Declarações de António Sousa na sede de campanha de André Villas-Boas, candidato à presidência do FC Porto, durante a tertúlia "Conversas à moda do Porto”
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O que foi mais difícil? O Bayern ou tirar a taça ao João Pinto? "No final de tudo isto seremos todos felizes, acredito. Parece-me que foi mais difícil ganhar ao Bayern do que tirar o 'caneco' ao João Pinto. Esse já estava do nosso lado. Fomos preencher uma página que ainda não estava escrita no FC Porto. O apito final do árbitro é o que me vem à cabeça. Estava perto dele e não me esqueço daquela imagem."
Ajax de Cruyff na Supertaça Europeia: "Sabíamos que o Ajax era fortíssimo, ganhámos os dois, quer na Holanda, quer nas Antas. Tínhamos consciência do poderio do Ajax na qualidade do jogo e a nível individual. Tivemos uma presença forte em termos de mentalidade. Tínhamos um grupo fortíssimo, acreditámos sempre que podíamos chegar à vitória, apesar de sentirmos que o adversário era mais forte por isto ou por aquilo. Não tenho dúvidas: em termos táticos fomos sempre superiores ao Ajax, não conseguiram superar-nos. Foi mais um grande troféu e título conseguido com grande prazer."
Taça Intercontinental na neve: "Foi dos jogos mais difíceis para todos nós. Quem está duas horas num pantanal, sem a bola rolar... Era impensável nos tempos de hoje uma coisa daquelas acontecer. A organização queria despachar toda a gente. Foi mais um troféu extremamente importante na história do FC Porto. Mais uma vez, naturalmente, ficámos todos orgulhosos e felizes pelo feito. Aquilo de que me recordo, principalmente desse jogo, foi o passe, que não foi... Eu chutei a bola foi para a frente [risos]. A bola foi parar ao Madjer. Eu chutei a bola para a frente, não foi um passe. Ali não dava para fazer passes, o terreno não o permitia."
Não foram formados no FC Porto, mas fizeram história: "Tínhamos um grupo de amigos e colegas que iam abrir a porta e receber-nos de braços abertos. Eu cheguei ao FC Porto am 79/80, pelas mãos de Pedroto, tinha 21 anos. Estive três meses à espera de conseguir ser titular. A partir daí, agarrei e tive sempre apoio por parte do balneário, que era das melhores coisas que havia no clube. Não havia inimigos, havia sempre vontade de acrescentar e ajudar o colega em situações mais delicadas. Trabalhávamos com vontade enorme de querer vencer cada obstáculo. Era a mística do FC Porto, criada por um homem que fez muito pelo FC Porto."
Do Beira-Mar para o FC Porto e legado de família: "Nunca aconselhei o meu filho e o meu neto a serem jogadores. Isso nasce naturalmente. A vida tem destas coisas, os genes estão lá. Talvez seja por isso que haja o seguimento na família. Vejo muitas diferenças em relação ao nosso tempo. Hoje há espaços para treinar, campos, ginásios, as pessoas são mais cultas... Se calhar não estou no ativo hoje porque não segui as pisadas de José Maria Pedroto, que sabia andar 20 anos à frente de todos os outros. Ele tinha a noção de que as coisas iriam mudar de uma forma que tinha de acontecer, se queríamos vencer e triunfar na vida. Nós sentíamo-nos felizes pela forma de explicar e trabalhar dele. Uma pessoa calma, tranquila, que nos deu a possibilidade de acrescentar muito mais."
Conselho aos jovens: "Ouçam os adultos, que têm conhecimento da causa, e tentem captar algumas das coisas que os mais velhos conseguem transmitir. Eu não ouvi muito do que me transmitiram ao longo da vida e se calhar arrependo-me."