Jorge Sousa despede-se da arbitragem: "Sentimento de dever cumprido, mas temos de saber sair"
O árbitro da AF Porto despediu-se este sábado dos relvados.
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Fim da carreira: "Não tenho aquela verdadeira noção que acabou. Quando estamos tão concentrados naquilo que é o jogo e as nossas tarefas, chegamos a um ponto que abstemos de tudo. Em momento algum me passou pela cabeça que era o último momento. Só agora, estando aqui é que estou a perceber que há algo de diferente".
Com uma época tão boa não sente que poderia continuar?: "Não. As coisas são feitas de forma ponderadas. Nada foi feito ao acaso, de ânimo leve. Esta situação foi ponderada. Temos de pensar na nossa carreira e nas condições que temos para oferecer ao futebol e à nossa profissão. Em algumas coisas sinto que já não posso oferecer ao jogo aquilo que o jogo precisa e é preciso ter coragem de assumir. Temos jovens na retaguarda que serão o futuro. Neste momento, eu digo que é o momento certo para terminar. Esta época foi boa, muitos jogos exigentes e acho que acabo a temporada com a consciência que fiz uma boa época. Mas também já amanhã vamos ter o início da nova época, temos pouco tempo de férias, e sinto que as forças já não são as mesmas. E se sinto que na próxima época não posso oferecer aquilo que preciso, tenho de ter coragem. Atingi uma carreira que eu jamais pensei alcançar. Tenho o sentimento de dever cumprido e também temos de saber sair. Acho que este é o momento certo".
Continuar ligado ao futebol: "Não sei. Nunca pensei nisso. Eu sempre pensei naquilo que é o meu trabalho, que é ser árbitro e até ao apito final, há um bocado, o meu foco foi apenas o meu trabalho, que é ser árbitro. O que vier a seguir nunca me passou pela cabeça. Trabalho como árbitro, a arbitragem é a minha preocupação, o futuro logo se vê. Se me pergunta diretamente se gostaria de continuar ligado ao futebol, claro que sim. Ninguém consegue desligar completamente e amanhã só porque já não sou árbitro não vou dizer 'acabou'. O que foi arbitrar fica por aqui".
Visão do futebol: "Quando chego à primeira categoria o futebol era completamente diferente do que é hoje. Redes sociais ninguém sabia o que era, departamentos de comunicação nem existam. Hoje o nosso trabalho é muito mais esmiuçado. Acredito que antigamente os árbitros eram muito melhores porque hoje em dia é tudo visto ao detalhe. Hoje está-se a passar uma ideia errada para os adeptos e para os telespectadores porque os árbitros só têm um ângulo de visão. É que da perspetiva da televisão, com as repetições e vários ângulos, parece fácil, mas o problema é que na realidade e na prática, não é assim. Nós temos frações de segundos para decidir. Houve uma evolução muito grande daquilo que é o jogo e nós tentamos acompanhar essa evolução, mas agora é mais desgastante. O desgaste e a exposição é muito maior".