João Neves do Benfica à Seleção: pai polícia, mãe professora e a história das garrafas do Powerade
Reportagem publicada a 26 de março de 2023 revela mais sobre João Neves, então um jovem médio a surpreender tudo e todos com a camisola do Benfica
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A 26 de março de 2023, O JOGO foi à procura de saber mais sobre João Neves, então motivado peça surpresa de ser titular no Benfica. Especialmente, pela aposta de Roger Schmidt num jovem de 18 anos para refrescar um onze em que pouco tinha sido mexido.
A exibição segura e competente de João Neves demonstrou que o médio encarnado podia ser uma solução para o técnico, que lhe deixou vários elogios, na fase final da época. E quem o conhece desde pequeno garante que Schmidt tem em João Neves um jogador pronto para tudo.
Sempre ligado ao clube, João Neves começou no Algarve, primeiro na Casa do Benfica de Tavira, a sua terra natal, e depois esteve quatro temporadas no Centro de Formação e Treino do Benfica, em Albufeira. Foi durante esta altura que se cruzou com Manuel Ramos, antigo internacional jovem português e também pai de Gonçalo Ramos, que o orientou. A O JOGO, elogia o foco do médio, mas acima de tudo, o espírito de sacrifício pela equipa: "Sempre foi um miúdo muito responsável, muito focado no objetivo que era ser jogador de futebol, muito trabalhador e empenhado. Era, e continua a ser, pelo que é possível ver, um jogador com orientação para o coletivo: para ele, a equipa está acima de tudo e tudo o que o treinador lhe pedir para fazer, ele faz".
Para além disso, Manuel Ramos vê características em João Neves que o fazem lembrar... o próprio filho: "É abnegado, tem raça e nunca dá uma bola por perdida, nesse aspeto pode dizer-se que tem semelhanças com o meu filho. Sempre teve também qualidade técnica, mas as principais características dele eram sempre relacionadas com o trabalho e o compromisso para com a equipa", continua, sublinhando ainda o suporte familiar que permitiu ao jovem jogador crescer: "É muito humilde, sempre teve os pés bem assentes no chão e nunca se deslumbrou com nada. O contexto familiar também o ajudou nesse aspeto, os pais sempre tiveram essa postura e ele nunca se desviou do caminho que pretendia".
O caminho passa, como admitiu o próprio médio, por "chegar o mais longe possível no mundo do futebol". "Quero ganhar troféus coletivos, o mais importante para mim, com o Benfica", disse o camisola 87 em entrevista à BPlay.
O dia em que temeu ser expulso do Seixal
Quando se mudou do Algarve para Lisboa, Neves passou a viver no Benfica Campus, no Seixal. Foi lá que Pedro Santos, colega desde os iniciados e agora jogador do V. Setúbal, se cruzou com o médio. O sadino recorda a O JOGO o dia em que pensaram que iam ser expulsos do centro da formação. "Foi por causa de umas Powerades. Quando éramos apanha-bolas nos jogos da equipa B davam-nos algumas, mas eram poucas. E, por isso, andámos a ver onde é que guardavam as bebidas. Um dia, vimos onde era e tentámos ir lá. A porta estava trancada, então o Neves fez pé de ladrão e passou outro lá para dentro. Quando entrámos, havia garrafas do chão ao teto, enchemos as mochilas e começámos a fugir. Um segurança ainda nos chamou, mas fugimos. Passámos a beber aquilo sempre, antes da escola, depois... Só que eles descobriram-nos pelas câmaras de vigilância", conta, confessando o receio do pequeno grupo quando foi confrontado com o "feito". "Chamaram-nos para uma reunião com o Nuno Gomes, que na altura o diretor. Ficámos desesperados, pensávamos que íamos ser dispensados ou castigados... Acabámos por ficar uns dias sem poder ir ver o Benfica ao Estádio da Luz", atira, recordando o algarvio como "um jogador simples, que joga sempre para a equipa".
O apoio da família até nos 70 km para treinar
Com um pai polícia e uma mãe professora de educação física, a disciplina e o sentido de responsabilidade estiveram sempre presentes. Um dos principais focos da família passou, desde cedo, por garantir que o pequeno algarvio não se deslumbrava com as conquistas que ia tendo. Uma atitude que ainda mantém hoje em dia. É sobre este forte apoio familiar que nos falou Joaquim Soares, presidente da Casa do Benfica de Tavira, que se lembra dos primeiros passos do médio: "Ele começou por volta dos seis, sete anos, era ainda pequenino. Lembro-me de ver os miúdos a treinarem e de ele estar lá, pequenino, e já na altura mostrava qualidade e inteligência, pela forma como estava no campo. Os pais são muito presentes e estiveram com ele em todos os momentos."
Joaquim recorda um "miúdo calmo e humilde" com muita vontade de jogar à bola. "Lembro-me de o pai me contar que ele voltava para Tavira, depois dos treinos no Centro de Formação, nas Ferreiras, sempre cansado. Assim que entrava no carro deixava-se dormir, vinha a dormir o caminho todo. São ainda uns 70 quilómetros de distância. Fazia este caminho para ir treinar, mas fazia tudo por gosto ao futebol", conta.
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