Hulk e as negas a Manchester United e City: "Fiquei a saber depois. O FC Porto tinha uma filosofia..."
Declarações do ex-FC Porto em entrevista ao Abre Aspas, do Globo Esporte
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A melhor época da carreira: "Difícil eleger a minha melhor temporada, o meu melhor momento, graças a Deus. Costumo falar que a minha caminhada no futebol teve boas escolhas. Onde eu passei, sempre joguei em alto nível. Independentemente do clube, das competições que disputava, os números mantiveram-se durante esses anos. Anos especiais que vivi no Japão, porque foram importantes como ser humano. Imaginava que ia ser diferente. E foi tudo positivo, totalmente o contrário do que eu imaginava. No FC Porto, eu vivi anos especiais. Sem dúvida, a temporada de 2010/2011 foi uma que ficou marcada, porque ganhamos a tríplice coroa, a Liga Europa, fui artilheiro do campeonato português também. Acho que nessa temporada eu fiz 42 golos, e o Falcao fez mais 46. Parecia fácil fazer golo. Eu e Falcao, mas não só. Eu não gosto de eleger só um, porque o coletivo é muito forte. Quem faz mais golo acaba por se destacar mais. Se fosse escolher uma temporada em números, acho que aquela temporada foi a melhor em termos de números, mas 2021 também foi especial, por todo o envolvimento que existia, o Galo há 50 anos sem ganhar o Brasileirão. Ganhámos, fui melhor marcador e melhor jogador do campeonato. Foi muito especial. Os números não foram tão altos comparados com o FC Porto, mas, coletivamente, sem dúvida, foi a melhor temporada."
Brilho no FC Porto e despertou interesse de tubarões: "Eu fiquei a saber das propostas depois da primeira temporada, 2008/09. A época terminou e eu fiquei a saber que houve uma proposta do Manchester United, na época acho que era de 38 milhões de euros. O FC Porto não me vendeu. O FC Porto tinha uma filosofia de trabalho que era vender um jogador por temporada, vendia muito bem. O FC Porto sempre foi um clube muito vendedor. Fiquei a saber só depois, não tinha noção, tinha acabado de chegar à Europa. Depois de tudo no FC Porto ter acontecido muito rápido, eu tinha muita moral no clube. O meu empresário tinha muito acesso. Eles faziam naquela época o que era melhor para o FC Porto. Passaram alguns anos, na temporada em que ganhámos tudo, em 2010/11, o Falcao é vendido para o Atlético de Madrid, na época acho que eram 58 milhões de euros. Depois, o empresário mostrou-me e disse: 'tinha essa proposta para ti e o FC Porto não vendeu'. Era do Manchester City, 60 milhões de euros. O FC Porto não vendeu. Disseram: 'Já vendemos o Falcao, não vamos vender o Hulk'. Eu fiquei a saber só depois. Passou mais uma temporada, 2011/12, o FC Porto estava a negociar o João Moutinho e o James Rodríguez. Não sei o que aconteceu, mas não deu certo. Fechou a janela para a Europa, só estava aberta a janela para a Rússia."
Saída para o Zenit: "Chegou a proposta do Zenit. Eu era o único jogador do FC Porto que tinha proposta. O meu empresário falou: 'Hulk, há esta proposta, o FC Porto não vendeu ninguém. O FC Porto quer sempre vender alguém, eles não queriam vender-te de jeito nenhum, mas chegou e você vai ser a salvação do FC Porto. Se você disser que quer ir, vamos fazer a transação e vamos salvar a temporada do FC Porto, eles precisam de vender alguém. Se não quiser, você tem também uma proposta de renovação na mesa, que era muito boa também.' Eu olhei e pensei: 'quatro anos, sempre a mesma história, aí estava o Zenit, jogar a Liga dos Campeões'. Falei com alguns amigos que jogavam lá, no caso o Bruno Alves, ele disse-me: 'podes vir, que a cidade é muito boa, o clube muito organizado, estruturado, a gente vai jogar a Liga dos Campeões'. Eu peguei e disse que ia para a Rússia."
Jesualdo Ferreira, o treinador que mais o ajudou: "De evolução, o Jesualdo Ferreira. Quando eu cheguei ao FC Porto em 2008, eu vinha do futebol japonês. Lembro que repercutiu muito na comunicação social portuguesa: 'Como é que o FC Porto vai contratar um jogador do Japão, ninguém conhece', 'chegou o Hulk, quando chegam o resto dos Vingadores?'. Havia muito disso. O Jesualdo foi questionado numa conferência de imprensa e ele disse que no futebol asiático a dimensão do campo é a mesma, a bola é a mesma, que eu só tinha que chegar e jogar. Taticamente, a gente vai mostrar como é que é para jogar e o resto é comigo. O Jesualdo chamou-me, conversou bastante. Para mim, ele foi mais do que um treinador, ele foi um professor. Quando eu cheguei no FC Porto, essa questão de entender como jogar taticamente não foi tão fácil. Hoje tudo é mais fácil, os clubes têm mais acesso a tudo. Se você tem um jogador que gosta hoje, você vê a posição dele, os movimentos, isto, aquilo. Hoje é muito mais fácil ter acesso. Naquela época era mais difícil. O Jesualdo conversava bastante comigo, aconselhava-me muito. Para mim, foi muito especial, porque a minha evolução aconteceu muito rápido lá."