<strong>EQUIPAS B</strong> - Braga e V. Guimarães caíram para o Campeonato de Portugal (CdP), mas não vão acabar com as respetivas equipas B, ao contrário do que fez o Sporting na época anterior.
Corpo do artigo
O que é que têm em comum as equipas B de Braga, Marítimo, V. Guimarães e Sporting? A resposta é simples: já desceram todas de divisão. O Vitória foi o primeiro, ao cair da II Liga para o Campeonato de Portugal (CdP) em 2012/13, precisamente a época que marcou o regresso dos bês à competição, tendo, porém, conseguido regressar ao profissionalismo volvido um ano.
Vitorianos estiveram no CdP em 2013/14 e a temporada até foi boa no que toca à preparação de jogadores para a equipa principal.
Duas épocas depois, o Marítimo também desceu, mas nunca mais saiu do CdP. Na temporada anterior foi a vez do Sporting, só que os leões rejeitaram a hipótese de competir em escalões amadores e acabaram com os bês. 2018/19 terminou com mais descidas para os conjuntos secundários e, desta feita, a dobrar: Braga e V. Guimarães sabem que vão competir no CdP em 2019/20 e a dúvida surgiu: há futuro para os bês no terceiro escalão nacional? A dupla de minhotos não tardou a esclarecer a questão ao deixar claro que os projetos são para continuar e que é para voltar rapidamente ao ponto de partida, leia-se II Liga.
Desfeita essa dúvida, segue-se outra: se o propósito dos bês é fazer evoluir os mais jovens, haverá espaço para isso no Campeonato de Portugal? A história diz que sim, já que em 2013/14, quando o V. Guimarães lá esteve, despontaram nomes como Hernâni, Cafú, João Pedro, Alex ou Bernard, atletas que acabaram por ser mais tarde aproveitados com sucesso na equipa "A".
https://www.instagram.com/p/BvHs1cnHG0x/
Armando Evangelista foi o treinador responsável pela potencialização destes e outros mais e explicou que a mudança de mentalidade foi a chave para que o projeto continuasse de pedra e cal.
"Na II Liga, encarava-se muitas vezes os jogos como um "vamos ver se não perdemos". Isso foi crescendo na cabeça dos jogadores, mas o chip mudou quando baixámos para o CdP - passámos a ter a obrigação de ganhar. Massacrámos nesse sentido e notou-se um crescimento em termos de ambição", conta o técnico, que destacou a importância do aspeto emocional. "Há atletas tecnicamente exímios mas que não conseguem gerir a pressão. E o Vitória é um clube com muita pressão... É claro que é melhor competir na II Liga, mas nem tudo foi mau nesse ano", recorda.
1129052503348338688
Por isso, Evangelista aplaude a insistência de Braga e V. Guimarães nas sucursais, até porque "os resultados nunca foram um objetivo". A corroborar a tese do treinador está Ludgero Castro, treinador do Marítimo B, que está nos insulares desde que estes caíram no CdP. "Ano após ano vamos notando que a qualidade tem aumentado no CdP. É possível estar a dar boa formação neste patamar", garantiu.
Lisboetas são os que mais aproveitam
Nomes como Gelson Martins ou Eric Dier (Sporting), Ferro, Rúben Dias ou João Félix (Benfica), e André Silva (FC Porto) são selos de qualidade vindos das equipas B e aproveitados pelos clubes. Neste aspeto, os encarnados são os que mais fazem render o talento que lá existe. Mas também houve outros casos, como João Mário (Sporting), Sérgio Oliveira (FC Porto) ou Fábio Martins (Braga), em que foi necessário emprestá-los antes de voltarem para a afirmação.
https://www.instagram.com/p/BRWWgfpgHfh/
O talento também se desperdiça ou, em alguns casos, acaba vendido antes de ser maturado. Que o diga o Benfica sobre Bernardo Silva ou João Cancelo, ou Seri (FC Porto) e o agora dragão Wilson Manafá, que passou pelo Sporting B, que despontaram noutro clube. Estes são os números resumidos no quadro ao lado.
Nota ainda para o campeão europeu da Youth League, o FC Porto, com oito dos 18 jogadores que apresentou na final a jogarem este ano na II Liga: Diogo Costa, Diogo Queirós, Diogo Leite, Fábio Vieira, Romário Baró, João Mário, Tiago Matos e Pedro Justiniano.
Sporting B pode voltar em 2020
O Sporting B, ainda sob a égide de Bruno de Carvalho, desceu ao Campeonato de Portugal em 2017/18, mas antes já tinha anunciado que iria acabar com a equipa para dar primazia aos sub-23. A Direção de Frederico Varandas tem outra ideia para a formação leonina e Paulo Gomes, diretor-geral da academia Sporting, anunciou em abril que os lisboetas querem reativar os bês em 2020/21. "Faz sentido ter uma equipa B e estamos a trabalhar nesse sentido. Depende da melhoria das condições de trabalho", referiu o dirigente.
10940391
JOGADORES SAÍDOS DAS EQUIPA B
Despontaram no clube
V. Guimarães - 14
Benfica - 12
Sporting - 9
Braga - 7
FC Porto - 6
Marítimo - 6
Emprestados e voltaram
Sporting - 6
Benfica - 2
FC Porto - 2
Braga - 1
V. Guimarães - 1
Despontaram noutro clube
Benfica - 11
FC Porto - 8
Sporting - 5
Braga - 3
https://www.instagram.com/p/Bw64MyeFt0i/
Sub-23: a diferença está na experiência
A época 2018/19 foi a primeira que teve equipas B na II Liga e a Liga Revelação a competir em paralelo. O propósito de ambos parece ser o mesmo, ou seja, ter um espaço para os jovens jogadores. Mas podem os sub-23 substituir os bês, estejam estes no segundo escalão ou no Campeonato de Portugal? Armando Evangelista e Ludgero Castro dizem que não. "É fundamental meter jogadores a atuar contra atletas feitos - nada substitui isso. A Liga Revelação pode ter expressão num ou noutro atleta que mature mais tarde", afirma Evangelista.
Ludgero Castro dá o exemplo do elevado número de golos nos sub-23 para falar de falta de experiência. "Via os jogos dos sub-23 do Marítimo com resultados de 4-3 ou 5-4. Isso não são equipas experientes. Na Liga Revelação continua-se a formação dos ex-juniores, mas nas bês apanham-se trintões e até alguns jogadores perto dos 40", exemplificou. "Um jogador mais velho pode não ser tão rápido, mas coloca-se melhor no campo", completou. Armando Evangelista considera ainda que a Liga Revelação coloca os jovens numa "redoma" onde o estágio evolutivo é "muito igual".
10936371
Em Inglaterra e Itália não há bês. Em França estão confinados...
Um olhar pelos principais campeonatos da Europa diz-nos que o Velho Continente está partido no que concerne à aposta em equipas B ou sub-23. Uma coisa é certa: há provas para os clubes colocarem os mais novos a jogar, ainda que o modelo seja diferente. Inglaterra e Itália são os únicos países, entre a nata europeia, que não têm bês e se cingem às provas sub-23.
Em Inglaterra, por exemplo, só é permitido a um jogador com mais de 23 anos fazer um número mínimo de jogos nos sub-23 para recuperar o ritmo de uma lesão prolongada, algo que contrasta com a Liga Revelação, onde podem ser utilizados dois jogadores acima da idade, sendo que os guarda-redes não contam. De resto, em França quem tem um conjunto secundário coloca-o a jogar na quarta divisão e de lá não passa. Na Alemanha acontece o mesmo, com os clubes germânicos posicionados na denominada Regionalliga, mas isso acontece porque o Werder Bremen B desceu da III Divisão na época anterior e deixou aquele escalão sem bês.
Gauleses têm os conjuntos secundários na quarta divisão. Espanha, Holanda e Rússia têm equipas B na II Liga. Espanhóis perderam-nas na época passada.
Algo semelhante também ocorreu em Espanha, embora isso tenha sido em duas divisões acima. Barcelona B e Sevilha B caíram à II Divisão B em 2018/19 e deixaram "La Liga 1|2|3" despovoada de sucursais dos tubarões. Na Holanda já não acontece o mesmo, pois o equivalente à II liga portuguesa conta com PSV B, Ajax B, Utrecht B e AZ Alkmaar B.
O panorama lá fora
Alemanha - Equipas B na quarta divisão
França - Equipas B não passam da quarta divisão
Espanha - Equipas B situadas abaixo da II divisão
Holanda - Equipas B na II divisão
Inglaterra - Campeonato sub-23
Itália - Campeonato sub-23
Rússia - Equipas B na II divisão
Há ainda a realçar um feito que é luso e que continua na posse do FC Porto B. Os dragões, então orientados por Luís Castro, lograram vencer a II Liga em 2015/16, algo que nenhuma equipa B em Portugal tinha conseguido.
https://www.instagram.com/p/-Y9uJhpgGp/
Na altura, os dragões igualaram o feito do Real Madrid Castilla, a segunda equipa dos merengues, que em 1983/84 venceu uma II divisão à custa da qualidade de jogadores como Butragueño, Michel ou Martin Vásquez, nomes que mais tarde pontificaram durante vários anos - e com enorme sucesso - no Santiago Bernabéu. Esse FC Porto B teve nomes importantes para a campanha rumo ao título e que não conseguiram singrar nos azuis e brancos, mas também teve outros, nomeadamente André Silva, que rendeu desportiva e... financeiramente.
10927014