certeza de que quer o melhor para o nosso FC Porto. Vai dar o máximo para continuar a trajetória de sucesso desportivo, continuando a vencer no plano nacional reforçando estatuto internacional, mas juntando a isso os valores como a ética e a sustentabilidade financeira, essenciais para manter o FC Porto com a matriz associativa que hoje tem, com forte ligação à cidade. "
Principais eixos da vertente financeira: "Primeiro lugar, é essencial fazer uma análise rigorosa das razões que levaram ao atual estado financeiro que podemos classificar de muito preocupante com resultados líquidos acumulados de 250 milhões de euros negativos em dez anos. São cerca de 25 M€ negativos por ano em média, que levaram a um passivo de 530 M€ e a uma dívida financeira de 310 M€. Antes de avançar com qualquer processo de reestruturação é preciso ter resposta a várias questões, levantadas apenas e só com base nos relatórios e contas da SAD e dos rivais."
As perguntas: Porque é que no FC Porto fizemos vendas de passes de 430 M€ em seis anos, mas só foram registados resultados dessas vendas de cerca de 30 M€, ou seja 7 % do valor depois de abatidos os custos associados, as amortizações e as imparidades? Deixo para referência os números conseguidos pelos nossos principais rivais que nos fazem pensar: um fez vendas no mesmo período de 570 M€ gerando resultados de 200 M€, ou seja 35%; o outro realizou vendas de 400 M€, próximo do nosso, mas com resultados de 170 M€, ou seja 43%. Segunda pergunta, porque é que no no ultimo exercício a venda de bilhetes jogo a jogo e lugares anuais, e excluo aqui o “corporate hospitality, camarotes e business seats, foram de apenas 10,8M€?. Os principais rivais tiveram 19,8 M€ e com 13,6 M€. O rival com menor valor conseguiu 13,6 M€, teve uma assistência média na Liga, na última época, de 30 por cento inferior ao FC Porto. Porque é que o FC Porto com receitas de merchandising que correspondem, basicamente, aos equipamentos, com receitas de de 8/9M€ por ano, similares a um dos nossos rivais, porque é que tem 2M€ de custos das mercadorias vendidas a mais do que os rivais? Porque é que nossa margem nessa atividade é de 35 por cento quando nesse rival é perto de 60 %? Quarta pergunta. Em que consistem as despesas de representação de mais de 1,4 M€ por ano? Nos últimos quatro exercícios foram pagos 5,4 M€. Valores que acrescem aos salários e prémios. Já agora refiro que há seis anos na SAD pagavam-se por ano 500 mil euros em despesas de representação. Em seis anos, foi aumentando 1 M€ nessa rubrica. Finalmente, o que são 3M€ de outros fornecimentos externos que nunca são descriminados?"
Os passes: "Diria que a estrutura de custos atual e com as receitas atuais, em termos operacionais, excluindo as vendas de passes, é ligeiramente negativa, tende para zero. Mas em território negativo com boas prestações nas provas europeias, com essas boas receitas Acontece que abaixo disto temos cerca de 20 M€ de encargos financeiros que decorrem da dívida financeira de 310 M€. Entrando depois na atividade da otimização dos ativos, temos amortizações anuais de passes de jogadores entre 30 a 40 M€ por ano. Temos um resultado operacional ligeiramente negativo, 20 M€ de encargos e 30 a 40 M€ de amortizações. O que significa que temos de gerar em mais valias com a venda de jogadores 50 a 60 M€ para equilibrar. Para gerar isso, temos de vender todos os anos 70 a 90 M€ em passes. Isto é um desafio muito grande e coloca questões na qualidade do plantel. Este é o retrato económico da nossa SAD com dependência grande das receitas da UEFA."
A realidade: "É importante conhecer esta realidade e esclarecer algumas das questões antes de avançar com um plano concreto de reestruturação. Numa primeira avaliação parece que existem muitas oportunidades de melhoraria de rentabilidade sem comprometer em nada a qualidade e investimento da equipa. Como tal as linhas estratégicas do programa vão passar por um modelo operacional muito mais rigoroso, mais leve, com forte disciplina financeira e orçamental. Terá de passar pelo controlo e racionalização de custos, identificando com os principais parceiros e fornecedores todas as oportunidades de renegociação de contratos das dívidas. Passará também por uma transformação digital do clube que permita uma interação mais simples com os sócios e também dos processos. De forma a otimizar o cash flow, temos de lançar iniciativas que potenciem o aumento das receitas operacionais e da marca FC Porto. Temos algumas ideias concretas sobre isso. Sabemos que é possível fazer melhor na bilhética, merchandising, sponsorship e rentabilização do estádio Numa área crítica, temos de gerar resultados com a valorização dos ativos, temos de aumentar fortemente os resultados desta atividade. Isto passa por aposta grande na formação, planeamento rigoroso a curto médio e longo prazo do reforço das competência do scouting e redução dos custos de transação dos jogadores, quer na compra quer na venda. Conseguir uma atividade operacional equilibrada e positiva é fundamental para inverter a trajetória do aumento do passivo e da dívida financeira, que são críticos para garantir a sustentabilidade do clube a prazo Só assim será possível iniciar um percurso de redução da dívida e consequentemente do peso do encargos financeiros. Na dívida financeira, propomo-nos procurar restabelecer a credibilidade que o clube merece junto dos principais parceiros financeiros, diversificar fontes de financiamento, alongar maturidades para médio prazo e prazos mais longos da dívida para aliviar a tesouraria."
Conclusão: "Para concluir, queremos implementar uma governança reforçada com transparecia. compliance e ética como pilares. E com uma administração mais ligeira em custos. Trata-se de um plano que, na vertente financeira, a,ambiciona que o FC Porto continue a vencer mas com a sustentabilidade financeira que permita que o clube se mantenha de todos os sócios e para servir todos os sócios."