Fernanda Coimbra, ex-assessora da CBF, está em Portugal a estudar e aborda as realidades do futebol feminino dos dois lados do oceano
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Presença habitual no Estádio da Tapadinha, Fernanda Coimbra tem acompanhado com interesse a equipa de futebol feminino do Benfica. Há cerca de meio ano em Portugal, Fernanda está habituada a lidar de perto com as estrelas brasileiras, ou não tivesse trabalhado durante sete anos na assessoria de imprensa da Confederação Brasileira de Futebol (CBF).
O motivo para o corte com a profissão foram os estudos. Após a realização de uma pós-graduação em Gestão e Marketing do Desporto, Fernanda ponderou e partiu para a capital portuguesa para o Mestrado na mesma área.
Neta de avós paternos e bisavós maternos portugueses, Fernanda frequenta a Faculdade de Motricidade Humana, mas já conhece o nosso país, porque tem familiares em Leiria e Vale de Cambra e igualmente por ter acompanhado a seleção canarinha nas passagens pela Algarve Cup. "É o momento de buscar novos desafios, crescer e aprender para poder trabalhar a outro nível, a um nível mais alto. Espero que não seja um adeus definitivo à CBF [risos], mas eu refletia muito e achava que podia dar muito mais do que fazia. Talvez faltasse um pouco de coragem para dar um passo atrás, aprender mais e poder quem sabe voltar para o Brasil para colaborar no desenvolvimento do futebol feminino noutras funções", explica Fernanda. Com conhecimento de causa, a ex-assessora fala-nos da evolução do futebol feminino em Portugal. "É muito interessante o trabalho que a Seleção tem feito. Da última vez que estive na Algarve Cup, troquei ideias com pessoas da federação e em termos de dificuldades entre Portugal e Brasil, é um pouco parecido. O Brasil tem mais destaque como seleção, mas a questão do preconceito existia e hoje é bem menor, como a falta de aposta dos clubes. No Brasil há mais jogadoras, mas Portugal é um país muito mais pequeno que o Brasil. A Seleção tem feito um ótimo trabalho, com resultados muito bons em amigáveis e até no ranking da FIFA houve uma subida de 15 degraus nos 10 últimos anos. A competitividade é muito alta na Europa", analisa, detalhando depois a questão dos clubes. "Além do Benfica, que acompanho mais, o Braga tem feito um bom trabalho. A Gabi, que está agora na seleção, já jogou lá e o Sporting que é o atual campeão. Se calhar, no próximo ano, as três equipas vão brigar pelo título, com jogos competitivos, porque o Benfica está num nível muito acima das outras equipas da II divisão. Os resultados do Benfica têm tido grande repercussão no Brasil, pelas goleadas, mas há que ter em conta o contexto. Imagino que tenha sido feito um grande investimento para preparar a próxima época", conta, entre elogios à capacidade goleadora da compatriota Darlene, que está a nove golos de atingir a centena esta época. "Sempre que joga pela seleção e no Rio Preto, clube no Brasil, Darlene sempre fez muitos golos. É mesmo uma jogadora de receber bola e finalizar bem. As outras equipas talvez não sejam tão bem estruturadas e as guarda-redes têm menos hipóteses, mas a Darlene sempre foi de marcar muitos golos, sublinha, dando conta da satisfação das compatriotas encarnadas. Elas estão a gostar muito, porque o Benfica apresenta uma estrutura muito boa, em termos de planos alimentares, moradias...", refere.
"Sempre fui ruim no futebol"
Nunca jogou futebol, exceção feita ao de praia, mas o bichinho esteve lá desde sempre. "Tive umas aulas de futebol de praia, mas nunca fui boa. Era sempre ruim [risos]. Sempre gostei muito de futebol masculino e ia ao Maracanã com o meu pai. Surgiu oportunidade e fiz uma entrevista, provas e fiquei na CBF." Alcançada uma meta, Fernanda refere que muita coisa mudou em sete anos. "Costumo dizer que quando se passa a acompanhar futebol feminino, envolvemo-nos de um jeito que não é só futebol. É dedicação fora do campo, horas no treino, sair cedo de casa e até elas terem algum reconhecimento, se tiverem, demora muito. O que mais guardo é o convívio com as pessoas e ter trabalhado numa Copa do Mundo, ou Jogos Olímpicos no Brasil são experiências incríveis que nem sei descrever. Quantas pessoas não gostariam de estar ali assistindo? E eu estava a trabalhar com a seleção, jogadoras", conta.
Simplicidade de Marta destacada
De resto, a preparação das conferências de Imprensa seguia um plano de escalas para que todas falassem. "As jogadoras que não eram tão conhecidas sentiam-se prestigiadas e as restantes também gostam que as mais novas deem entrevistas. Não existe concorrência entre elas." E Marta, a melhor de sempre, é um desses casos. "É uma pessoa normal, como todos nós, não tem nada de especial. Trata todo o mundo bem, incentiva as meninas e é bonito de se ver. Se alguma está mais cansada no treino, a outra vai e motiva", diz. Nesta fase, o Brasil está a adotar uma estratégia de fomento do futebol feminino, que agrada a Fernanda. "Faz parte do licenciamento e os clubes são obrigados a ter uma equipa feminina para competir na Serie A, ou estar na Libertadores, por exemplo. "São Paulo, Fluminense e outras grandes equipas estão a promover o futebol feminino e quanto mais jogadoras o Vadão [selecionador] puder observar, mais atletas terão oportunidades na equipa nacional, tendencialmente", advoga.