"Já estava no Benfica quando fui apanhado em imagens a festejar a passagem do Sporting"
A O JOGO, o Oriental comentou o peso da rivalidade entre Sporting e Benfica. Apropriado quando este domingo também enfrentam um microclássico lisboeta, no caso diante do Sacavenense.
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Em semana de dérbi, não importando a dimensão dos estádios lisboetas, o Sporting-Benfica torna-se assunto antes e após os treinos. No Engenheiro Carlos Salema a euforia não foi exceção, ainda que, ao cumprimentar a equipa de reportagem de O JOGO, o presidente, João Torga, tenha questionado: "Ora, é para darmos os palpites para o Sacavenense-Oriental?" Apropriado, diga-se, uma vez que o Clube Oriental de Lisboa estava em preparação para um dos clássicos da microrregião.
Ainda assim, o quarto classificado da Série D do Campeonato de Portugal não se refugiou em ter competição e deu largo avanço ao Benfica para a deslocação a Alvalade no Totodérbi. Sem que nenhum dos 20 elementos que atiraram a aposta indicasse uma diferença acima de dois golos (o que revela o equilíbrio), certo é que as águias vencem de goleada, com 12 prognósticos favoráveis, contra cinco para o rival (três empates totalizam o bolo). O bálsamo que Bruno Lage parece ter trazido aos encarnados é ressalvado em pleno relvado, já com os atletas perfilados para a fotografia de grupo. Pelo lado inverso, o balão de oxigénio que Marcel Keizer conseguiu na série de jogos consecutivos a ganhar perdeu fulgor. "Nem interessa que seja em Alvalade. O Benfica está mais forte do que no primeiro clássico", ouve-se de um dos mais extrovertidos.
"O Sporting vai ganhar. Se o Benfica perder, fica a quantos pontos do FC Porto?"
João Félix, o viseense, conquistou admiradores. É apontado a figura do jogo por sete dos 20 palpites. "Está em grande momento e tem talento", afirma o capitão Henrique Gomes, elogiando, de seguida, a parceria com Seferovic. Rafa é ainda uma carta influente para os atletas e conquista três das preferências. Já no Sporting, Bas Dost e Bruno Fernandes dominam. Ora, se o Oriental prepara um dérbi, não poderíamos esquecer os truques. "Não fizemos nada de diferente durante a semana. Há uma questão emotiva, já que vários jogadores estiveram do outro lado", enuncia o treinador João Silva numa alusão ao Sacavenense, mas com evidente ligação ao dérbi eterno, para o qual prevê um 0-0 com as equipas a anularem-se. E reconhece até a pressão do momento: "Para os adeptos está tudo bem desde que se ganhe estes jogos."
Ao longo das principais divisões nacionais, há ex-jogadores do Sporting e do Benfica. Se há quem queira vencer, existe quem pense na oportunidade. "O Sporting vai ganhar. O Benfica fica a quantos do FC Porto?", questiona Ruizinho Furtado, portista açoriano e orgulhoso pela campanha do Santa Clara. "Pois, o [Sérgio] Conceição anda em cima deles. Não deixa fugir uma vantagem de oito pontos", assevera. O Oriental entra em campo às 15h00. Prometeram apressar-se para o dérbi dos dérbis.
Paixão ditou mentiras e alertas vários
Quando a oportunidade de chegar a um grande toca à porta nem se questiona a empatia pelo rival mais próximo. Seis jogadores do Oriental estiveram no Sporting durante a formação. David Crespo foi o único a passar do leão para a águia quando largou as seis épocas de verde e branco para, nos juvenis, rumar ao Seixal. "Fui sempre do Sporting, mas não estava a jogar e soube do interesse do Benfica. O que é curioso é que o meu primeiro jogo pelo Benfica foi contra o Sporting. Houve algum nervosismo e "dei nas pernas" a uns quantos ex-colegas", afirma, a sorrir, o defesa canhoto, contando como o secretismo é fundamental quando se ama o rival da Segunda Circular. "Já estava no Benfica quando fui apanhado em imagens a festejar a passagem do Sporting... quando eliminámos o Manchester City nos quartos de final da Liga Europa", diz, recordando a temporada de 2011/12, na qual Sá Pinto comandou o leão às meias-finais da prova: "Chamaram-me à atenção." O médio-defensivo Rúben Marques também passou seis épocas vinculado ao Sporting, mas nunca deixou o benfiquismo. "Tínhamos de manter segredo, isso sim. Mas havia muitos colegas meus na mesma situação. Porém, quando entrávamos em campo o clubismo passava. Tornava-me 100% sportinguista e, naturalmente, nesses jogos grandes, toda a gente gosta de estar."
"Estreei-me pelo Benfica contra o Sporting, o meu clube de sempre. Dei nas pernas a muitos ex-colegas"
Ora o capitão do Oriental, Henrique Gomes, também esteve sete anos em Alcochete e até foi campeão nacional de juniores. Apesar do tempo que passou na Margem Sul do Tejo, diz nunca ter esquecido o azul. "Cheguei a fazer testes no Benfica e no Sporting. Achei que o Sporting me dava melhores condições, mas sempre fui do FC Porto. Desde pequeno...", ressalva, passando a descrever alguns dos jogadores com quem conviveu: "Há sempre muita qualidade. O William Carvalho [Bétis] nem era dos mais cotados, mas depois deu um salto muito grande. O Cédric [Inter] também se percebia que era acima da média, mas o Mário Rui [Nápoles] já se via ter cabeça para ir longe."
Olhar em frente após o terror do Jogo Duplo
Mais do que o trauma da descida de divisão em 2015/16 o Oriental viveu um pesadelo pelas acusações face ao processo Jogo Duplo, de viciação de resultados desportivos e apostas fraudulentas. Carlos Pereira, treinador de guarda-redes e que quando esteve no Atlético viu a ebulição de todo o caso, elucida: "Essa questão das apostas ainda mexe. Não sabemos se virão [os polícias] cá buscar alguém. O certo é que éramos insultados fora de casa... Chamavam-nos corruptos." Quanto à subida, não são os seis pontos retirados ao Casa Pia que dão confiança a um plantel que recebe o que "é possível", "mas a horas". "Vão existir recursos. Só fazemos contas aos nossos pontos", atira o treinador João Silva.