O JOGO conta a história do extremo que assistiu para a vitória sobre o Farense. Em 2015, trocou o Benfica pelo FC Porto para não se sentir amarrado.
Corpo do artigo
"Quero agradecer ao meu pai, entrei nesta casa com 14 anos e não foi fácil, sabemos o que passámos", afirmou Gonçalo Borges, em dezembro de 2022, ao receber o Dragão de Ouro de Atleta Revelação do ano.
Num discurso emocionado, o extremo referia-se à temporada 2015/16, a primeira como jogador do FC Porto após vários anos na formação do Benfica.
A adaptação à Invicta não foi pêra doce, mas a decisão estava tomada e por um motivo claro: Gonçalo não queria perder a magia que tinha nos pés e, ao sentir-se amarrado no Seixal, optou por dar novo rumo à carreira, de forma a potenciar a evolução técnica.
Oito anos depois, a 20 de agosto de 2023, chegou o momento de emancipação, justificativo de todos os sacrifícios. Lançado na receção ao Farense aos 67 minutos, com 1-1 no marcador, Borges revolucionou a partida com criatividade e, aos 90"+10", bailou antes de assistir Marcano para o golo da vitória.
A oferta ao central espanhol marca o clímax (até ver) de uma história iniciada em 2015, que O JOGO conta agora. O FC Porto já andava atento ao crescimento de Gonçalo Borges no Benfica, que, aos 14 anos, se sentia limitado a nível criativo. Talentoso com a bola nos pés, entendia que a forma como era disciplinado na formação encarnada não o beneficiava. Uma preocupação partilhada pelo pai, que, conhecedor do interesse azul e branco, acelerou a mudança de ares. Após várias conversas, o jovem ala foi à Invicta e, mesmo sem chuteiras, não precisou de muito tempo para convencer os responsáveis das escolas portistas. Quinze minutos bastaram e Gonçalo, não obstante algum receio, abraçou a nova aventura. Para trás, ficaram vários anos de águia ao peito, assim como uma abordagem do Sporting.
A política vigente nos dragões favoreceu o virtuosismo de Borges, como era intenção do jogador e do pai. Porém, nem tudo correu às mil maravilhas. Lisboeta de gema, estranhou a mudança de cidade, refugiando-se, quando possível, no conforto familiar, mesmo que à distância. Em contexto de jogo, o processo de afirmação também não foi simples. Franzino perante muitos adversários do escalão de iniciados (sub-15), foi alternando o relvado com o banco de suplentes, mas aprendeu a contornar a desvantagem física com outros recursos, cultivados diariamente no campo de treinos. Contactada por O JOGO, fonte que acompanhou parte do processo de formação de Gonçalo Borges lembra a dedicação do jovem atacante como fator-chave para a consolidação de dragão ao peito. Na maioria dos dias, o extremo era o primeiro a chegar e, muitas vezes, o último a sair, aproveitando para treinar bolas paradas ou recrear-se em jogos de futevólei.
De trato e sorriso fácil, Gonçalo Borges rapidamente cativou aqueles com quem se foi cruzando no FC Porto. Atento às indicações e disponível para aprender, absorveu conhecimentos, sem nunca perder aquilo que o caracterizava: a qualidade técnica, potenciada dentro dos muros do Olival.
O percurso trilhado nas épocas seguintes seguiu os trâmites normais de um jovem da formação portista. O ponto alto surgiu em 2018/19, quando Gonçalo Borges foi parte integrante e ativa na conquista da Youth League da UEFA. Já em 2019/20, ainda em idade de júnior, elevou a fasquia em termos de golos, ao apontar 10 em 30 partidas. O rendimento superlativo valeu, inclusive, a estreia na equipa B, da qual se tornou cativo a partir de então. A primeira oportunidade na equipa principal, pela mão de Sérgio Conceição, apareceu em 2021/22, a que juntou aos 20 jogos na temporada seguinte, mas foi preciso esperar pelo último domingo para ver a primeira ação decisiva de Gonçalo, com magia à mistura. Sinal de que a escolha feita há oito anos compensou.
Curiosidades
A forte relação com o pai e os avós
A família é, muito provavelmente, o maior alicerce de Gonçalo Borges. Além de uma inabalável relação com o pai, o jogador do FC Porto é muito apegado aos avós, que "acusaram" a mudança do extremo, então com 14 anos, para a cidade Invicta. O próprio Gonçalo também sofreu com a distância e as viagens do pai ao norte do país tornaram-se regulares
Coração também mudou de cores
Apesar de ter integrado desde muito cedo a formação do Benfica, o coração de Gonçalo puxava mais para o verde e branco e nem a ligação ao clube da Luz mudou a tendência. No entanto, a transferência para o FC Porto "virou o tabuleiro". Ao cabo de uma época de dragão ao peito, o extremo já se considerava portista.
D. Fátima como apoio na Casa do Dragão
Quando se mudou de armas e bagagens para o Porto, Gonçalo Borges ficou alojado na Casa do Dragão, na Rua Costa Cabral. Lá, a relação com outros jovens nem sempre foi fácil, mas o extremo encontrou refúgio em "Fatinha", como é carinhosamente conhecida uma das funcionárias da instituição. "Conhecê-la foi das melhores coisas que aconteceu ao Gonçalo", refere a O JOGO fonte próxima da família.
Trivelas à Quaresma e passes de letra
O extremo, agora com 22 anos, não se coibia de mostrar qualidade técnica nos treinos. As trivelas à moda de Ricardo Quaresma e as tentativas de passe de letra eram comuns.
Cinco oportunidades em cerca de 30"
A assistência de Gonçalo Borges para o golo da vitória sobre o Farense (2-1) não foi a única prova de impacto deixada pelo atacante. Nos cerca de 30 minutos que passou em campo, o camisola 70 dos dragões fez cinco passes para zona de finalização, incluindo o tal cruzamento para Iván Marcano.