Fran Navarro a caminho do FC Porto: "É a definição de alto rendimento, um aluno impecável"
Miguel Alonso, hoje diretor de alto rendimento da academia do Marselha, tinha esse cargo em Valência, onde privou com o futuro reforço do FC Porto. Fala numa dedicação exemplar.
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Fran Navarro está a caminho do FC Porto, é uma operação cozinhada desde há muito, que levará o avançado valenciano para um dos grandes de Portugal com espaço de ação na Champions. Falta apenas a oficialização. Um inevitável salto para todos que o conhecem, proporcionado por duas épocas de caça de golos, marcando 37 num clube de pretensões modestas como o Gil Vicente, somando 16 em 2022/23 aos 21 da temporada de estreia.
Um sucesso absoluto, impondo eficácia e regularidade, muito difícil de testemunhar, num avançado que atue fora dos ditos grandes. De companheiros gilistas já choveram muitos elogios, Fran está envolvido por grandes expectativas e, de Espanha, ou de quem o viu evoluir, o sentimento é convergente. Um puro matador que não falhará a oportunidade de acesso a montra maior.
O JOGO falou com Miguel Alonso, que acompanhou a temporada do avançado de 2020/21 na equipa B do clube de Mestalla. Próximo de Fran enquanto diretor do centro de alto rendimento da academia, desempenhando hoje o mesmo cargo no Marselha, Alonso sente a força magnética a puxá-lo para perto do avançado, o lado de sentimental de qualquer galego quando ouve falar de Portugal, ainda para mais com avós de Tui.
"Coincidi com ele nessa temporada, eu levava dois anos no clube, ele era muito reconhecido, uma bandeira da academia e regressava de uma passagem pela Bélgica [Lokeren]. Nessa altura acreditava-se que ele sairia para outra liga mas acabou, sorte nossa, por ficar mais um ano em Valência", lembra Miguel. "Desde logo surpreendeu-me pela sua humildade, capacidade de escutar toda a gente, até a mim, que não conhecia. Pedia frequentemente opiniões e ajuda. Ele apercebeu-se, no regresso ao clube, que muita coisa tinha melhorado ao nível das instalações da academia. Havia um ginásio próprio e ele entendeu que essa era uma peça importante, um bloco de trabalho que não tinha antes. Foi uma situação chave para que desenvolvesse um sentido de alto rendimento", elogia o agora diretor do Marselha.
Miguel Alonso não esconde o grande apreço que tem pelo avançado que está a caminho do FC Porto. "Ele era, de facto, um irmão mais velho de quase todos. A grande maioria era sub-19. Era uma referência dentro do clube, além do mais com essa bitola de importante, de homem fundamental na equipa. Era exemplo por todo o rendimento, não só pelos golos, também pelo que se esforçava, era uma referência igualmente nos aspetos defensivos, pelo que pressionava, era o primeiro homem a procurar recuperar a bola", conta, prosseguindo com o relato bem abonatório: "Havia uma grande confiança nossa no Fran porque ele aglutinava e empurrava os companheiros, fazia com que todos percebessem a importância de treinarem ainda fora do campo, o chegar antes, o cuidar-se, o trabalho extra no ginásio. Ele ajudou os técnicos arrastando os mais jovens", gaba, descrevendo esses efeitos no jogador atual.
Os bons hábitos que perduram
O dirigente recorda que Fran "muniu-se de bons hábitos e também os instituiu a quem o rodeava", saindo "reforçado para brilhar em Portugal", admite, analisando o choque de realidade que foi adiando uma estreia oficial pelo Valência. "Nessa altura podia não estar ainda à altura, por algum aspeto técnico, de disputar um posto com Maxi Gómez, Gonçalo Guedes ou Gameiro. Mas fisicamente estava preparado, reunia uma capacidade incrível. Era importantíssimo porque fazia isso no ataque e na defesa, fazia esforços sucessivos durante o jogo, sem sofrer desgaste considerável na segunda metade", justifica, não parando nos méritos: "Eram variáveis vitais para nós e a capacidade de alto rendimento estava lá, o acelerar, o saltar, o gerar velocidade em pouco espaço. Fazia tudo isso muitas vezes num jogo. Fran Navarro é a definição de alto rendimento, um aluno impecável, por isso chegou à Primeira Divisão de Portugal sem qualquer problema de adaptação", remata.
"Não é flor de um dia, vai ficar na história!"
Miguel Alonso reconhece atributos especiais a Fran Navarro, mas também é grande fã do seu padrão comportamental e espírito competitivo, exibindo total conexão com os feitos do avançado em Portugal: "Eu sou galego e sempre tive uma atenção especial pela liga portuguesa, amigos que aí jogam e família a viver perto. A evolução do Fran nas últimas duas temporadas, os seus números convocaram o interesse de um clube da dimensão do FC Porto. É o momento da verdade, de demonstrar que não é flor de um dia, nada disto é casualidade", expressa Miguel Alonso, embalando no raciocínio: "Não sendo um jogador que tecnicamente vá pôr toda a gente a falar dele, no que faz fora da área, é alguém que devemos perceber que pode materializar muito mais golos com mais tempo de bola e oportunidades geradas pela equipa. Acredito que ele vai colocar-se na história de um clube tão grande no futebol mundial. Que assim seja!", vaticina o responsável da academia do Marselha.
"Se não for importante de início, vai agarrar-se à sua personalidade, às ganas de melhorar, vai lutar por um posto e pelo máximo de minutos na temporada. Fran é assim!", destaca Miguel Alonso, prometendo uma presença no Dragão... "Sou um fiel seguidor da Liga, vou muito a Portugal, porque sempre que passo em casa essa é uma visita obrigatória. Agora mais ainda! O futebol português não é tão bem tratado como devia ser ao nível do reconhecimento. Tem, com Espanha, o melhor nível na formação, sou enamorado do FC Porto, do Braga, do Sporting, do Boavista. Atenção, fiz provas para jogar no Boavista com 18 anos, mas como não era muito bom estudante não pude ficar", brinca.
À guerra até com traumatismo
"Há uma história muito famosa de Fran no clube, anterior a mim mas que explica bem como ele é. Nos sub-16, teve uma disputa com um guarda-redes adversário e foi uma coisa feia com traumatismo cranioencefálico para os dois. O guarda-redes foi substituído, mas ele não quis. Dois minutos depois, chocava da mesma forma com o outro guarda-redes e novamente os dois pelo ar. Acho que isto diz bem da personalidade, perseverança e combate pelo que quer...", conta Alonso.