Fernando Gomes, Proença e clubes põem tudo em pratos limpos: o que será discutido
As reuniões do presidente da Federação, clubes da I Liga e líder da Liga prometem reflexões quanto aos limites territoriais de cada organismo, que mantêm relação tensa há muito tempo.
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Na segunda-feira, em duas reuniões (Lisboa e Porto), a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) vai apresentar um plano de discussão aos 18 clubes da I Liga e a Pedro Proença, presidente da Liga, com propostas de revolução competitiva. Centralização dos direitos TV (avançar por decreto será discutido), alteração dos quadros competitivos (II Liga passar a ser organizada pela FPF em duas séries), aumento das receitas das apostas online, repensar em como tirar mais partido do mecanismo de solidariedade da UEFA.
Com Portugal isolado na Europa do futebol competitivo em relação aos direitos televisivos (clubes firmam contratos isoladamente), a Federação vai questionar os clubes (com o Benfica a merecer particular atenção - tem os direitos dos jogos em casa na Liga) se é para avançar ou não, se a SAD da Luz quer manter o contrato atual, se as operadoras (Olivedesportos, Meo, NOS, Vodafone - acionistas em partes iguais da Sport TV) estão disponíveis para desembolsar mais dinheiro para todos. Um exemplo que a FPF tem em mente é o da centralização dos direitos do futsal, que deixou "todas as equipas satisfeitas" (jogos na RTP 1 ao domingo à tarde). Mas, tal como aconteceu em Espanha (Liga suspendeu os contratos de Real Madrid e Barcelona e, agora, ambos ganham mais 8% do que isoladamente, e os outros clubes viram subir em cerca de 40% a comparticipação desta rubrica fundamental para os clubes), encaminhar clubes e operadoras a avançar por decreto, na perspetiva de que haja mais dinheiro para todos, é uma possibilidade.
Outro problema detetado pela entidade máxima do futebol português é o do excesso de jogos: este mês, entre campeonato, Taça de Portugal, Taça da Liga e competições europeias, Portugal terá mais jogos do que os outros países europeus. Para este excesso de jogos, terá de haver uma reformulação dos quadros competitivos. A Taça da Liga, que antigamente finalizava em março, fecha com o campeão de inverno em janeiro. E, provavelmente mais polémico (porque há uma tensão latente entre FPF e Liga, que se sente demasiado subalternizada sendo regularmente a organizadora das provas profissionais), desviar a organização da II Liga para a Federação, mudando o formato. Disputar-se-ia em duas séries, com tendência para diminuir o número de jogos. Entende a Federação que, com a Liga focada na I Liga, poderia desenvolver um modelo de negócio mais semelhante ao praticado em Espanha por Javier Tebas, presidente da Liga, sobretudo ao nível de captação de receitas e expansão da marca. Ou seja, uma comunicação forte que catapulte a reputação e a marca. Que passe a imagem de que a Liga portuguesa é muito competitiva, espetacular e atraente - fortes estimuladores do aumento dos direitos televisivos (centralizados, claro está). Um executivo português de alto nível, com experiência de mais do que uma grande liga europeia, dá o exemplo da II Liga: "É melhor do que a MLS [liga profissional americana], mas a comunicação e o marketing são de outro planeta." Há a questão de escala e dimensão do mercado, mas num país campeão europeu de seleções e com um dos melhores jogadores do mundo (Cristiano Ronaldo) e vários outros entre a elite (exemplos firmes: Bernardo Silva, João Mário, William Carvalho, João Cancelo ou Rúben Neves), há argumentos para aumentar a visibilidade e correspondente valorização da marca "Liga portuguesa".
Amanhã, Fernando Gomes vai apresentar a discussão a "construção de um plano conjunto que permita ao futebol português reforçar a posição no ranking europeu dos clubes profissionais de futebol" que é "nuclear para Portugal nos próximos anos".
Portugal procura voltar ao quinto lugar no ranking de clubes da UEFA (é 7.º), uma posição que permitiria ter duas equipas na fase de grupos da Champions (ou três se o vencedor da Europa League continuar a ir diretamente à fase de grupos da prova). E duas equipas diretamente na fase de grupos da Europa League e três a disputar duas pré-eliminatórias (vencedor da Taça, ou 3.º ou 4.º em sua vez; com o 4.º ou 5.º e 6.º ou 7.º, caso o vencedor da Taça seja apurado diretamente para a Champions, a disputarem duas pré-eliminatórias).
Cenários do ranking
11,6 - É o máximo de pontos que Portugal poderá somar esta época (ficando com 57,232). Improvável: FC Porto teria de vencer a Champions e Benfica e Sporting disputarem a final da Liga Europa, ganhando todos os jogos pelo caminho (FCP: 7; SLB: 9 ou 8, caso perdesse com SCP na final; SCP: 9 ou 8, caso perdesse com SLB na final). Chegaria ao quinto lugar ultrapassando a França (57,165), mas as três equipas deste país tinham de perder todos os jogos. Agora, Portugal é sétimo (45,832), Rússia sexta (49,716) e França quinta (57,165).
53 - São os pontos possíveis no cenário improvável de sucesso total da França. Final da Champions PSG-Lyon e Rennes vencedor da Liga Europa acrescentariam 8,833 ao ranking, chegando aos 65,998 pontos - insuficientes para apanhar a Alemanha no quarto lugar - 69,784 pontos). Para a Rússia, o quinto é uma miragem porque as três equipas de França não podem somar quatro empates, ou duas vitórias, ou uma vitória e dois empates. E Zenit e Krasnodar teriam de chegar à final da Liga Europa vencendo todos os jogos: juntaria oito pontos aos 49,716 (57,716).
25 - Foi a melhor pontuação de uma equipa portuguesa numa só época no ranking destas últimas cinco (as que contam para efeitos da classificação). Pertencem ao FC Porto 2014/15 (época mais distante nas contas do ranking para 2019/20), que sucumbiu ao Bayern nos quartos de final (3-1 em casa e 1-6 em Munique). Nestas cinco temporadas, os dragões somam 90 pontos. Com os 20 já assegurados (líder do ranking UEFA desta época), somaria 37 pontos, sendo campeão europeu.
22 - São os pontos do Benfica 2015/16, segundo melhor registo português. A equipa da Luz soma 12, a que ainda pode juntar mais alguns se tiver sucesso na Liga Europa.