Aos 20 anos, com três épocas na liga, é um dos maiores talentos do futebol nacional. O médio do Famalicão revela-se com maturidade impressionante e consciência profunda do que vale
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Satisfeito com a temporada, reconhece que podia ter feito mais, não fossem os custos da irregularidade da equipa. Orgulhoso a vários níveis, até por ser exemplo para os mais novos, pelo trajeto dentro de portas.
Que sensações são mais dominantes pela época da equipa e pelo seu protagonismo?
—Falámos disso e entendemos todos que podíamos ter dado mais. A nossa equipa era muito forte, mas tivemos uma ou duas fases em que não conseguimos impor o nosso jogo. Quando ganhámos forma já foi tarde pelos adversários que estavam à nossa frente. Tristes por isso, apesar de alguns recordes, um 7.º lugar, que é a segunda melhor classificação. Quanto a mim, também podia ter feito mais, acho que sofri um pouco com as fases da equipa. Ninguém escapa a isso. Mas estou grato ao grupo e aos treinadores pela época que fiz.
Sente que ficou aquém de fasquias pessoais, apesar de quatro golos e sete assistências?
— Todos sentem isso e não foi por não ter atingido certas fasquias que falo. Apenas o digo porque sei que sou capaz de mais e não me posso deixar abalar tanto pelas circunstâncias da equipa. Não penso, sinceramente, se devia ter feito mais golos e mais assistências, até porque tive bons números. Fiz uma boa época e estou orgulhoso. O resto é exigência pessoal.
Estamos perante um rapaz de 20 anos já com 85 jogos no Famalicão. O que lhe dizem estas três épocas?
— São três anos dos quais me orgulho bastante, num clube onde fiz toda a formação, passei diferentes escalões com pandemia pelo meio. Foi o Famalicão que me ajudou a evoluir e chegar à equipa principal. Foi um sonho quando aconteceu e a realização veio com essa continuidade, com o passar de promessa a certeza e com o facto de já fazer parte dos capitães.
Como se blinda o Gustavo Sá do deslumbramento, que ataca tantos jovens promissores?
— No campo ou fora dele, ouvindo sempre a minha namorada e o meu agente. Antes de pensar como jogador, penso como ser humano, gosto de ter os pés bem assentes na terra, saber que não sou o melhor do mundo nem o melhor jovem da nossa liga. Por aí posso diferenciar-me de outros, tento ser na minha vida uma pessoa normal, mais que um jogador. Acho que isso vai levar-me longe e já me trouxe até aqui.
E já se vê muita tranquilidade e maturidade em campo. Acompanha este raciocínio?
— Foi algo que se desenvolveu cedo na minha forma de jogar e pensar. Acima de tudo, sei que tudo vai dar certo, tenho sempre o pensamento de que tudo vai acontecer como deve ser. Não me preocupo em demasia com o que vem a seguir ou com o desfecho das coisas. Isso tem sido crucial para dar jogador, olhando às consequências destes três anos na primeira equipa.
E ainda conviveu com o rótulo de candidato a Golden Boy. Isso fez crescer admiração e visibilidade, sem perda de foco?
—Foi algo normal para um rapaz de 18 ou 19 anos a jogar numa das principais ligas europeias como titular. A fazer golos e assistências. Mas vejo ali nomes que não se comparam, que me fazem parecer apenas o menino de Famalicão. Foi um orgulho estar entre grandes nomes, mas tenho muito caminho a andar e muito a conquistar. O meu lugar, abaixo dos 50, acaba por refletir isso.
Que nomes o impressionaram nessa lista e se consegue imaginar-se ao lado deles?
—Estavam nessa disputa nomes que estão a mudar o futebol mundial, como João Neves, Yamal, Güler, todos em clubes de topo. É onde quero estar e onde quero jogar. Foi mais uma motivação e um orgulho. Quero chegar o mais perto possível destes jogadores e destes clubes.
Sente que a sua obra em Famalicão está praticamente completa e caminha para dar outro rumo à carreira?
— Sinto que dei alguma coisa. Seja aos adeptos, às pessoas da cidade, mas, sobretudo, aos miúdos da formação. Quando se joga na formação do Famalicão tende-se a achar que é difícil chegar longe. A mensagem que deixo, é que têm um clube em condições, que oferece todas as ferramentas para chegarem ao nível alto, ao qual cheguei! Do clube vão ter tudo, eu sou o exemplo pelo que evoluí e cresci.