Entrevista de Domingos Soares de Oliveira, administrador da SAD do Benfica, à BTV.
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Faz sentido falar sobre a continuidade ou não de Jorge Jesus no clube? "Não. Temos um conjunto de objetivos para esta época, os que podiam e deveriam ter sido alcançados já o foram. Tínhamos uma enorme dependência de entrada na fase de grupos da Champions, com dois bons adversários pela frente, e conseguimos cumprir esse objetivo. A passagem aos oitavos de final era também crítica do ponto de vista de afirmação do Benfica e conseguimos esse objetivo. Temos tudo em aberto relativamente às outras competições em que estamos envolvidos. O mês de dezembro é exigente em relação às várias competições, mas está tudo em aberto. Compreendo os estados de alma que todos temos, não há dúvida que sofremos mais quando o Benfica não ganha e extravasamos as nossas alegrias quando o Benfica, e é natural que haja um conjunto de pessoas que dê voz a esses estados de alma. Nós como dirigentes, e eu no meu caso em concreto, como CEO do grupo, como administrador da SAD e como responsável dirigente do Benfica, entendo que as decisões têm de ser tomadas em função de factos e de resultados. Até à data, o que tínhamos para cumprir cumprimos. Esta discussão parece-me absolutamente exagerada, não vejo porque temos de andar a fazer esta discussão em dezembro quando ainda temos seis meses pela frente em termos de competições."
Após a qualificação na Champions ficou aliviado em relação à questão financeira? "Em primeiro lugar fiquei satisfeito porque tudo o que fazemos em termos de grupo Benfica passa por termos sucesso no campo. Todos trabalhamos com um objetivo, não o de apresentar resultados financeiros, e não somos um clube que tem de andar permanentemente a apresentar lucros, apesar de termos tido um track-record importante desse ponto de vista, mas sim de obter resultados no relvado. Quer os nossos atletas quer as nossas equipas técnicas têm de ter esse sucesso. Quando conquistamos esse sucesso, como a passagem aos oitavos de final fico satisfeito. Do ponto de vista económico-financeiro o impacto é grande. Somos uma casa que fatura à volta de 200 e qualquer coisa milhões de euros em anos menos bons e em anos melhores um pouco mais de 300 milhões. Este jogo representa um valor mais próximo dos 15 milhões, entre prémio de passagem aos "oitavos", o valor da vitória, do market pool para chegar, e receita de bilhética que vamos atingir no jogo dos oitavos de final. O impacto é significativo. Estamos a falar de um valor de 15 milhões de euros num pacote de 200 ou 300 milhões de euros, estamos a falar num valor entre os 5 e os 10 por cento, desse ponto de vista é extremamente importante."
Benfica na Europa: "Há muito tempo que procuramos voltar a reafirmar o Benfica na Europa, mas isso não se faz apenas através de uma declaração de intenções, de ações comerciais ou da nossa expansão internacional. Tem de ser acompanhada através de resultados no relvado. Mais do que deixar o Barcelona para trás, e tenho excelentes relações com o Barcelona, que é um enorme clube, mas conseguimos ganhar por 3-0 e empatámos 0-0 em Camp Nou, contra uma equipa que tem um valor muito superior ao Benfica - é algo digno de registo. Nada contra o Barcelona, apenas pela positiva, uma afirmação deste Benfica cada vez mais Europeu que queremos ter."
Faz sentido da parte dos parceiros a Luz voltar a ter casas bem preenchidas? "Hoje temos uma dimensão de parceiros que dependem muito das assistências que temos aqui no estádio. Os nossos patrocinadores principais têm uma visibilidade televisiva tão grande com o estádio cheio ou vazio, mas com o estádio cheio o impacto de exposição é maior do que com o estádio vazio. Os patrocinadores estão satisfeitos e acho que é importante enaltecer a capacidade de adaptação do Benfica, em função destas circunstâncias. Arrancámos a época com a ideia de que podíamos não ter assistências, depois poderíamos ter alguma, a seguir o Governo autorizou uma ocupação limitada, depois uma ocupação plena, os testes covid-19... E passaram apenas quatro meses. A nossa capacidade de adaptação a cada uma destas exigências e a resposta que os adeptos têm dado a cada uma destas exigências... Falámos, para o dérbi, com a nossa direção comercial, e entre o bilhete e o preço dos testes covid-19 percebemos que o preço de entrada era muito caro. Vimos dos adeptos uma capacidade de corresponder e de ter uma assistência próxima do expectável. Não a que gostaríamos, mas muito mais do que aquio que tínhamos antecipado."
Análise da formação do Benfica: "Em relação ao trabalho feito pela formação e na ligação entre a formação e o futebol profissional temos de estar todos satisfeitos, nomeadamente no trabalho na Youth League, na equipa B e de todos os escalões, dos sub- 15 aos sub-19. O trabalho está cada vez mais sustentado. Possibilidade de fazer trabalho integrado entre todos os departamentos tem produzido claramente resultados, não são obra do acaso, são resultado de um trabalho em equipa. Facto de o presidente RC ser alguém que veio do futebol dá possibilidade de irmos muito mais longe em relação à integração total. Quando Rui Costa estava no Milan já o Benfica tinha o seu Benfica LAB. Fomos agora buscar uma pessoa ao Manchester City que vai liderar a componente mais científica. Estes trabalhos não são fruto do acaso, são resultado de ambição, consistência de estratégia de processos e de homens que nos podem entregar estes resultados."
Continuidade: "Tenho uma relação com o presidente Rui Costa de total confiança mútua, a confiança tem de vir muito mais dele para mim. A minha continuidade depende sempre de duas pessoas: do presidente, da sua confiança e da vontade que ele tenha para que eu continue, e tivemos uma conversa sobre isso depois das eleições, foi o que tínhamos combinado, e da minha motivação em relação à satisfação de entrar aqui todos os dias, como fiz ao longo dos últimos 17 anos. Enquanto me sentir útil ao projeto, enquanto sentir posso fazer algo mais pelo projeto e que trabalhamos todos de uma forma coesa e solidária, que somos um todo, enquanto sentir isso estou de corpo e alma aqui."