O JOGO desafiou os seis candidatos à presidência do Sporting a desfiar memórias que os definem como cidadãos e sportinguistas. Todos aceitaram falar na primeira pessoa. Conheça o lado mais intimista dos homens que lutam pela cadeira do poder em Alvalade.
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O meu avô era Alfredo Benedito. Orientava o centro de formação (na antiga bancada central) e ainda fazia a organização dos jogos. Era criança e cruzava-me com grandes figuras do Sporting que nessa altura já me conheciam. Houve muitos serões em casa em que o meu avô e o meu pai batiam à máquina a distribuição dos porteiros e dos fiscais gerais pelas várias portas do estádio. "Olha que hoje é jogo grande, temos de abrir o topo norte", dizia o meu avô. O meu pai ajudava o meu avô paterno aos fins de semana de forma mais voluntária na organização e com as escalas de serviço. Ainda tenho comigo algumas guardadas.
Há um episódio muito engraçado, com a D. Maria, que tratava da roupa. Mais tarde cruzou-se comigo quando passei a jogar: "Lavei-te as fraldas e agora lavo-te o equipamento" [risos].
Na infância, o meu maior trauma era a professora da primária. O grande castigo era impedir que levássemos bolas. Normalmente, saltávamos para os intervalos para jogar futebol.
Queria ser jogador do Sporting. Via tudo, as modalidades todas. Via o Carlos Pereira nos escalões de formação do futebol. O Pedro Miguel Moura ganhava aqueles títulos todos no ténis de mesa, e para mim aquilo era o Sporting. Mas nunca fui às captações do futebol porque o meu avô não deixava, dizia que podia haver favorecimentos.
Eu e a minha mãe apanhávamos o autocarro 9 de Campo de Ourique e ficávamos na Porta 10 A à espera que eles fechassem contas, duas a três horas. Pedia autógrafos. Mas o meu avô era muito rigoroso. "Vocês ficam ali na sala das telefonistas porque isto é uma zona de trabalho." Queria tanto tirar uma fotografia com o leão. Os meus pais arranjaram uma máquina e lá tirei a fotografia, mas o meu avô viu e levámos uma rabecada.
Comecei tarde a jogar. O meu avô faleceu e eu fui jogar no clube do meu bairro, o Olival de Basto, um pouco à revelia dos meus pais. Soube que havia captações no Sporting, aquilo não correu muito bem e tive um bocado de sorte.
Jogava e trabalhava no departamento financeiro e a situação não estava muito boa, alguns fornecedores queriam receber e iam para trás da baliza para me pressionar. E mandavam cartas ao "cuidado do Dr. João Benedito". Lembro-me que era muito incómodo.