Braga e Famalicão dão o tiro de largada numa liga onde os plantéis dos grandes permanecem abertos. Áudios do VAR e luta pela Champions prometem... ruído! Arthur Cabral, Varela e Hjulmand, três nomes para outros tantos grandes e algo mais a uni-los: a integração dos reforços retardatários que espera os seus treinadores. Além das eventuais saídas...
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É dado hoje o pontapé de saída na edição de 2023/24 da I Liga, que coroará o 90.º campeão nacional da história, um número redondo que embora não sendo suficiente para inspirar teorias esotéricas talvez ganhe essa dimensão se juntarmos a curiosidade de a competição arrancar em Braga. Os minhotos recebem o Famalicão num dos muitos dérbis do Minho (volta a ser a região mais representada, com seis clubes) e depois de terem posto o país do pontapé na bola a discutir semântica nos últimos dias - porque ser candidato implica menos pressão do que ser favorito! - quererão mostrar desde o apito inicial capacidade reforçada para se intrometerem, de novo, nas guerras entre os três crónicos... favoritos. Até devido à vantagem de, por força da disputa das pré-eliminatórias da Liga dos Campeões, estarem um passo à frente do trio na definição do plantel.
As primeiras jornadas servirão para mostrar a real importância desse fator, por criar um contraste evidente entre os guerreiros e águias, dragões e leões, todos eles ainda em fase de integração de importantes reforços.
Se algo a Supertaça mostrou, para lá da óbvia componente de motivação para o Benfica, que a ganhou, e do começo feliz da história do regresso a casa de Di María, foi a falta de tração dianteira (e capacidade de intimidação) do campeão sem um ponta-de-lança de raiz. Arthur Cabral talvez resolva o problema, pois está visto que o papel capaz de valer o Óscar a Musa é o de agitador a partir do banco. No primeiro jogo oficial da época, os encarnados mostraram outras debilidades, como a permeabilidade no meio-campo defensivo e nas laterais, mas acabaram por não ser penalizados face à ineficácia que o FC Porto parece ter teimado em transportar para a nova temporada. Fran Navarro foi contratado para ajudar a aumentar a taxa de concretização, mas, tal como Schmidt, também a equipa de Conceição é ainda uma obra inacabada: o substituto de Uribe, Alan Varela, chega já na madrugada do campeonato e, apesar do ritmo competitivo trazido da América do Sul, terá de passar pelo tradicional período de "sofrimento" nas mãos do treinador portista, caminho em que o também médio Nico González está mais adiantado.
Rúben Amorim sofre do mesmo mal, pois Hjulmand, o anunciado "clone" de Ugarte, também perdeu a pré-temporada, na qual, no entanto, se viu ser Gyokeres um ás de trunfo para o treinador do Sporting.
A terminar, dois pormenores nada pequenos: com menos um lugar na Europa, isto é, na próxima Champions (campeão direto e "vice" na qualificação) e a divulgação de parte dos áudios do VAR pela FPF, prevê-se forte subida nos decibéis em volta dos relvados, o chamado ruído.
Investimentos recordistas
Kokçu, que chegou, viu e vestiu a camisola 10 do Benfica, impondo-se como titular no meio-campo de Roger Schmidt, é a mais cara contratação de sempre do campeão e do futebol português. Custou 25 milhões de euros (a que podem somar-se cinco por objetivos), cinco milhões mais caro do que uma das caras novas do outro lado da Segunda Circular, o avançado Gyokeres, também novo máximo mas em contratações dos leões (20 M€+4 M€). O outro reforço dos verdes e brancos, ontem confirmado, entrou diretamente para o segundo lugar do "top", Hjulmand, por 18 milhões (mais dois milhões).
Arthur Cabral e Trubin, aquisições ontem confirmadas pelas águias, agravam a fatura benfiquista em mais 30 milhões, num total que ascende a 69 M€. Ainda está longe dos célebres cem milhões de 2020/21 (ano do título do Sporting), mas como se vê pelo descrito até aqui a inflação - quem sabe espoletada pelo despesismo com epicentro na Península Arábica... - está a subir.
Os dragões não bateram recordes de contratações, mas já gastaram 14,4 milhões em Fran Navarro e Nico González, a quem se juntará Alan Varela após cruzar o Atlântico, a troco de oito milhões no imediato, que a prazo poderão vir a ser 11 milhões.
Tendo em conta os valores oficiais (e lembrando que aos 6,5 M€ que o Braga pagou pela permanência de Bruma somou 5 M€ por Zalazar), os "Big-4" da última temporada já gastaram cerca de 136 milhões de euros.
No capítulo das vendas, o destaque óbvio vai para a faturação do Sporting, que inclui a transferência de Porro (em janeiro) nesta época. Essa, somada às de Ugarte (60 M€), Chermiti (15 M€) e Tiago Tomás (9 M€) permite elevar o total de vendas até 127 milhões. Histórico!
O Natal não será para todos
O chavão de que o campeonato é uma maratona e todos os jogos valem três pontos - sempre à mão quando os treinadores querem manter a pressão longe do respetivo balneário - é desmentido pela paixão, inegável, que envolve os jogos grandes. E pelos próprios números, ou não tivesse o Benfica sido campeão na última época com apenas dois pontos de avanço sobre o FC Porto.
Os confrontos diretos importam e, nesse sentido, mesmo a esta distância, é possível antecipar que o próximo Natal promete ser uma montanha-russa de emoções para os quatro primeiros da última liga. A última jornada antes das festas, a 14.ª e por agora agendada para 17 de dezembro, contempla dois jogos grandes: Braga-Benfica e Sporting-FC Porto. E que se repetem à 31.ª, ou seja, ficando a faltar três rondas para o fim da prova.
Na última ronda, refira-se, haverá um Braga-FC Porto, quem sabe potencialmente decisivo. Os organizadores da competição certamente agradeceriam...