Bernardo Lopes, central e capitão do Lincoln Red Imps, conta tudo sobre umarevolução futebolística que colide com o Braga
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Foi promessa do Benfica, fez parte da geração de Cancelo e Bernardo Silva, mas foi em Gibraltar que encontrou protagonismo, após jogar no Louletano e Marítimo B. A aventura dura e satisfaz.
Nove vezes campeão em Gibraltar, e internacional em 29 ocasiões, habita o território britânico que faz fronteira com a Península Ibérica há 11 épocas e agora prepara-se para defrontar os bracarenses.
Essa história de 11 épocas em Gibraltar tem realização pessoal, além da desportiva?
— Sinto-me bastante agradado, o estilo de vida é parecido ao nosso. No dia a dia, há bastante entrada e saída de portugueses e espanhóis, seja por visita ou trabalho. Isso facilita hábitos, e integrei-me rapidamente com a ajuda dos companheiros que fui tendo. Sinto-me em casa.
De 2015/16 para hoje muito deve ter mudado. E como se explica a resistência a outras ofertas?
— O início desta caminhada foi difícil, não tinha conhecimento da liga e do país. Acabei por vir de braços abertos, com a mentalidade forte e positiva de que tudo ia correr bem. A partir desse momento, tentei fazer o melhor pelo clube e pela minha carreira. Algumas oportunidades apareceram, mas aqui tenho a chance de jogar na UEFA. Claro que o facto de jogar em Gibraltar, numa liga tão curta de conhecimento e pouco competitiva, não ajuda muito nas ofertas, e as que chegam não são muito vantajosas. Como não se gera acordo, vou ficando.
Esta presença no play-off com o Braga representa uma evolução cabal em Gibraltar desde que chegou?
— Desde o primeiro dia sinto uma evolução tremenda. Temos uma liga mais competitiva e profissional. Sendo um país pequeno, é tudo lento, mas está no caminho certo. A seleção tem conseguido melhores resultados e as equipas na UEFA têm ajudado no crescimento. Conseguimos entrar nos grupos da Liga Conferência. Já temos mais jogadores que se interessam pela liga e mais investidores que tentam entrar nos clubes de Gibraltar. Tudo tem o seu tempo, mas vejo capacidade de se tornar algo maior. O entusiasmo dos adeptos é outro fator de crescimento; já aparecem muito mais no estádio. Falando do Lincoln, temos um apoio muito forte durante todo o ano, ainda mais jogando na Europa. Diria que cerca de 700 pessoas.
E a seleção foi um passo natural?
— A aposta na seleção foi difícil, mas muito pensada. Foi uma mistura de sentimentos, mas achei que fazia sentido para fazer parte deste processo de crescimento. Sinto orgulho e carinho sempre que represento Gibraltar. Faço o melhor para ajudar, e é sempre bom representar um país. Sempre sonhei desde pequeno com isto. Foi uma oportunidade fantástica.
Momentos memoráveis, quais escolhe?
— Destaco o primeiro jogo feito na seleção, algo emocionante. A nível de clubes, aponto a entrada na fase de grupos da Liga Conferência. Foi o culminar de um trabalho de muitos anos, de um processo longo e uma evolução. Vencer o Celtic, ainda no meu primeiro ano, foi algo histórico, incrível e inesquecível, a nível pessoal e coletivo. Era o arranque do profissionalismo e do crescimento...
Algo mais a fazer em Gibraltar, ou namora outros destinos?
— Há sempre mais coisas a fazer, apesar do que já foi alcançado. A mentalidade tem de nos levar a mais, não podemos dizer já chega ou que fizemos o suficiente. Temos de olhar em frente para objetivos. O futebol passa rápido, temos de desfrutar de cada momento. Gostava de regressar a Portugal ou experimentar outras ligas, encarar novos desafios, mas não penso diariamente nisso. Estudo sempre as possibilidades; se acontecer, tentarei responder da melhor forma. Nunca se sabe o que vem...
Recomenda a liga a mais portugueses?
— Recomendo, mas têm de vir preparados e mentalizados para esta realidade. Há clubes com maior capacidade de atração de jogadores, é uma liga que está a evoluir e ainda pode melhorar. A mais-valia é pensarem em jogar uma prova europeia a cada temporada, mesmo que sejam pré-eliminatórias. É sempre apetecível.
Em que patamar competitivo estaria integrado o Lincoln em Portugal?
—É difícil comparar, são ligas de dimensão completamente diferente. Somos regularmente campeões, temos jogadores experientes e isso dá vantagens, mas também não temos muita competitividade e tantos meios disponíveis. É difícil projetar. Com as decisões corretas, o ambiente certo e a competitividade necessária, podíamos competir na liga portuguesa.