Francisco Conceição: o resgate ao Sporting, sete quilos perdidos e o destino que a pandemia acelerou
Nem sempre era titular nos Sub-19 quando a formação parou. Perdeu sete quilos no confinamento e voltou direto à equipa B, onde se assumiu figura. Resgate ao Sporting também teve dedo do pai
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A pandemia de covid-19 chegou há cerca de um ano e arrastou consigo uma série de contrariedades, mas alguns souberam fazer do problema uma oportunidade.
A covid-19 ajudou a abrir-lhe um espaço na equipa principal, mas foi a excelente entrada com o Boavista que lhe garantiu a continuidade por lá. Afirmação não se projetava para já
Sérgio Conceição apontou isso nas várias ocasiões em que destacou a importância do confinamento na excelente retoma que conduziu o FC Porto à dobradinha em 2019/20. E não deixa de ser curioso que o trabalho rigoroso e intenso, sem direito a férias, que o plantel portista fez, foi replicado na casa do treinador, pelo menos ao nível do compromisso e intensidade. Francisco Conceição fez-se graúdo nesse período e, sabe O JOGO, efetuou um trabalho duríssimo durante largas semanas. Em primeira instância, perdeu cerca de sete quilos, mas tirou outros proveitos.
Quando os campeonatos de formação pararam, o extremo que anteontem brilhou com o Boavista não era, sequer, um indiscutível dos Sub-19. No regresso passou a figura da equipa B. Pelo meio a assinatura do primeiro contrato profissional e os tais meses de confinamento que aproveitou para voltar um patamar acima dos colegas e até do que era expectável. Em casa ou no exterior, na zona da Foz, aproveitou muitas vezes a companhia dos irmãos e o acompanhamento do pai, que sempre os incentivou.
Mais, fez-lhe ver que ninguém pode jogar no FC Porto sem cumprir esses requisitos e sem manter o peso controlado. Curiosamente, Sérgio chegou a lembrar que, quando jogava, sofreu algumas vezes com a questão do peso, algo que agora escrutina à grama nos seus planteis.
Francisco Conceição é opção para a Champions se Sérgio assim o entender
Se o mundo não tivesse mudado tanto, provavelmente Francisco estaria agora a saltar entre os Sub-19 e a equipa B. O contrato - válido até 2023 - estava à sua espera, até porque o talento há muito lhe é reconhecido e só desta forma poderia jogar na II Liga. Mas a perspetiva foi sempre a de que esta fosse a época em que daria os primeiros passos na equipa B, paralelamente a alguns jogos com os Sub-19, especialmente na Youth League.
A evolução de Francisco extravasou qualquer cenário e o facto de a pandemia ter determinado que em 2020/21 não houvesse futebol de formação também contribuiu para a promoção imediata e definitiva à equipa B. O resto volta a ser mérito do próprio, que já somou mais vezes 90 minutos no futebol profissional (nove) do que nos juniores (uma). À equipa principal chegou, novamente, com a "ajuda" da covid-19, quando esta afastou Otávio e Díaz, por exemplo das opções. Nessa fase não saiu do banco, mas voltou, estreou-se e não deve voltar a baixar à formação secundária, a não ser de forma pontual. Aliás, será opção para a Juventus se o treinador assim o entender. Integrando a Lista B para efeitos de inscrição, isso nunca seria um problema.
Tulipa vê-o mais robusto após inconsistência física
Tulipa, treinador de Francisco nos Sub-17 e, na época passada, no seu primeiro ano de júnior, aponta precisamente nessa direção. "Em alguns momentos da época apresentou alguma inconsistência a nível físico. Com o tempo melhorou, porque foi ganhando mais força e mais corpo. Hoje é um jogador muito mais robusto. O jogo dele é muito violento em termos físicos, porque é de trava, arranca, pára, acelera. Nos Juniores A havia algum cuidado com a gestão dele para não ter lesões, mas também para darmos oportunidade a outros jogadores que tinham potencial", explicou, sem qualquer ponta de surpresa pelo que o viu fazer no sábado, contra o Boavista.
"Pelo contrário. Um jogador com este talento faz aquilo nos Sub-17, nos Sub-19, na equipa B ou na principal. A forma constante como atrai jogadores, a capacidade de finalização... Hoje em dia, isso não há e é muito importante", resumiu.
Resgatado ao Sporting com influência do pai
Portista desde pequenino, Francisco começou por aparecer no Sporting, que o detetou mais cedo do que os rivais, então com menos de 10 anos. O FC Porto "acordou" para ele nos Sub-12/Sub-13 e tentou, de imediato, levá-lo para o Olival.
O jogador nunca teve contrato no Sporting, apenas uma inscrição que não valia mais de uma época. Mas dragões e leões tinham um pacto de não agressão na formação. Ou seja, ninguém retiraria um jogador sem que o outro o aceitasse tranquilamente. E Francisco foi ficando até que, em 2017/18, depois de Sérgio Conceição ser apresentado como treinador do FC Porto, isso se precipitou.
O pai teve, naturalmente, alguma influência na mudança e o Sporting acabou por "aceitar", até por perceber que a mudança faria sentido no contexto familiar, numa fase em que Moisés, outro dos irmãos Conceição, também já estava no FC Porto e em que Francisco tinha apenas 14 anos de idade. Já com contrato, assinado no verão, e na condição de maioridade, o extremo tem agora um largo futuro pela frente. Afirmar-se no FC Porto é o primeiro objetivo.