"Jogo em Marselha foi catastrófico, mas os três anteriores na Champions foram muito bons"
De saída do Sporting, o guarda-redes Adán deu uma última entrevista à Sporting TV, despedindo-se do clube e dos adeptos
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A conquista de 2020/21 estava escrita nas estrelas? "Eu acho que, como disse antes, desde o princípio notávamos algo especial. No balneário, vitória após vitória, chegava a momentos em que a equipa também tinha dificuldades em conseguir essas vitórias, e sempre aparecia alguém no último minuto para nos dar esse golo da vitória. Fomos acreditando que era possível. Eu lembro-me de ir ao Porto e estávamos com sete, oito pontos de distância. Eu disse aos meus colegas que era impossível que alguém nos tirasse oito pontos de distância. Isso não se pode escapar das mãos. E foi assim. Foi especial, porque não tínhamos adeptos nas bancadas, mais no último dia, ir ao Marquês, e mesmo com a Covid, estava toda a gente na rua. Foi espetacular aquela imagem. Na Avenida da Liberdade, olhava para baixo e não conseguia ver nada mais do que verde. Aquele ano foi especial por tudo isso."
A confiança que Rúben Amorim transmitiu com a frase 'e se corre bem?': "Gerou uma vontade enorme em todos. E por que não, por que não tentar? Estamos aqui, somos 11 para 11, estamos a representar um clube enorme, estamos todos juntos nisso, e nos momentos mais difíceis. Eu lembro-me de ir para o Nacional, caiu uma chuva tremenda e não conseguimos jogar. Tivemos que esperar pelo dia seguinte para poder fazer aquele jogo e a união, e sobretudo que se vivia depois do jogo... Ganhas um e já só queres jogar o próximo e estávamos com a confiança de que ia ser assim."
Como foi a comunhão com os adeptos no dia do título em 2020/21? "Sim, eu lembro-me que eu estava muita gente que estava a ir para a rua. Obviamente, há colegas que já tinham vencido troféus com o Sporting e contram, mas eu tinha a sensação que não sabia o que ia ser. Passamos de um estádio vazio a uma rua cheia de pessoas de todos os lugares. Era inimaginável, porque naquele primeiro ano eu não tive a oportunidade de sentir os adeptos no estádio. Chegar ao Marquês e ver tudo verde, foi espetacular."
A conquista da Taça da Liga foi muito importante? "Durante o ano todo deu para perceber que éramos capazes de ganhar a qualquer um, e aquele título era alimentar mais a confiança de um grupo que estava a fazer as coisas muito bem, que estava cheio de confiança, como te digo, de vontade de ganhar títulos. E aquilo foi alimentar um processo para chegar a maio e conquistar aquilo que era o mais importante, o campeonato."
A época seguinte foi a confirmação de que o projeto continuava... "Sim, era a confirmação de uma nova época dentro do clube, de títulos, de vitórias, com aquela Supertaça, depois outra vez a Taça da Liga, e com um campeonato que chegou a ser muito bom. Estávamos na luta até o final, escapou-nos por pouco, e que confirmava aquilo que todos pensávamos, que este grupo estava a crescer pouco a pouco, que este grupo estava feito para lutar por títulos."
O plantel era uma mistura com experiência e juventude... "Foi a mistura desse balneário, de gente mais experiente como o Antunes, eu lembro-me muito dele, da experiência que ele mostrava dentro do balneário a todos os jovens, era uma coisa espetacular. No primeiro ano, ele conseguiu jogar bastante mais, no segundo, já a jogar menos, mostrava cada dia, em cada treino, o máximo. Eu acho que foi tudo, essa mistura de vontade deles, dos mais novos em que só lhes importava jogar a bola e ganhar jogos. Acho que eles não tinham a noção e a responsabilidade de ir para o próximo jogo e ganhar, ou ir a tal jogo e não poder falhar. Eles divertiam-se, tentavam marcar golos e dar-nos uma vitória. A responsabilidade já a colocávamos no resto."
Como é que soube, com a sua experiência, passar por cima dos momentos menos bons? "Eu acho que nenhum jogo, por muito importante que seja para tudo, é decisivo para a carreira continuar. É certo que aquele jogo em Marselha foi catastrófico, mas os três anteriores na Champions foram muito bons. Isso muda de um dia para o outro. A seguir, jogámos contra o Santa Clara e fui o homem do jogo. A experiência dá-te que não é um jogo em particular, se cometes um erro, ou estás mal, que vai mudar vai dar o futuro da tua carreira. O que acho que te ajuda a crescer cada dia é o trabalho, a consistência, cuidar-te, trabalhar todos os dias, e assim estás mais perto de que as coisas corram bem, apesar de que há dias em que correm mal."