
Hugo Xavier e Dinis Rodrigues defrontam-se este domingo num Forjães-Ponte. Um é filho, outro é pai, e vão para o terceiro confronto como treinadores. Não haverá azia ou má digestão de qualquer parte com o resultado
Talvez mais comum um pai treinar o filho, na Distrital de Braga conhecerá hoje um duelo raro, na receção do Forjães ao Ponte, equipas dos concelhos de Esposende e Guimarães. Dinis Rodrigues, 68 anos, e Hugo Xavier, 47, até que nem têm apelidos de banco relacionados, mas são pai e filho, um a comandar o Forjães, o mais velho, num regresso recente ao ativo, o segundo a viver uma temporada tranquila no Ponte. O embate promete, uns entenderão emoções ao rubro, outros pensarão mais em picardias. Certo é que ouvindo ambos nem será jogo de desonras ou afrontas. "Temos uma relação próxima, mas durante a semana não se fala sobre o jogo, há que o preparar normalmente e tranquilamente", vinca Hugo Xavier.
Quem manda não desautoriza a abordagem. Dinis Rodrigues afasta da equação jogos mentais. "Tentamos separar bem as coisas e esta semana cada um esteve focado no seu trabalho, a preparar a sua equipa. Não há lugar a grandes conversas, cada um quer ganhar o jogo. Há brincadeiras saudáveis, mas não diria jogos mentais", sublinha, elevando a magia familiar, que dispensa brigas ou tricas.
"Cada jogo entre nós é especial, mas, acima de tudo, profissional. Durante os 90 minutos, a competitividade está lá, como em qualquer outro. Depois, independentemente do resultado, há sempre aquele abraço entre pai e filho", valoriza. Esta será a terceira vez que os técnicos abraçam em cada banco noventa minutos de confronto direto.
"Já nos tínhamos defrontado quando eu ainda jogava, no Famalicão, e como profissional, o único pensamento era a vitória. Como treinadores já nos defrontamos duas vezes, entre S. Paio de Arcos e Cabreiros. Eu venci uma vez e ele outra...No fim do jogo, tratamos de jantar juntos em família, bebemos um bom vinho e falamos sobre o jogo", atira Hugo Xavier, havendo sempre um néctar apurado que deixa tudo em harmonia, sem custos de qualquer azia prolongada.
"No que toca a resultados menos bons, não há digestão fácil. Ninguém gosta de perder", rebate Dinis Rodrigues.
Olhos nos olhos, com sentido de aprendizagem de um lado, admiração do outro...o brinde merece uma garrafa de eleição e alguma adulação. Mimos irresistíveis, antes da batalha pelos três pontos. "O meu pai sempre foi uma inspiração, segui os seus passos como jogador e depois como treinador. Temos muito em comum e ver as suas equipas jogar foi revelador e inspirador", garante Hugo Xavier. Troco imediato, bem contado e generoso. "É inevitável que tenha tido alguma influência no seu percurso, mas o mérito é todo dele. Desde pequeno demonstrou paixão e trabalhou imenso para chegar onde está. Destaco o seu profissionalismo em todos os momentos."
"Diferenças na abordagem e maneira de gerir o grupo"
Alinham a convergência também na proposta futebolística
"É comum ao dois o prazer que a equipa tenha bola, jogue bem e seja agressiva. À parte disso, cada um terá o seu tipo de liderança, as suas ideias e dinâmicas", avalia. Palavra ao pai, sem colisão.
"Une-nos a forma de ver o futebol, de gostarmos de equipas organizadas, competitivas, que jogam para ganhar. Há diferenças, na abordagem e na maneira de gerir o grupo, além das ideias", observa.
Em registo final...Hugo Xavier foi desafiado a partilhar graçolas mais atrevidas dos seus jogadores. "É tudo normal, brincam com a situação. Dizem que quem manda é o pai e o filho obedece", atesta, admitindo que no campo a defesa da equipa ultrapassa a parentalidade, servindo isso sobre decisões controversas da arbitragem. "Fica escondida, as emoções são as mesmas, cada um puxa para o seu lado."
Já Dinis Rodrigues garante espaço para os dois se sentarem à mesma mesa, independentemente do resultado. "O jantar será como os outros, talvez surjam comentários sobre incidências e momentos decisivos do encontro."
