O novo instrumento de controlo operado pela UEFA passará a chamar-se Financial Sustainability Regulations. Neste modelo, os clubes deixarão de estar condicionados, por exemplo, à regra do break-even
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Em 2010, os clubes europeus registavam perdas líquidas agregadas de €1.6 mil milhões. Com o objetivo de reverter esta situação e promover a performance, transparência e sustentabilidade da indústria, a UEFA implementou, em 2011, o programa Financial Fair Play (FFP). O FFP tem como principal intuito impedir o acumular de dívida. Este programa indica que em cada três anos, os custos dos clubes não podem ultrapassar mais de €5 milhões do que as receitas geradas (tema relacionado com o break-even dos clubes). Este limite é de €30 milhões se essas perdas puderem ser cobertas pelos proprietários dos clubes ou por uma parte relacionada.
O novo instrumento de controlo operado pela UEFA passará a chamar-se Financial Sustainability Regulations. Neste modelo os clubes deixarão de estar condicionados, por exemplo, à regra do break-even
Os argumentos face ao impacto do FFP são díspares. Alexander Čeferin, atual presidente da UEFA, referiu que o FFP tem tido um impacto positivo nos clubes europeus, tendo estes registado, por exemplo, de forma agregada, pela primeira vez em 2017 e 2018, lucros contabilísticos durante dois anos consecutivos. Em sentido oposto, o FFP tem vindo a receber críticas associadas à existência de alegadas zonas cinzentas, como são os casos da apreciação dos valores dos contratos dos patrocínios de clubes europeus cujos proprietários têm ligações ao patrocinador. Esta situação levanta implicitamente questões associadas a potenciais ajustamentos dos valores dos contratos como forma de assegurar o cumprimento das regras.
De facto, o não cumprimento das regras resulta em diversas sanções, desde multas monetárias até à proibição de participação nas provas europeias. Algumas destas sanções não são uma novidade para os clubes portugueses. Por exemplo, na época de 2017/18, o FC Porto ficou limitado a inscrever 22 jogadores nas competições europeias ao invés dos tradicionais 25. Também, em 2021, três clubes portugueses foram punidos com multas agregadas de cerca de 575 mil euros pelo incumprimento de regras do FPF relacionadas com prazos de pagamentos. Há ainda outros casos não referidos neste texto.
Contudo, o FFP poderá estar perto do fim nos moldes atuais. O novo instrumento de controlo operado pela UEFA passará a chamar-se Financial Sustainability Regulations. Neste modelo, os clubes deixarão de estar condicionados, por exemplo, à regra do break-even. Neste caso, os clubes apenas poderão gastar em salários de jogadores e atividades relacionadas com o futebol 70 por cento do valor das receitas. Discute-se a entrada em vigor do novo programa já na próxima época, integrando um período de adaptação de três anos em que o rácio supramencionado estará fixado nos 90% no primeiro ano aplicável, 80% no segundo ano e só a partir do terceiro ano estabiliza nos 70%. A questão será se o novo modelo, caso seja aprovado, é mais ou menos adequado do que o anterior e se trará uma maior sustentabilidade à indústria. No caso português, importará entender de que forma os clubes terão agilidade de resposta, e quais os impactos na capacidade de atração e retenção de talento.