Segurança é a palavra de ordem no discurso do brasileiro, que não acredita que em três meses, mesmo com jogos à porta fechada, não surjam novos casos de infeções no desporto e no futebol
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Clayton Mendes, o fisioterapeuta do Portimonense, é bastante crítico em relação ao regresso à competição nos tempos mais próximos, duvidando das condições de segurança pessoal para os intervenientes e também das instalações de alguns clubes, que, naturalmente, não estarão preparados para se adaptar a uma série de novas medidas. "Na minha opinião, é muito cedo para uma retoma dos jogos. Se não deve haver convívio social, como é que se poderão juntar centenas de pessoas no mesmo recinto?", questiona o brasileiro, que vai mais longe ao apontar o dedo à falta de "capacidade estrutural" em muitos recintos. "Estou há quase três anos em Portugal e digo que sessenta por cento dos estádios onde fui não tem as devidas condições higiénicas. Não vou citar nomes, mas há estádios em que o balneário cheira a urina. E já vi ratos! Depois, há espaços muito pequenos, sem nenhum tipo de ventilação, onde às vezes até custa respirar".
"Não vou citar nomes, mas há estádios em que o balneário cheira a urina. E já vi ratos! Depois, há espaços muito pequenos, sem nenhum tipo de ventilação, onde às vezes até custa respirar"
Clayton não acredita que em três meses, "mesmo com jogos à porta fechada", não surjam vários casos no desporto. "Falo em 18 equipas e nas tais centenas de pessoas ligadas às forças de segurança, agentes desportivos, efetivo de emergência médica, equipas de arbitragem e motoristas, repórteres de campo e jornalistas, operadores de televisão e equipas de manutenção dos relvados", enumera o fisioterapeuta. "É bom lembrar que todas estas pessoas não prestam serviços só em eventos desportivos, já que muitas delas trabalham em unidades hospitalares e outros locais onde o risco de contágio e exposição é iminente". Os próprios jogadores e técnicos, prossegue Clayton, "voltam para as suas casas depois dos jogos e podem levar o vírus", enfatizando que a partir de agora será "um mundo muito diferente daquele que conhecemos - e receio que bastante pior, se não tivermos aprendido com as múltiplas lições desta experiência assustadora".
Segurança é a palavra de ordem no vocabulário do fisioterapeuta, que, de resto, rejeita ser responsável por qualquer situação desagradável no regresso aos jogos, lembrando que o Governo e as entidades da saúde só deverão traçar planos quando houver totais garantias no que diz respeito à segurança sanitária, tal como, aliás, a SAD algarvia também preconiza. "Sei que o futebol é muito caro e precisa de dinheiro, mas uma vida não tem dinheiro que a compre".