Desde Alex Telles que os dragões não tinham um lateral-esquerdo a assistir tanto. João Carlos Pereira lembra história de superação e passado como extremo. Frente ao Aves SAD, Moura chegou à sétima assistência na I Liga em 2024/25. Só Trincão, com 11, tem mais do que o lateral
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Foi com um cruzamento perfeito sobre a esquerda, a encontrar a canhota de Fábio Vieira no lance do 2-0 frente ao Aves SAD, que Francisco Moura se isolou no “ranking” de assistências do FC Porto na temporada em curso. A oferta do último sábado foi a sétima de dragão ao peito - oitava na época, tendo em conta que ainda fez uma pelo Famalicão - e permitiu ao lateral-esquerdo “descolar” de João Mário, que leva seis. Em termos de campeonato, o camisola 74 dos azuis e brancos igualou Akturkoglu (Benfica) e, olhando para cima, vê apenas Trincão (Sporting), autor de 11 passes decisivos.
Duas épocas de bom nível em Famalicão convenceram o FC Porto a abrir os cordões à bolsa e os dividendos vão sendo recolhidos, sob a forma de um “correio expresso” saído do pé esquerdo de Moura.
Em simultâneo, Moura parece ter resolvido uma das principais lacunas apontadas ao FC Porto ao longo dos últimos quatro anos: a ausência de um lateral-esquerdo com peso significativo na manobra atacante. No período mencionado, o melhor registo de assistências de um jogador a atuar maioritariamente nessa posição foram cinco (Wendell, em 2022/23), pelo que o português, de 25 anos, é já o melhor “carteiro” portista desde que Alex Telles rumou ao Manchester United, no arranque de 2020/21.
Antes de vingar no Braga e no Famalicão, o camisola 74 do FC Porto rodou na Académica e debelou uma lesão grave no joelho esquerdo. Como “estudante”, ganhou fama de... aluno atento.
A estatística reflete a curva ascendente que Moura tem percorrido desde a chegada de Martín Anselmi ao banco do FC Porto. Depois de um período mais apagado, o canhoto reencontrou-se com as boas exibições e recuperou o estatuto de indiscutível - é, a par de Diogo Costa, o único jogador do plantel titular nos 10 desafios com o treinador argentino ao leme. Um cenário para o qual terá contribuído a aposta no 3x4x3, um sistema tático que Moura já conhecia de outras andanças.
“[Moura] jogou a extremo na formação e isso ajuda-o a entender como projetar-se no último terço”
“Não tenho dúvidas de que a experiência no Braga, com Carlos Carvalhal, ajudou o Francisco a entender melhor as dinâmicas deste sistema e respetiva organização. O contexto e os jogadores são diferentes, mas essas épocas beneficiaram o Francisco na chegada a este momento. Jogou a extremo numa fase precoce da formação e isso ajuda-o a entender como deve projetar-se e posicionar-se no último terço”, analisa, em O JOGO, João Carlos Pereira.
O agora presidente do Marinhense treinou o lateral do FC Porto na Académica - emprestado pelo Braga em 2019/20 -, e recorda-o como “um aluno atento”. “Comigo, curiosamente, jogou sempre numa linha de quatro defesas. Pelas caraterísticas que tem e pelo perfil de jogador que apresenta, é tão capaz de jogar neste 3x4x3 do FC Porto como numa linha mais tradicional”, começa por lembrar o ex-técnico.
“Trabalhámos juntos quando o Francisco tinha 18 ou 19 anos. Senti que tinha potencial físico tremendo”
“Trabalhámos juntos quando o Francisco tinha 18 ou 19 anos. Senti que era um jogador com um potencial físico tremendo. Todos sabemos que, no futebol de alto nível, a dimensão física é extremamente importante. E, como já tinha passado pelas seleções jovens, estava habituado a contextos competitivos exigentes. Tinha uma mentalidade muito boa, sempre na perspetiva de querer aprender, de questionar o porquê das coisas. Tive a oportunidade de vivenciar uma evolução tremenda da parte dele em muito pouco tempo”, enaltece João Carlos Pereira.
“Tinha uma mentalidade muito boa, sempre na perspetiva de questionar o porquê das coisas”
Entre o ano em Coimbra e a afirmação no FC Porto passaram quatro épocas, com uma grave lesão ligamentar pelo meio, em 2020/21, já de volta ao Braga. Um revés que desempenhou um papel importante no amadurecimento de Moura. “Ficou sem competir durante algum tempo, mas foi algo que o fortaleceu mentalmente. E, como sabemos, a robustez psicológica de um jogador é fundamental em alta competição”, refere .