Germano Pinho prepara-se para encerrar ciclo de 24 anos na presidência do Padroense e merecerá jogo de tributo este domingo. Quase levou equipa local ao mapa profissional e ergueu academia de referência no Norte. E o prestígio explicado por nomes como Dalot, Rúben Neves, Félix, Vitinha e Francisco Conceição
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Germano Pinho, um dos presidentes há mais tempo em funções nos clubes portugueses, está de saída do Padroense e o clube do concelho de Matosinhos, que tem a equipa de futebol a disputar a Liga Hyundai da AF Porto, vai homenagear o dirigente na receção de domingo ao Vila Caiz, em jogo do campeonato, procurando-se uma enchente para tributar um honroso e revolucionário trabalho, que durou 24 anos.
Aos 75 anos, Germano Pinho procura outro descanso, mas assumir-se-á como presidente da Mesa da AG, na Direção que deverá ter comando de Ricardo Conceição, que foi treinador da formação e dirigente no passado recente. As eleições ocorrem já no próximo dia 4 com lista única.
"Ficarei num lugar adequado, não negando essa ligação ao clube por afetividade e percurso. Ficarei sem esforço, é o meu clube, aquele que gosto e que ajudei a consolidar", confessa em conversa com o JOGO. "Quem se segue, trabalhou comigo, foi treinador e é um homem bem preparado e também um empresário de sucesso. Muito feliz que tenha mostrado essa disponibilidade. Não me queria arrastar, juntou-se essa vontade de sair com o aparecimento de uma alternativa boa e sólida para o clube. É uma transição pacífica para alguém que conhece bem a realidade do Padroense e pode fazer o resto do caminho", justifica Germano Pinho, percorrendo também a memória da sua obra, uma obra de muita estrada calcorreada e, pese muitos feitos, um outro, de alcance esmagador, ficou só à porta, a subida à Liga 2 de um clube de um curto raio geográfico, Padrão da Légua, que nunca foi sequer freguesia de Matosinhos. Em 2010/11, Augusto Mata quase coroou a ascensão do Padroense a um patamar impensável.
"Foi um caminho longo de 24 anos, aconteceram coisas boas e outras menos boas. Mas vi o clube quase chegar a uma liga profissional. Não foi possível e ficamos sem saber o que teria acontecido. Seria um salto muito grande chegar a uma liga profissional e quero acreditar que com a nossa capacidade de imaginação teríamos encontrado soluções para que tudo corresse bem", atesta.
O histórico presidente recua mesmo aos contornos dessa disputa em que o Padroense se bateu com Atlético e União da Madeira numa poule pela subida ao segundo escalão, após conquista da Zona Centro, à frente do Boavista. "Ficamos a um golo de subir e esse foi o último ano dessa poule, em que só subiam dois. As pessoas aperceberam-se da injustiça que recaiu sobre quem jogou melhor e deixou outro perfume. Mas ficou a marca Padroense no futebol nacional nessa época", recorda Germano Pinho, gabando o técnico que recheou expectativas no Padrão da Légua, após ter ficado célebre por uma vida a treinar o Infesta.
"O Mata foi uma enciclopédia ambulante, permitiu que todos no clube aprendessem muito sobre o futebol, que o passássemos a ver numa ótica diferente, pela cultura futebolística, por valer a pena jogar bem, ser abnegado e dedicado e não à procura de sucesso a todo o custo. Foi um homem fantástico e para nós um privilégio tê-lo connosco alguns anos", confessa, tomando pulso ao rumo necessariamente firme sem deslumbramentos. "Não surgiu esse salto, tivemos de abrandar um pouco nos seniores e virar mais para a formação. Hoje podemos orgulhar-nos de ter as nossas equipas nos escalões nacionais, os iniciados, juvenis e juniores a jogarem a 2.ª Divisão. Para a nossa dimensão é heroico", valida. "Mas não é só isso, estamos certificados como clube de 4 estrelas. Durante quatro anos fomos de cinco e foi-nos retirada uma apenas pelo regulamento criado para equipas da distrital. Somos o único clube em Matosinhos com quatro estrelas...", explana Germano Pinho, desfiando legado e sorvendo o paladar suculento do mesmo. O encanto não tem fim...e entende-se. "É um caminhar seguro, de quem tem deixado marcas e raízes. Posso lembrar-me de quando cheguei, tínhamos todas as equipas da formação na 2.ª Distrital, tudo no fundo, conseguimos inverter isso e transformar o clube com outra visibilidade e estatura. Fizemos o sintético, as bancadas, camarotes, auditório, outras valências que dignificaram o crescimento", elucida o ainda presidente dos matosinhenses, ciente que o "protocolo de 20 anos com o FC Porto foi preciosa alavanca".
"Temos a preferência das pessoas e 530 atletas na academia"
De facto, o Padroense cresceu muito na relação de proximidade com os dragões, já que os jovens portistas cumpriam no Padrão da Légua uma época formativa, acima do seu escalão.
O julgamento sobre essa sinergia é amplamente favorável, bastando atentar em alguns nomes que elevaram a aura de muitos miúdos. "Basta ver que no último Europeu jogaram em simultâneo o Dalot, o Félix, Rúben Neves, Francisco Conceição e Vitinha. Todos eles passaram pelo Padroense. E podia falar de outros como André Silva, Diogo Leite, Diogo Queirós", relembra Germano Pinho. Hoje não há jovens dragões mas resiste uma fábrica prolífera pérolas, pequenas grandes feras, múltiplas e duradouras no clube. "Temos na nossa academia 530 atletas. É um registo sem igual em Matosinhos, só ligeiramente abaixo do Leixões. Mas temos melhor certificação. Antes, quando cheguei, tínhamos de andar porta a porta para inscrever jogadores. Hoje temos inscrições fechadas na nossa academia desde setembro, não cabe mais ninguém. As pessoas dão prioridade e preferência ao Padroense, porque é um clube organizado, limpo e competitivo. Os atletas crescem aqui e temos 20 em 25 jogadores no plantel sénior que foram feitos internamente", destaca o dirigente, certo que o Padroense mudará de rosto, sem perder o seu norte, com junção de ideias aguçadas e sustentadas, seguindo uma janela aberta para outras ambições. "Este novo presidente irá manter a aposta na formação, mas sei que acredita que será possível ir mais além no futebol sénior. Temos de acreditar também", revela.
Contacto com Lippi e o afável Guardiola
Germano Pinho agarra outros créditos, honras que viraram momentos inestimáveis, emoldurados com belas fotos. "Como temos um estádio de condições muito agradáveis, fomos sendo várias vezes requisitados para receber adversários que defrontavam o FC Porto ou a Seleção. Sempre prontificamos a nossa ajuda, algo que aumentou a nossa visibilidade e prestígio, sem pensar em contrapartidas. O Padroense tornou-se mais conhecido, essa foi a grande vitória", resume Germano Pinho, identificando alguns peso-pesados que foram ao recinto dos matosinhenses desfrutar da hospitalidade local e passear classe.
"Tivemos o Brasil pentacampeão, a seleção alemã, o Bayern, o Dortmund, Nápoles, Juventus, entre tantos outros. Guardiola foi muito amável, de uma grande simpatia, com Marcelo Lippi igual e até troquei contactos com ele. Foi uma porta para conhecermos o mundo do futebol, uma emancipação à força. Mas também ficou o privilégio de uma relação fantástica com toda a gente do FC Porto e com os jogadores que cá passaram. Destaco o Rúben Neves, que é sempre muito querido connosco."