Valdo, antigo médio, avisa para o peso da ida a Chaves após dois "acidentes de percurso importantíssimos".
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Atento ao momento do Benfica, clube pelo qual brilhou em duas passagens da sua carreira, Valdo não perde de vista a conquista do campeonato, mesmo depois de dois desaires consecutivos.
Porém, o antigo médio, agora com 59 anos, considera que as derrotas "não abalam", ou seja, não anulam por completo o que já foi feito, mas deixam marcas. E todos, sem exceção, têm de dar resposta. A começar em Chaves, onde um deslize alimentará dúvidas e deixará o título a balançar no arame.
Depois das derrotas com FC Porto e Inter, como tem o Benfica de encarar o jogo em Chaves?
-O Benfica tem de voltar às vitórias, num terreno que é muito complicado. O Chaves está a fazer uma boa época, tem uma equipa muito consistente e forte fisicamente. Acredito que o Benfica vai ter muitas dificuldades para arrancar os três pontos. Este vai ser o jogo mais importante da época. O Benfica sofreu agora duas derrotas, a primeira com o FC Porto quando todos esperavam que o Benfica mostrasse a sua força e o seu poderio. Não correu como era esperado. O FC Porto ganhou sem sombra de dúvidas, foi justo vencedor, não há o que contestar, foi muito superior ao Benfica. Depois veio o jogo da Liga dos Campeões, em que havia muita expectativa quanto ao que o Benfica poderia fazer contra um dos plantéis mais caros da atualidade. Com o Inter, o Benfica não esteve tão mal como com o FC Porto, mas não conseguiu sair da teia que um experiente Inter montou. E teve no seu capitão Brozovic o jogador chave. Não é o Inter dos alemães Matthaus, Brehme e Klinsmann, mas é uma boa equipa. Mas no meu entender estava ao alcance do Benfica.
Estas duas derrotas significam que a equipa está em quebra?
-Se é quebra ou não, não posso dizer, não estou lá dentro e não vejo o dia a dia. Mas a superioridade do FC Porto foi incontestável, foi superior ao Benfica em todos os sentidos, tecnicamente, fisicamente, taticamente. Foi um justo vencedor. O jogo com o Inter foi mais equilibrado, não vi o Inter ser completamente avassalador. Ainda que envolvendo o Benfica na teia, jogando com três defesas centrais, o que obrigava Aursnes a vir para o meio-campo, sinal que faltava um homem pelo lado esquerdo, sobretudo na zona defensiva. Foram envolvendo o Benfica. E as dinâmicas eram muito notórias, bola para um flanco e depois bola aérea para os avançados. Numa dessas jogadas, o Barella, o mais baixo, fez o 1-0. E depois o penálti deu o 2-0.
As duas derrotas mexem com os jogadores? Podem faze-los tremer de alguma forma?
-Não digo tremer, pois são bem grandinhos para tremer. Diria que psicologicamente não abala, mas afeta... O Benfica vinha de uma sequência maravilhosa, praticamente só com vitórias, e agora de repente sofreu dois acidentes de percurso importantíssimos.
O grande objetivo é ser campeão, têm de concentrar-se no jogo com o Chaves, vai ser o mais importante da época. O Benfica não pode nem pensar num deslize. Tudo vai ficar mais complicado.
Se o Benfica perder ou empatar esse jogo, podem aparecer fantasmas de épocas anteriores?
-Não são fantasmas, é mesmo a realidade. Se não vencer em Chaves e o FC Porto, por exemplo, ganhar, para quem teve dez pontos de vantagem fica com cinco. E ainda com seis jogos por fazer. A matemática é fria. E o FC Porto tem o calendário mais favorável em termos teóricos. O Benfica recebe o Braga e ainda tem o Sporting em Alvalade, a deslocação ao recinto do Gil Vicente... O calendário do Benfica não é pêra doce. Tem que sacudir a poeira, dar a volta por cima e arrancar uma vitória, a ferro e fogo, contra o Chaves, um desfecho que não vai ser fácil.
Coloca pressão mais no treinador ou nos jogadores?
-Pressão é para todos. Se um barco afundar é para todos. Ninguém se salva. Se um transatlântico afundar em alto mar raramente se salva alguém. Se há pressão é para todos. Aliás, não é pressão, é responsabilidade de todos, de Roger Schmidt e dos seus comandados. Ele coloca os jogadores em campo e se não responderem é um erro coletivo. Há que sentar e conversar, treinar e ver onde estão as coisas erradas.
O trabalho nesta semana será mais a nível mental ou tático?
-Não dá tempo. Houve jogo terça-feira, anteontem foi treino leve, ontem houve outro treino e hoje seguem viagem para jogar amanhã. Aqui se veem os verdadeiros campeões, nestas alturas. Mas ninguém desaprendeu de jogar. Um campeão tem de estar sempre preparado para estes momentos. Quando as coisas são fáceis todos te levam ao colo, há que estar é preparado para os momentos difíceis, aí dificilmente aparecerá alguém que te leve ao colo.