<strong>ENTREVISTA - </strong>Um ano depois do verão quente que resultou na mudança de líder na SAD do Aves, Wei Zhao concedeu a O JOGO a primeira entrevista desde que lidera o projeto. A recuperação financeira está em marcha.
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Wei Zhao, empresário chinês que lidera o Aves, quer um clube "sustentável" e tomou as rédeas da SAD para corrigir um "desequilíbrio financeiro" prestes a ser superado.
Quem é Wei Zhao, presidente da SAD do Aves?
-Nasci em Pequim há 51 anos e aos 21 fui para o Brasil, concretamente para São Paulo. Entrei no futebol pela porta do São Paulo, em 1998, e vivi lá até 2001. Depois voltei para a China, para trabalhar como empresário, e levei alguns jogadores brasileiros para o campeonato chinês. Em 2009, na primeira vez que vim para Portugal, coloquei o Zhang no Mafra, um jogador que marcou três golos ao Sporting na Taça de Portugal. Assim comecei a conhecer o futebol português, que é uma escola muito boa para os jogadores crescerem. A minha ideia inicial era tentar trazer jogadores chineses para Portugal para eles crescerem e, mais tarde, ajudarem a seleção chinesa. Há quatro anos decidi comprar o Aves. Nunca pensei ficar tanto tempo, mas aqui continuo.
No ano passado, Armando Silva, presidente do clube, disse que havia um "buraco financeiro" na SAD depois da saída de Luiz Andrade da presidência. Tinha conhecimento desta situação?
-Isso são coisas do passado, das quais não quero falar. Eu queria, acima de tudo, organizar o clube, pois havia um desequilíbrio financeiro grande e estávamos num caminho que não era o pretendido. Neste último ano temos estado a organizar as coisas e, com a ajuda do presidente Armando e de todas as outras pessoas que aqui trabalham, estamos quase a ultrapassar este desequilíbrio.
Para uma pessoa que investe, estava à espera de ter de passar por este período de reestruturação financeira?
-Isto acontece em todos os lugares: os investimentos têm sempre risco. Temos é de melhorar no futuro.
E o que é que se passou no Aves para haver este desequilíbrio financeiro?
-Tínhamos um orçamento mais alto do que as nossas receitas, o que não era sustentável para a dimensão do Aves.
"Se me perguntarem se prefiro ganhar a Taça ou ter um clube saudável, prefiro a sustentabilidade"
No entanto, houve um grande sucesso desportivo, com a conquista da Taça de Portugal...
-É verdade, mas também tivemos alguma sorte no sorteio, além de que o Sporting passou por aquela semana tumultuosa antes da final. Foi um sucesso que talvez não se repita durante os próximos cem anos. Queremos ter uma base forte de jovens para sermos financeiramente sustentáveis. Se me perguntarem se prefiro ganhar a Taça ou se prefiro ter um clube saudável, eu digo que prefiro a sustentabilidade.
Como está a atual situação financeira da SAD?
-Colocámos uma meta de dois anos para equilibrar as contas, quando entrei para a presidência. Hoje posso dizer que não precisamos de dois anos, já que até janeiro devemos ter tudo liquidado. Temos dois ou três jogadores com clubes interessados e, com estas vendas, tudo se irá resolver.
"Colocámos uma meta de dois anos para equilibrar as contas desde que entrei para a presidência. Até janeiro teremos tudo liquidado"
Nomes como Beunardeau ou Luquinhas encabeçam a lista de pretendidos?
-Temos várias propostas, mesmos por jogadores dos sub-23, mas temos de analisar se os sub-23 não nos poderão ser mais rentáveis junto da equipa A, já que acredito que iremos ter mais uns três ou quatro Luquinhas.
Quanto dinheiro é que já investiu no Aves?
-Mais de dez milhões de euros.
E não se arrepende?
-Não. Em dois ou três anos conseguirei recuperar este investimento, agora que o Aves está num bom caminho.
"NUNCA TIVEMOS DOIS MESES DE SALÁRIOS EM ATRASO"
A época passada foi de contas e momentos difíceis no clube de Vila da Aves. Wei Zhao assume, sem rodeios, que chegou a atrasar o pagamento dos salários, mas não mais do que um mês. "Nunca tivemos a sobreposição de dois salários em atraso. Hoje temos quase tudo em dia. No dia 18 tivemos a aprovação da inscrição do clube na I Liga e isso já foi bem diferente da época passada, que foi muito difícil", assumiu o dirigente, que prevê uma temporada 2019/20 bem mais "tranquila".
"SEM VENDAS NÃO TERÍAMOS AGUENTADO"
O investidor está recetivo a vender a SAD, mas só se lhe derem 25 milhões de euros, valor que considera justo. Caso contrário, vê-se a ficar "muitos anos" nas Aves.
Ficou apreensivo quando, em janeiro, ficaram impedidos de inscrever jogadores?
-Fiquei uns três ou quatro dias sem dormir até resolver a situação.
Se não tivesse vendido jogadores em janeiro, tinha conseguido aguentar o barco até ao fim?
-Não. A esmagadora maioria dos clubes portugueses vive da venda de jogadores. Se tivermos atletas com muita idade, não os conseguiremos vender. De janeiro para cá, com a entrada do Augusto Inácio, temos apostado mais nos jovens e estamos no caminho certo. Apostámos nos sub-23 e todos ganharam: conseguimos a permanência e a melhor pontuação de sempre na I Liga, ao mesmo tempo que fomos campeões da Liga e da Taça Revelação.
Mercado de janeiro dizimou a equipa de Inácio com as saídas de El Adoua, Nildo, Amilton e Hamdou. Contudo, sem isso, garante Wei Zhao, não haveria dinheiro para acabar a temporada
Esta situação fê-lo repensar o projeto? Está recetivo a vender a sua participação na SAD?
-Muita gente me pergunta isso. Eu respondo que estou a fazer algo de que gosto. Se quero vender? Sim, se me derem o valor que quero...
E qual é esse valor?
-25 milhões de euros [sorrisos]. Se passámos por este período de reestruturação e se já vendemos jogadores, porque hei de vender por menos?
Se ninguém der esse valor, significa que vai ficar no Aves durante muitos anos?
-Sim, por muito tempo.
O centro de estágios está parado há muito tempo. Isso deve-se a falta de liquidez?
-Sim. Na próxima época quero terminar os três campos e assim que saldarmos todas as dívidas, retomaremos o projeto do hotel.
Para uma pessoa que vem de fora, acha que há muito ruído no futebol português?
-Isso existe em todo o lado. Portugal conseguiu ser campeão Europeu e ganhar a Liga das Nações. É preciso olhar para o lado positivo.
"NÃO DEIXEI QUE INÁCIO SAÍSSE"
Nunca o Aves conseguiu ter o mesmo treinador uma época inteira desde que Wei Zhao comprou a SAD. A renovação por três anos com Augusto Inácio, que substituiu José Mota a meio da época passada, é aposta para "acabar" com esta dança de técnicos, mas já houve quem viesse perguntar pelo treinador. "Quiseram levar Inácio, mas eu não deixei. Não estou a fazer um projeto de um ou dois anos, pois no futebol não se consegue nada assim. Falei com o treinador e ele gostou da minha ideia", revelou. A permanência é o objetivo para 2019/20, embora o propósito seja andar por lugares bem mais tranquilos em comparação com as últimas duas temporadas. "Queremos fazer uma época mais tranquila e tentar andar entre o oitavo e o décimo lugares", apontou.
Hoje começa a época 2019/20, com a realização dos exames médicos, e o plantel está praticamente delineado, apesar de só haver três reforços oficializados. "Até quarta-feira vocês verão não um, mas vários reforços. Temos 80 a 90 por cento do plantel definido", prometeu.