Artigo de opinião do presidente do Sindicato dos Jogadores
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Ponderei durante alguns dias sobre se deveria responder publicamente a Jorge Coroado, que me apelidou de hipócrita e criticou, ferozmente e com o azedume habitual, a mensagem pessoal que dirigi a Pepe, após conhecer a sua decisão de terminar a carreira. Ponto prévio, disciplina não significa apenas o cumprimento das regras de jogo. Bem sei que um ex-árbitro poderá ter a visão afunilada por esse universo, mas há mais significados na palavra para além desse. Mantenho, Pepe é um exemplo de disciplina: técnica, tática, física e mental, de outra forma não faria a carreira que fez e chegaria aos 41 anos ao mais alto nível, a ser titular da seleção nacional num Campeonato da Europa!
Um tremendo profissional a quem faço, novamente, a minha vénia. Por outro lado, talvez importasse a Jorge Coroado compreender que as minhas palavras podem ter subjacentes outras vivências com Pepe, das quais guardo o enorme respeito, apoio e defesa dos colegas de profissão, como sucedeu no período da pandemia. Sim, foi preciso muita disciplina e resiliência mental para enfrentar aquele período, em concreto.
Pepe cometeu excessos, foi sancionado no plano desportivo quando os cometeu, não é um santo, assim como ninguém o é. Admito que existem outros que, do ponto de vista dessa disciplina apregoada por Jorge Coroado foram mais bem-comportados. Mas porque diabo haveria de enaltecer os erros deste jogador em concreto numa mensagem pessoal de final de carreira? Em vez da crítica gratuita e julgamento de caráter típico do mais puro ressabiamento, com foco no passado, prefiro olhar para o futuro e criar condições para valorizar aquilo que os protagonistas como Pepe podem, ainda, trazer ao futebol. É nisso que acredito. Valorizar, capacitar e ajudar os protagonistas a serem cada vez melhores.
O futuro é deles e não dos velhos do Restelo que teimam em não saber sair de cena com dignidade, destratando com arrogância tudo e todos, sem consciência da sua própria irrelevância. Apesar deste reparo ir cair, provavelmente, em saco roto, deixo-o em defesa do Pepe e de todos os jogadores que, como ele, ajudaram a escrever as páginas mais bonitas do futebol em Portugal.