"Hoje vão buscar os miúdos de avião, de jato privado... Eu vim de carrinho velho do Varzim"

Foi mais difícil tirar a Taça a João Pinto ou vencer o Bayern? "Quando acabou o jogo, deitei-me no chão e não vi o que se passava. Passados 10 ou 15 minutos é que toquei na Taça, mas quase me levou a mão... Colocámos dentro de nós que aquilo era mais complicado do que realmente era. O intervalo foi espetacular para deixar-nos de cabeça mais fresquinha. O Artur Jorge deu uma palestra fenomenal e fizemos uma segunda parte espetacular."

Filosofia diferente com Tomislav Ivic: "Íamos jogar com a equipa que melhor jogava no mundo [Ajax]. Eu só os via a jogar, apanhei tantos torcicolos naquelas duas partidas... Quando conseguíamos sair para a frente, com o Rui Barros na frente a correr, conseguimos ganhar os dois jogos. O Ajax já jogava um futebol muito atual! O guarda-redes jogava adiantado, com os pés. Por aí se vê o que custou ganhar."

Neve de Tóquio: "Foi o jogo de maior sacrifício. Se fosse aquele gero duro... Era difícil. O frio ao intervalo, a maior parte dos jogadores não queria voltar lá para dentro. O Lima Pereira chorava, não conseguir. Fizemos umas fogueiras com algodão e álcool. Eu tinha andado no mar, fui pescador. Aquilo era uma confusão, mas estávamos a ganhar ao intervalo. Vamos lá para dentro e seja o que Deus quiser. Foi o jogo de maior sacrifício que tive."

Diferenças entre jogadores dos anos 80 para os de hoje? "Hoje vão buscar os miúdos de avião, de jato privado... Eu vim de carrinho velho do Varzim, nem o roupeiro me conhecia. O roupeiro perguntou-me: 'Tu vens de onde?' O futebol mudou completamente. Já não acompanho andamento. Disse: 'Pára André. Vai para a pesca'".

Conselhos aos jovens: "Tenho dois filhos, trabalho com eles até chegarem a profissionais. A partir daí, deixo-os à vontade. Soltem os filhos, não queiram que eles sejam Cristianos. Quando atingem um patamar em que conseguem perceber o futebol, deixem-nos estar. Ele tem de resolver os problemas por ele."