Grande Lisboa ressurge em força: "Sinal claro de que o futebol português está a mudar"
É preciso recuar à época 1977/78 para se encontrar tamanha expressão a Sul na I Liga. Subida do Alverca reforça presença junto ao Tejo
Corpo do artigo
A Liga de 2025/26 vai ter cenário raro ou distante no tempo de seis clubes da grande Lisboa, um ribatejano, entre eles, a competirem na divisão maior. Com a subida do Alverca, e as permanências de Estrela Amadora, Estoril ou Casa Pia, somados a Sporting e Benfica, a tela mudou de cores, uma vibração do sul ficou mais expressiva, no que é a faísca de uns, o desencanto de outros. Desde o final dos setentas, de 1977/78, não havia tanta Lisboa, a sua periferia ou zona de influência, presente entre os grandes. Quando se digladiavam pela sobrevivência emblemas como Oriental, Atlético, Barreirense, CUF ou Montijo. Tripulando a máquina do tempo, o Casa Pia tornou-se um cliente moderno da Liga, ao passo que Estoril e Estrela raramente viveram juntos este tipo de convívio. Entre os 80 ‘s e 90’s havia o Belenenses, claro, geralmente só acompanhado pelos da Linha ou pelos tricolores da Reboleira. Quando o Alverca andou na Liga, no final dos noventas e início do século, o máximo foram cinco, contando com os homens de Belém e os da Amadora.
Futebol português mudou radicalmente depois do 25 de Abril, o Norte ganhou peso no mapa da Liga, mas a subida do Alverca reflete algo que não se via desde 1977/78.
O presente é, portanto, bem diferente, e há um nome que exulta com o que vê, mesmo a trabalhar no Egito. Rui Borges, um médio sempre carregado de energia, estreou-se como sénior no Casa Pia, seguindo com 128 jogos no Alverca e 72 no Estrela, onde começara a sua formação. Rui Borges, que trabalhou no Estoril como team manager, reflete sobre o novo contexto, ele que também passou pelo Belenenses.
“Reajo com emoção! É um sentimento de orgulho e pertença porque vivi por dentro as dificuldades, a luta diária, os sonhos de crescer mesmo sem os recursos dos grandes. Ver estas equipas consolidarem-se na Primeira Liga é a prova de que valeu a pena”, regista.
“Estes projetos cresceram, rodeados das pessoas certas, com a visão, o conhecimento específico do futebol e a vontade de fazer diferente e sem as massas adeptas de outros. Souberam desenvolver-se com estratégia, organização e uma enorme resiliência. Hoje, há estruturas fortes e condições mais atrativas para jovens jogadores”, assinala Rui Borges, perentório sobre a abertura de um novo ciclo. “É um sinal claro de que o futebol português está a mudar e que, com trabalho sério, paixão e bons parceiros, é possível chegar longe. Não olho para isto como tendência, é algo pessoal, é a história de clubes que ajudei, que estão onde merecem estar, realça”
De coração cheio, Rui Borges aplaude cada caso de sucesso. “É impossível não me sentir emocionado, vivi história, conheci ambições e reconstruções. O Estrela foi onde tudo começou, com 10 anos. E como sénior estive num momento crucial, a subida do clube à Liga. Esse foi o maior orgulho, representar o clube da minha terra, perante a minha gente. Foram anos de enorme exigência e responsabilidade, e realização pessoal”, conta, prosseguindo. “O Casa Pia marcou-me porque aí fiz a transição para sénior, uma fase muito difícil na vida de qualquer jogador. Cresci como homem e como atleta e o míster Vítor Móia foi decisivo nesse processo”, acrescenta, agarrando viagem ao Ribatejo a um clube da AF Lisboa, que saboreia o seu regresso à elite.
“O Alverca foi a confirmação! Quatro épocas na Liga. Senti-me valorizado, rodeado de dirigentes, treinadores e colegas extraordinários e, hoje, com o Fernando Orge e o Luís Trincalhetes, o clube continua a crescer com competência e visão e dá-me um prazer enorme ver o Alverca voltar a sonhar em grande”, confessa Rui Borges, dono de palavras para todas as casas da sua vida. “O Estoril não me marcou como jogador, foi como dirigente. Enquanto team manager, aprendi com uma estrutura profissional muito organizada. O Pedro Alves foi uma referência, ajudou-me na minha reconversão profissional”, sublinha o antigo médio, esperando ainda ser contemplado em breve com um reencontro do Belenenses com as suas origens. “Também tive a honra de lá jogar. Espero que possa regressar rapidamente aos campeonatos profissionais, porque o futebol português precisa de clubes com essa identidade e peso histórico”, conclui.