Francisco Conceição, onze meses a agarrar um sonho: "Será um dos melhores do futebol português"
Chico, herói no Estoril, vai queimando etapas. O irmão Sérgio e os treinadores Areias e Tiago Leite lembram, a O JOGO, os sinais que faziam prever a ascensão. Há diferenças entre o juvenil "que impressionou em três ou quatro treinos" e o sénior que treina "sob a grande exigência" de Sérgio. Desde fevereiro, transformou a ilusão em realidade
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O primeiro golo de Francisco Conceição na Liga levou o FC Porto à loucura, na consumação de uma reviravolta de contornos épicos e no ponto mais alto desde que se estreou pela equipa principal, há 11 meses. O extremo de 19 anos vai queimando etapas e O JOGO conversou com o irmão, Sérgio, e com dois treinadores na formação, Areias e Tiago Leite, para uma abordagem à concretização do sonho, ao processo de desenvolvimento e às perspetivas de futuro.
O festejo, por exemplo, já é uma imagem de marca. A corrida para os braços do pai e treinador já acontecera quando Francisco se estreou a marcar, em novembro, frente ao Feirense, na Taça de Portugal. Num camarote do Dragão, a mãe os irmãos não esconderam a emoção.
"Um orgulho gigante. Para o Francisco, o concretizar de um sonho, com o nosso pai no banco, como treinador, e a família na bancada. Tudo naquele momento foi especial", recorda o jogador do Estrela da Amadora. Sérgio, o técnico, já afirmou que os papéis são separados no trabalho diário e até revelou que a boleia a Francisco termina uns bons metros acima do centro de treinos. No domingo, porém, chegaram juntos ao Olival, onde a história em tons de azul começou.
Foi em 2017 que Chico deu os primeiros passos de dragão ao peito, no mesmo ano em que o pai Sérgio assumiu o comando técnico dos dragões. A primeira etapa foi cumprida no Padroense, antes de ingressar nos Sub-17 portistas. Areias treinou-o lá e recorda "um miúdo diferenciado", que "gostava de absorver todos os conselhos" que lhe davam.
"Pela forma como driblava, como andava em campo, notámos logo que estávamos perante um jogador que se destacava dos demais, só precisou de três ou quatro treinos. Chegar ao ponto atual era inevitável", lembra o adjunto dos sub-17 do Padroense.
No ano seguinte, de volta à casa-mãe, lá surgiram "tiques de vedeta", próprios de quem estava num patamar superior (15 golos em 27 partidas) e de um estilo que valeu a alcunha de "Messi do Olival". "Cheguei a dizer que aquele miúdo encarnava o Messi. Era tão bom ofensivamente que, às vezes, facilitava a defender. Algo que hoje já não acontece, até porque, com o Sérgio a treiná-lo, isso seria impossível. Agora vemos o Francisco fazer aqueles piques atrás do lateral", afirma Tiago Leite, antigo treinador nas escolas Dragon Force que viu Francisco em ação na formação. A partir daí, seria sempre a subir.
Da equipa B à principal, o elevador subiu num ápice
Uma época nos juniores (2019/20), pouco mais de meia na equipa B - marcou quatro golos em 20 jogos - e, em fevereiro de 2021, a chamada à equipa principal, com a estreia frente ao Boavista (2-2), no dia 13. "O Francisco percebeu que a responsabilidade aumentou e soube acompanhá-la. Tudo o que alcançou foi com naturalidade e manteve a irreverência que o caracteriza", conta Sérgio Conceição.
Seguiu-se o palco da Liga dos Campeões e, quando deu por ela, Francisco já integrava o plantel principal a tempo inteiro, onde se deparou com uma realidade diferente. "Tive a felicidade de jogar com o Sérgio [Conceição] no Standard Liège, sei bem a exigência que impõe nos treinos. O Francisco, além de filho, é jogador dele. Deve exigir-lhe imenso", assinala Areias, numa alusão à relação entre pai e filho com a barreira treinador/jogador pelo meio.
Depois do Dragão de Ouro... o que se segue?
Na segunda época no plantel principal do FC Porto, Francisco Conceição já tem quase o dobro dos minutos acumulados em 2020/21 e um Dragão de Ouro em casa. Foi distinguido como Atleta Revelação do ano. "Foi o reconhecimento do trabalho de um ano. O nosso pai também já venceu o Dragão de Ouro, para o Francisco foi um orgulho tremendo", acrescenta o irmão.
E o que se segue para o mais jovem futebolista do clã Conceição? Por aquilo que conhece de Francisco, Areias já o vê como "um exemplo" para os mais novos e atira: "Não tenho dúvidas de que será um dos melhores do futebol português." Tiago Leite partilha a opinião. "Um jogador com o talento do Francisco não tem limites. Quer seja como uma referência do FC Porto, quer seja em Espanha, Inglaterra ou Itália, vai singrar", vaticina.
Curiosamente, quem conhece melhor o jovem, adota postura mais comedida. "O objetivo dele é treinar melhor amanhã. Não pensamos muito no futuro, para dizer a verdade", vinca Sérgio Conceição, apontando "à mentalidade transversal a todos os irmãos".
"Conselhos de pai" e a obrigação de "dar sempre 200 por cento"
Quando Francisco recebeu o Dragão de Ouro, Sérgio Conceição não escondeu a emoção e disse vestir "dois fatos", o de treinador e o de pai de família. Um duplo papel que também se mescla no quotidiano. "O meu pai tenta sempre dar-nos os melhores conselhos, como qualquer pai tenta fazer", conta Sérgio, filho mais velho do técnico portista e irmão do extremo.
Tiago Leite vê essa relação como "uma vantagem" para o crescimento de Francisco, enquanto Areias não duvida: o jovem jogador está "sempre obrigado a dar 200 por cento". "Não deve ser fácil", diz, entre risos.