Jorge Costa, entrevistado pelo Porto Canal esta quinta-feira, recorda os primeiros tempos no futebol e no futebol, Costa Soares e um ídolo que não era sequer defesa
Corpo do artigo
Os primeiros passos no Foz: "Já lá vão muitos anos. O futebol sempre esteve dentro de mim. Ia para a escola e levava a bola debaixo do braço, jogava futebol de cinco e de sete no bairro. Aos 14 anos, por influência do senhor Amadeu, fui treinar ao Foz. Era juvenil de primeiro ano, fiz um treino e pediram-me logo o Bilhete de Identidade para me inscreverem
Central e avançado: "Era central, era ponta de lança e jogava com o número 10. Nesse ano jogámos por três vezes com o FC Porto e no final do ano tinha propostas do FC Porto, Leixões e Boavista. Fui com o meu pai falar com o presidente do Foz que, por razões escolares, disse que o melhor para mim era o Leixões ou o Boavista. Felizmente que a meio da conversa o meu pai virou-se para mim e perguntou o que queria eu. 'Não há dúvidas, Porto', disse. No FC Porto, com Costa Soares, jogava também como central e ponta de lança. Havia jogos que vencíamos por 15-0, 16-0 e estava lá atrás sem fazer nada. Nesses jogos o Costa Soares metia-me como ponta de lança. A diferença de tamanho era descomunal e marcava golos atrás de golos."
Falhar o treino e o cabelo: "Lembro-me que no Foz havia treinos à terça e à quinta e o primeiro da semana era físico. Nunca gostei desses treinos. No FC Porto pensava que podia fazer o mesmo e faltar a treinos. Um dia, é certo, falhei um treino do FC Porto, não sei bem porquê. Talvez estivesse na Foz e tivesse de apanhar o 78 até às Antas, não sei. No dia seguinte o Costa Soares perguntou-me porque faltei ao treino e esse foi o primeiro choque da mudança do Foz para o FC Porto. A história do cabelo é outra. Tinha um corte à 'rockabilly' e o Costa Soares perguntava-me sempre se eu tinha vindo com a cabeça de fora da janela do elétrico desde a Foz. Costa Soares era um ser excecional, muito profissional e um apaixonado pela formação"
Ídolos e exemplos: "Nunca fui muito aquele jogador de olhar para outros e tentar fazer igual. Lembro-me de ir às Antas para ver o Madjer, um jogador diferente do que eu era mas que me enchia as medidas. Eu era portista, jogador do FC Porto e adepto de bancada, por isso o Madjer era o meu ídolo"
A estreia nos seniores do FC Porto: "Era o rapaz das chamuças, que era uma das praxes. Nunca mais me esquecerei do João Pinto a dizer 'miúdo vai buscar as chamuças'. E lá fui buscar as chamuças à Primazia antes de irmos para estágio. Fui levantar a encomenda, apanhei trânsito e cheguei atrasado às Antas, já todos estavam dentro do autocarro. E eu a pensar o que fazer, as chamuças deixavam cheiro, os treinadores iam perceber... Mas, tinha de entrar no autocarro, estavam lá o João Pinto, o André, o Jaime Magalhães os meus ídolos. Anos depois fui eu que passei a fazer isto e sempre com chamuças. Como treinador sei hoje que isto faz mal, mas criava espírito de grupo