Conversas com Campeões | Jaime Pacheco recuou 24 anos para desfiar memórias do único campeonato ganho pelo Boavista, com indiretas à mistura
Corpo do artigo
Jaime Pacheco, treinador que levou o Boavista ao título na época 2000/01, foi o quarto convidado das “Conversas com Campeões”, enquadradas no 40.º aniversário de O JOGO, na qual recordou histórias desse ano glorioso para os axadrezados.
Treinador recordou vários momentos do Boavista campeão, refutou conotações negativas sobre a forma de jogar da equipa e falou ainda dos convites recusados para treinar o Sporting e o Benfica.
Na Torre do Lidador, na Maia, o treinador referiu que o título conquistado no início do milénio foi o coroar de “muitos anos de trabalho juntos”. “Acima de tudo era o gosto que me movia, a paixão que sentia, e fazia-o de forma tão apaixonada para mim que não contava como trabalho.” Pacheco lembrou que o Boavista foi acusado de “muitas coisas desagradáveis”, mas refutou quaisquer benefícios da arbitragem.
“Apresentem qualquer jogo em que o Boavista tenha sido beneficiado! Não têm provas, jogávamos muito rápido que até era desconfortável”
“Apresentem qualquer jogo em que o Boavista tenha sido beneficiado! Não têm provas, jogávamos era muito rápido e pressionávamos tanto que era desconfortável”, juntou, mandando ainda uma bicada a Benfica e FC Porto. “Ganhámos o campeonato sem e-mails e sem fruta. Rivalizávamos com os três grandes e depois com os invejosos, que eram os que competiam connosco para o quarto lugar”.
“Rivalizámos com os três grandes e depois com os invejosos, que eram os que competiam pelo quarto lugar”
O timoneiro que levou as panteras ao inédito título abordou ainda qual o momento em que sentiu que era possível arrebatar o troféu. “Foi na altura do Natal, quando fomos jogar à Vila das Aves, na penúltima jornada da primeira volta. Ganhámos 2-1 e no final sentia-se aquela atmosfera de campeões”, vincou, recordando o que disse aos jogadores. “Malta, comecem a meter na cabeça ou a semear a ideia de que podemos ganhar o campeonato. Para fora não se diz nada, mas está aqui um grupo de campeões”, avisou.
“Comecem a meter na cabeça a ideia de que podemos ganhar o campeonato. Para fora não se diz nada, mas está aqui um grupo de campeões”
Sobre o seu futuro, o treinador de 66 anos revelou que recebeu propostas do Sporting e Benfica, mas que no Boavista “sentia-se em casa”. “Como é que podia sair? Os jogadores davam tudo. Só porque me acenavam com notas eu ia abandoná-los? Não me arrependo de não ter ido”, assinalou, acrescentando que hoje sente-se “mais preparado para treinar um dos grandes”.
Lembranças das noites europeias
Jaime Pacheco referiu ter “memórias muito positivas” do Boavista europeu e relembrou um episódio engraçado da altura em que os axadrezados foram jogar frente ao Bayern Munique, na Alemanha, em 2001/02, para a Liga dos Campeões.
Pacheco recordou como era o Boavista europeu, equipa que, admitiu, seria capaz de jogar em “qualquer estádio”.
“Estava temperatura negativa em Munique e não deixei os jogadores treinarem de calças, porque ninguém joga de calças”, gracejou. O treinador assinalou o “chip de trabalho” que fazia com que a equipa jogasse em “qualquer estádio” e destacou um feito obtido num dia marcante para a humanidade. “A 11 de setembro de 2001 empatámos em Liverpool, fomos a primeira equipa portuguesa a não perder lá.”
Pacheco elogiou o grupo de jogadores, nos quais “confiava muito”, afirmando que jogavam “sem receio”, tivessem pela frente “Beckham, Scholes ou Giggs”, que figuravam no Manchester United que os axadrezados defrontaram na prova milionária.
Ainda cheirou a dérbi na Taça UEFA
Jaime Pacheco contou que o Boavista em 2003 “estava numa fase muito difícil” e recordou a meia-final da Taça UEFA, frente ao Celtic, que viria a defrontar o FC Porto na decisão da prova.
“Partimos para a meia-final com cinco meses de ordenados em atraso, um sofrimento terrível, os jogadores em situações delicadas”, vincou, exaltando, no entanto, o espírito do grupo. “Quando se sofre golo, tudo o que é mau vem ao de cima, mas mesmo nessas condições os jogadores foram exemplares.”
Os boavisteiros empataram na Escócia, a uma bola, e perderam no Bessa, por 1-0, o que ditou a eliminação das panteras às portas do que seria uma final tripeira.
Couto, Bento e o 115
A presença de Jaime Pacheco nesta conversa levou à Maia dois jogadores fundamentais no título do Boavista, como Jorge Couto e Rui Bento, além de vários outros amigos. Por lá também passou José Neto, pioneiro com José Maria Pedroto no trabalho de análise e metodologia do treino e conterrâneo do protagonista da conversa, saudado também por Freitas, central do FC Porto de 1976 a 1983 que ficou conhecido como o 115.
Fernando Pimenta e Teresa Portela são os próximos convidados
Na quinta “Conversa com Campeões”, que terá lugar na sexta-feira, pelas 18h30, no átrio da Torre do Lidador, junto à Câmara Municipal da Maia, os canoístas Fernando Pimenta e Teresa Portela terão o poder da palavra e falarão sobre o seu percurso na modalidade, entre tópicos como a preparação de um atleta de alta competição para os Jogos Olímpicos ou como vivenciar esse tipo de provas. Pimenta já participou em quatro edições dos Jogos Olímpicos, tendo arrebatado a prata em Londres’2012, na categoria K-2 1000 metros, e o bronze em Tóquio’2020 (certame realizado em 2021 devido à pandemia), na categoria K-1 1000 m. Portela já participou em cinco edições dos Jogos Olímpicos. Além disto, os dois atletas já conquistaram múltiplas medalhas nos Campeonatos do Mundo e Campeonatos da Europa.