João Mendes, da saída de Rui Borges ao que o tira do sério: "Estarmos a levar ‘chocolate’..."
ENTREVISTA, PARTE I >> Médio bombardeiro terminou contrato com o Vitória e procura um novo desafio aos 30 anos. Apesar de o objetivo europeu ter falhado, faz balanço positivo
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Fiz aqui muita praia em miúdo”. À hora marcada para a entrevista, João Mendes chega a Angeiras, de onde é natural, com a calma que o caracteriza. No final de uma temporada de altos e baixos do Vitória, clube com o qual terminou a ligação, o médio recorda o pior, o melhor e partilha o que espera do futuro, garantindo que ainda tem muito para dar ao futebol.
Após duas temporadas em Guimarães, a segunda com os melhores números da carreira, o camisola 17 diz estar “tranquilo” em relação às opções de futuro e está a ponderar o passo seguinte.
Os seus golos voltaram a destacar-se pela qualidade e um deles até lhe valeu a nomeação para o melhor da época. Tem alguma coisa contra os golos fáceis?
—[Risos] Eu não! Só contam um, por isso, por mim, é de qualquer maneira. Mas pronto, às vezes acontece assim.
No jogo contra o Rio Ave, quando recebeu a bola de tão longe, pensou logo em rematar? Tem arriscado mais?
—Se calhar arrisco, sim. No entanto, são momentos muito instintivos. Nem sei explicar bem. Olho para a baliza e só penso em chutar. São momentos de inspiração. Quando a bola saiu do pé, senti mesmo que ela poderia entrar.
Apesar da boa época a nível individual, o Vitória não conseguiu garantir as competições europeias. Isso fez com que a temporada fosse má?
—É óbvio que falhámos o objetivo das competições europeias. No entanto, tivemos uma época com mais de 50 jogos, fizemos uma Liga Conferência extraordinária e um campeonato em que chegámos a estar a oito pontos do quinto lugar e conseguimos recuperar. Claro que não conseguimos o quinto lugar, mas, na minha opinião, o balanço é muito positivo, mesmo assim.
Quando acabou o jogo em Alvalade e percebeu que o objetivo falhou, qual foi a primeira coisa que lhe passou pela cabeça?
—Muita tristeza, mesmo. Olhei para os meus companheiros no fim, reunimo-nos e falámos todos no balneário. Foi triste. Olhar para os meus companheiros que eu admiro e gosto tanto, vê-los tão tristes como eu porque não conseguimos realmente o objetivo… Fizemos tudo e sentimos que merecíamos a qualificação europeia.
A derrota diante do Farense, antes da visita a Alvalade, pesou muito?
—Sem dúvida. Foi a pior derrota, na minha opinião. Pessoalmente, não me lembro mesmo de ter uma derrota que me custasse tanto a digerir. Parece que não aceitava mesmo. Merecíamos ganhar esse jogo, nem é discutível. Mas custou por tudo, porque tínhamos ali as coisas tão perto e não conseguimos garantir o quinto lugar, perante os nossos adeptos, num ambiente que estava brutal. Foi triste.
Voltou a ter uma temporada com três treinadores. Ajudou o facto de o grupo se manter muito idêntico ao do ano anterior?
—Sim, sem dúvida. Tivemos três treinadores, em que as coisas mudavam muito rápido, até quase de semana para semana. Tivemos de adaptar-nos, mas agarrámo-nos uns aos outros, em prol do grupo e do Vitória, e foi essencial. A união do grupo voltou a fazer a diferença.
Ficaram surpreendidos com a saída de Rui Borges? Estavam à espera que fosse tudo tão rápido?
—Ficámos um pouco surpreendidos, por acaso. Não estávamos à espera que o treinador saísse nessa altura. No entanto, também tínhamos um grupo com vários jogadores experientes. Passámos por esses momentos antes, que fazem parte. Reagimos de forma natural.
E com a de Luís Freire?
—Era algo que se calhar se questionava, porque os treinadores estão sempre...
Com as malas à porta?
—Exatamente. No entanto, o míster Freire estava a fazer um excelente trabalho, se calhar, não esperávamos tanto, mas a Direção tomou a decisão e faz parte. Ele vai seguir o seu caminho e, da minha parte, desejo-lhe a melhor sorte do mundo.
Atualmente está sem clube, após ter terminado contrato com o Vitória. Como vai ser o futuro?
—Neste momento, estou tranquilo, estou a assimilar as coisas e a tentar perceber o que é que poderá ser melhor para mim.
Que objetivos é que ainda tem para a carreira?
—Tenho muitos. Essencialmente, continuar a evoluir, porque já ando aqui há alguns anos. Tenho 30 anos, mas sinto-me muito novo ainda. Sinto que tenho muito para dar e, acima de tudo, tenho muita vontade de evoluir, poder fazer mais golos e de jogar muitos mais jogos.
Quem o conhece, garante que tem uma calma olímpica. O que o tira do sério?
—[Pensa] Tira-me do sério pessoas que não são humildes, que não sabem estar. Ou conseguirem com que eu não faça aquilo que mais gosto, que é jogar à bola. No campo tira-me do sério não ter a bola, sentir que a equipa não está a ter a bola. Estarmos a levar “chocolate” dos outros deixa-me mesmo maluco.
E consegue disfarçar?
—Há alturas em que eu não disfarço mesmo [risos]. Há alturas em que quando fico cego dentro de campo, não consigo. Passes errados também me tiram do sério, mas não há muito tempo para pensar nisso, porque quando se erra tem de se reagir rápido. As críticas também nunca mexeram comigo, por acaso.