Filho de Pena desponta no Famalicão: "Num torneio, jogou por três escalões no mesmo dia"
Nascido em Portugal, jogava Pena no Braga, foi no Brasil que o dianteiro evoluiu e só regressou quando o pai o sentiu preparado. Tem contrato até 2023 e 1,87 metros que desequilibram na frente.
Corpo do artigo
De Famalicão a Vitória da Conquista, no Brasil, vão mais de sete mil quilómetros e um oceano a separar dois continentes. É lá que está Pena, antigo ponta de lança que se notabilizou no FC Porto, onde chegou a ser o melhor marcador da I Liga, em 2000/01, e que agora tem outra preocupação no futebol: ver o filho crescer.
13511098
Pablo Felipe Jesus também é avançado e tem apenas 17 anos, mas já joga pelos sub-23 do Famalicão, emblema pelo qual se estreou a marcar no último encontro, com o Belenenses (1-0). Em maio do ano passado, assinou contrato profissional até 2023 e, recentemente, foi destacado por Miguel Ribeiro, presidente da SAD, como um dos valores emergentes do clube.
O relógio marca 9h30 em Vitória da Conquista e Pena não hesita em atender a reportagem de O JOGO. "Tenho cinco filhos, três em Portugal e dois no Brasil. Não vejo o Pablo há um ano e é um menino que me orgulha muito. Para além de ter qualidade, é forte mentalmente e ajuizado", conta Pena, que agora se dedica aos negócios no ramo imobiliário e ao centro de formação que criou, designado Moriá, para uma centena de jogadores. O acompanhamento do filho é feito à distância, desde que surgiu a pandemia de covid-19. Para trás, ficaram os tempos em que Pablo acompanhava o pai para os estágios. "Ele nasceu em Portugal, quando eu jogava no Braga. Depois, voltei para o Brasil e, com quatro ou cinco anos, viajava muito comigo. Tinha a liberdade de poder levá-lo para o os estágios e, portanto, cresceu neste meio do futebol. A vontade de ser jogador não foi algo forçado", assegura.
Avançado, filho do antigo jogador do FC Porto, tem 17 anos, mas já joga na Liga Revelação. Marcava aos "dez e 12 golos" quando era miúdo e acompanhava o pai nos estágios
O Fluminense bateu à porta duas vezes para levar o menino. Pena nunca gostou muito da ideia, mas em ambas deu o braço a torcer, e acabou ele próprio a treinar o filho. "O Fluminense observou-o com 12 ou 13 anos. Eu achava que ele ainda não estava no ponto, mas deixei-o ir. Gostaram dele, mas só disseram que iam continuar atentos. O Pablo voltou triste. Ficou mais seis meses aqui em Vitória da Conquista e o Flu quis que ele voltasse. Eu disse que ele não tinha evoluído nada, mas, para fazer o gosto à Mãe, deixei-o ir. Um dia, perguntou-me o que precisava fazer para ser um profissional. Respondi-lhe que nada é de graça, que era preciso deitar e acordar cedo, criar rotinas de atleta. Fizemos um trabalho duro e no Moriá já ninguém o parava", recorda. De tal forma, que marcava aos dez golos por jogo: "Fazíamos muito amigáveis e houve um torneio em que ele jogou por três escalões no mesmo dia. Só num jogo fez 10 ou 12 golos contra uma das melhores escolas de Vitória da Conquista".
"Houve um torneio em que o Pablo jogou por três escalões no mesmo dia. Fez 10 ou 12 golos contra uma das melhores escolas de Vitória da Conquista"
Quando achou que a hora tinha chegado, Pena trouxe o "menino" para Portugal. Assinou pelo Palmeiras, de Braga, mas um desentendimento levou-o até Famalicão. Ali, apreciaram de tal maneira as qualidades do dianteiro que lhe ofereceram um contrato profissional. "Tem 1,87 metros e estreou-se na Liga Revelação quando tinha 16 anos. Está tudo a acontecer muito rápido, mas ele está preparado fisicamente e tecnicamente", assegura. As parecenças entre pai e filho são notórias. Dentro de campo, o estilo também é idêntico? "Um pouco", admite Pena: "Digo-lhe que a carcaça dele tem que ser mais forte. Já consegue fazer uma boa parede e não perde a bola facilmente. É aguerrido e ajuda a equipa".
A passagem pelo FC Porto marcou Pena e desses tempos ainda mantém contacto com nomes como Jorge Andrade, Chainho e, essencialmente, Clayton, amigo que tem casa em Vitória da Conquista. Ver o filho repetir os passos seria "um prazer". "O Pablo pergunta muitas coisas dos tempos do FC Porto e vê vários vídeos", revela. Falta, apenas, decidir por que seleção poderá vir a jogar, visto ter dupla nacionalidade. "Se tiver essa oportunidade, vamos incentivar qualquer escolha que ele faça", assegura, e despede-se com um desejo: "Tenho muitas saudades do povo português e espero voltar em breve para ver o Pablo brilhar na Europa".