De cabeça muito centrada na sua evolução, sem pressa de acelerar, Gustavo Sá revela muito do seu compromisso e respeito ao clube. Ainda viaja pelo tempo de apanha-bolas, quando brilhava Pote em Famalicão, e garante sacrifícios fáceis em prol do futebol
Corpo do artigo
Pelo sucesso na primeira equipa, sendo tão jovem, estrela entre jogadores vindos de fora, sentia-se a bandeira do clube?
— Qualquer miúdo que sai hoje da formação do Famalicão sabe que pode singrar. Não me considero bandeira, tenho grandes jogadores a meu lado, que fizeram uma época muito boa. Sendo um miúdo que veio da formação, compreendo essas palavras, mas é apenas uma prova que é possível chegar onde queremos, passar de promessa a certeza, ser capitão. É só acreditar, num clube que se está a desenvolver, tu também te desenvolves.
Que impressão tinha do clube quando estava na formação e já via as grandes vendas, de Pote, Ugarte, Toni Martínez e outros?
—Não reparava muito nisso, estava focado em fazer o meu trabalho e nem percebia o conceito de clube vendedor. Esses jogadores eram um exemplo, até porque eu era apanha-bolas do Famalicão e gostava do Pote, do Diogo Gonçalves, do Toni Martínez. Vi-os perto, no estádio. Foi interessante tornarem-se adversários mais tarde.
Obrigado a crescer depressa, como avalia a pessoa que se tem erguido paralelamente à carreira de jogador? E como procura a descontração na alta exigência que já enfrenta?
—O facto de ter assumido que queria ser jogador tão cedo. Desde miúdo pensava assim, acho que desde que cheguei à formação do FC Porto. Isso fez-me abdicar de muitas coisas, de forma pacífica, pois gosto de ter vida tranquila, de estar com a namorada, os meus amigos, o meu empresário. Não tenho de me queixar ou reclamar do que abdico. É a vida de sonho para qualquer um. Um treinador dos sub-16 dizia-me com razão que esta é a melhor profissão do mundo. Tenho tudo o que quero e faço o que gosto. Nem vejo o futebol como profissão, que tenho de estar lá. Não há esse tenho, porque não sinto obrigação. Quero estar ligado com a mesma paixão de miúdo.
Já há futuro treinador na forja
Matrícula congelada na faculdade, cuidados sagrados em casa com a alimentação e o descanso, e literatura para fortalecer a mente fazem parte do dia a dia.
Sabemos que congelou uma matrícula na faculdade… ainda pensa que será possível fazer um curso superior?
— Tenho congelada a matrícula em Desporto no ISMAI. É algo que quero fazer. Saí da escola já com grau 1 de treinador de futebol e é uma coisa para quando acabar a carreira. Quero ser treinador, quero partilhar a informação que gosto, porque agora, enquanto jogo, sinto que há informação que não devo partilhar, não quero que achem que penso diferente ou mais anormal. É um objetivo claro, a universidade está pendente, porque também posso atingir o grau 2 do curso na faculdade, o que dará portfolio maior para fazer o que quiser.
E como está a consciência sobre os cuidados de um jogador, isto é, se aos 20 anos já está muito sintonizado com essas cautelas para prolongar a longevidade?
— Sei que o meu trabalho não pode acabar no Famalicão, tenho de me preocupar com a alimentação, o descanso e gosto muito de literatura de autoajuda, que me fortalece mentalmente. Com a minha namorada defino muito bem esses cuidados, e o descanso é outra parte fundamental. Tenho isso bem assente, gosto de diferenciar-me por aí, através de óleos essenciais, suplementação necessária. Sinto que são coisas que me ajudam muito e com as quais me identifico. Saio para jantar com a minha namorada, mas não é uma francesinha.
Não me diga que não houve direito a uma francesinha durante uma época? Aos 20 anos é iguaria irresistível, não?
—Posso confessar que comi uma e, curiosamente, com a minha namorada em Gaia, depois da nossa vitória sobre o Benfica, por 2-0, a abrir o campeonato.
Já percebi, estando ela também aqui, que há também essa maturidade na relação aos 20 anos. É a sua namorada que mais ouve nas decisões que tem de tomar?
— Primeiro vem o que eu penso, depois sempre a escuto, que é muito importante para mim e tem um olhar diferente para as coisas. É bom contar com a visão dela, porque eu e o meu empresário estamos muito dentro do futebol, ela tem a visão de fora. E ainda ouço a minha família.