Filho de Madjer sonha ser melhor jogador do que o pai nas areias.
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A missão é bastante exigente, mas Bernardo Saraiva, filho do antigo melhor jogador do mundo Madjer, não esconde que sonha ser melhor jogador de futebol de praia do que o pai foi durante duas décadas.
"Tenho noção da referência que foi e continua a ser na modalidade, de tudo o que conquistou, mas gostava de conseguir ser ainda melhor", asseverou de imediato o jovem, de 18 anos, que alinha pelo Sporting na divisão de elite.
Quando Bernardo Saraiva nasceu, já o pai dava cartas no futebol de praia e, por isso, a ligação à modalidade foi quase umbilical.
No entanto, apenas ganhou mais força há três temporadas quando decidiu deixar o futebol, no qual representou as formações do Sacavenense, do 1.º de Dezembro e do Belenenses, para se dedicar em exclusivo ao futebol de praia pelos leões.
"Tive oportunidade de festejar grandes conquistas entre os protagonistas e, depois da conquista do Mundial de 2015 [em Espinho], percebi que era na areia que queria fazer a minha carreira", começou por explicar à agência Lusa.
Bernardo recordou que hoje é colega de equipa de alguns desses jogadores que fizeram história ao lado do pai, como Belchior, Rui Coimbra ou João Von Gonçalves.
"O Belchior conhece-me desde que nasci", atirou, enaltecendo que, diariamente, aprende bastante com eles.
Sobre o facto de ser filho de uma lenda da modalidade, o jovem futebolista contou que, ao longo do tempo, aprendeu a lidar com a pressão de dar continuidade ao legado do pai e com o facto de o seu percurso ser questionado pela ligação familiar ao antigo melhor jogador do mundo.
"O que já alcancei, ou vou conseguir atingir, é mérito meu e fruto do meu esforço", evidenciou o jovem que, em 2020, e com apenas 16 anos, festejou a conquista do título de campeão nacional ao serviço do emblema leonino, no qual intercalava entre a equipa principal e a formação secundária.
Questionado sobre as semelhanças com o progenitor, Bernardo referiu o "amor à camisola e a garra em cada lance", notando, contudo, que ainda está a dar os primeiros passos na modalidade.
"Não tenho a força de remate dele", brincou o estudante do curso de Gestão de Recursos Humanos que, ao contrário de Madjer, é mais habilidoso com o pé direito.
Relativamente à grande diferença entre ambos, o ala esclareceu que é a forma como "ataca" os lances.
A afirmação foi corroborada pelo pai, que, em jeito de brincadeira, fez questão de esclarecer.
"No fim da carreira, já não tinha a mesma disponibilidade física, mas quando tinha a idade dele, até areia comia", defendeu-se Madjer, quando chamado à conversa.
O antigo internacional português - que dá nome a um torneio juvenil em que têm despontado diversos craques para a modalidade, entre os quais o filho - destacou a leitura de jogo e a solidariedade com os colegas como principais atributos do descendente, referindo, no entanto, que só com muito trabalho vai conseguir atingir o patamar que pretende.
"Estou certo de que pode vir a ser o melhor jogador do mundo, e muito melhor do que eu fui, mas terá de trabalhar bastante porque hoje há muitos talentos espalhados pelo mundo", afirmou o antigo atleta do Sporting, de 45 anos, relembrando que quando começou a praticar futebol de praia a realidade era bastante distinta.
O antigo capitão da seleção portuguesa reitera que nunca pressionou o filho para que lhe seguisse as pisadas, todavia, contou ter ficado bastante satisfeito que tenha sido a escolha de Bernardo.
"Quero é que ele seja feliz, seja no hóquei, no futebol, no andebol ou noutro desporto, mas é evidente que me deixa ligeiramente mais alegre que tenha escolhido a modalidade que tanto amo", disse.
Madjer deixou um legado único na modalidade, tendo festejado três Campeonatos do Mundo (2001, 2015 e 2019), cinco Ligas Europeias (2007, 2008, 2010, 2015 e 2019) e sido, por cinco vezes (2003, 2005, 2006, 2015 e 2016), considerado o melhor jogador do mundo da modalidade.
Participou em nove Mundiais e marcou, em 22 anos de carreira, 1.082 golos em 583 jogos.
No entanto, e apesar de ser detentor de um currículo recheado de conquistas coletivas e individuais, nada deixaria o atual coordenador de futebol de praia da Federação Portuguesa de Futebol mais emocionado do que ver o filho Bernardo ser considerado o melhor jogador do mundo.
"Seria um dia milhões de vezes mais feliz do que aqueles em que tive o privilégio de ser distinguido", rematou sem hipóteses, uma vez mais, aquele que foi considerado pela conceituada revista France Football, em 2019, o melhor jogador de futebol de praia da história.
Bernardo soltava gargalhadas ao ouvir as palavras do pai, ciente de que tem genes de alguém que sabe o que é ser o melhor jogador do mundo nas areias. "Numa primeira fase, quero ajudar o Sporting a atingir os objetivos e ser chamado à seleção portuguesa, mas não escondo que gostava de ser reconhecido como o melhor do mundo... e melhor jogador do que o meu pai", confessou.