Goleador português e formado na academia: Vitinha concretiza sonho antigo do Braga
Carlos Carvalhal tem no jovem atacante a concretização de um desejo antigo: um goleador português formado no clube. Nem Trincão, que partiu para o Barcelona, marcou tanto
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A vitória esmagadora em Arouca (6-0) devolveu ao Braga o estado de graça, empurrado por três golos de Vitinha, 21 anos, um talento que Carlos Carvalhal colheu na academia para onde o miúdo oriundo de Cabeceiras de Basto se mudou nos juniores.
Tão simples de enunciar, o processo implicou, contudo, um longo caminho e um investimento significativo da SAD de António Salvador, que ainda há duas épocas viu emergir Trincão com o mesmo fulgor, rapidamente captado pelo Barcelona. Contar com um ponta-de-lança português formado no clube é uma proeza rara: na lista dos melhores marcadores do clube neste século não se encontra outro como Vitinha.
Revisitar os melhores marcadores do Braga, desde o início do século, permite ver como os atletas brasileiros deram lugar a portugueses maduros, até emergirem os miúdos da academia
Revisitar a lista dos melhores marcadores desde 2000/01 é recuar a um tempo em que os goleadores eram, invariavelmente, atletas estrangeiros: nessa época, a referência foi Miki Fehér, o húngaro prematuramente falecido; fez 14 golos, acompanhado de perto pelos brasileiros Edmilson e Zé Roberto. Barata e Wender foram quem se destacou nos anos seguintes, com o fenómeno Barroso a intrometer-se na tendência - minhoto, cresceu no clube, marcava que se fartava e nem era atacante, o meio-campo era a área dele -, até à contratação de João Tomás. Este chegou ao clube já com o rótulo de goleador bem vincado, tinha 30 anos e de 2004 a 2006 impôs-se como principal finalizador. Seguiram-se Zé Carlos, com Wender por perto (ambos brasileiros), Roland Linz (austríaco), Luis Aguiar (uruguaio), Meyong (camaronês), Lima (brasileiro), depois Alan, e só em 2014 houve um goleador português: Éder, que viria a ser o herói da conquista do Europeu para Portugal; tinha 25 anos e fora contratado à Académica.
Em 2015, o sérvio Stojiljkovic e o egípcio Hassan (com 15 e 14 golos, respetivamente) encerraram uma era. Desde então, as referências do ataque passaram a ser, principalmente portugueses: Rui Fonte, Paulinho, Dyego Sousa - nascido no Brasil, fez 20 golos, em 18/19, quando já tinha passaporte nacional -, Ricardo Horta, que domina nesta temporada (12 golos), com Vitinha logo atrás. Vai nos dez, com duas assistências em 16 jogos e, deste lote, é o único que passou pela formação.
Não é preciso recuar muito até aos tempos em que um goleador português formado no clube seria uma espécie de mito, mas a alquimia da Academia mostrou que é possível - e o passado recente aconselha a saborear-lhe a presença; Trincão, atualmente no Wolverhampton, seguiu para a Catalunha ao cabo de apenas nove golos.