Luiz Alberto e Carlos Freitas, ex-jogadores do Freamunde, contaram a O JOGO como foram resistindo sem salários
Corpo do artigo
Nos quatro meses e meio que Luiz Alberto e Carlos Freitas trabalharam no Freamunde, a dupla de centrais, que rescindiu contrato com os capões, recebeu apenas o salário de agosto e, recentemente, 700 euros pagos pelo Fundo de Garantia do Sindicato. Foram, portanto, cerca de três meses sem um cêntimo no bolso e com as contas a amontoarem-se. Desde que, em 2005, chegou a Portugal, Luiz Alberto, 35 anos, nunca tinha passado por uma situação semelhante. É certo que, noutros clubes, chegou a ter ordenados em atraso, mas nunca nesta escala. Por isso teve de fazer uma "grande ginástica financeira," inesperada, e dependeu exclusivamente do salário da esposa. "Com o tempo aprendi a guardar algum dinheiro, mas tenho despesas fixas e nunca tinha ficado a dever um cêntimo a ninguém. Passei a contar o dinheiro e cheguei a atrasar a prestação do carro", revela o agora atleta do Trofense.
Com uma filha de nove meses, Luiz Alberto deixou de ter momentos de lazer para não faltar com as necessidades básicas em casa. "Tirámos de um lado para colocar noutro, de maneira a que nada faltasse. Nunca mais fomos jantar fora, nem sequer lanchar. Não havia hipótese", conta. "Chegava a casa sempre com o mesmo tipo de conversa, dizia que para a semana ia haver dinheiro, mas o dinheiro nunca chegou", relata.
Carlos Freitas, 23 anos, ainda mora com os pais em Guimarães. Por isso admite não ter passado uma situação tão delicada quanto a do ex-colega, mas a situação vivida em Freamunde fê-lo repensar o futuro no futebol. "Namoro há quase um ano e estava a tentar juntar-me, mas nesta situação era impensável fazê-lo. A minha namorada dizia para eu deixar o futebol. Isto fez-me pensar no futuro: ambiciono chegar a outro patamar, mas estou a pensar arranjar outro trabalho e continuar a jogar", explica o agora jogador do Pedras Salgadas.
A remuneração que o defesa recebia em Freamunde chegaria para pagar as suas despesas, mas, sem receber, deixou de ter meios para se deslocar. "A minha sorte é que os meus pais me davam dinheiro para ir treinar. Quando saía com a minha namorada, era ela que pagava", recorda. O vencimento adiantado pelo sindicato dará para a dupla passar um Natal mais descansado, enquanto esperam que chegue ao dia de receber o salário nos novos clubes.