Diretor da formação do FC Porto afasta o risco de Duarte Cunha, Bernardo Lima, Mateus Mide, Martim Chelmik e Yoan Pereira poderem sair. Contributo dos sub-17 portistas para o sucesso da seleção são a garantia de um potencial que o clube quer desenvolver. O objetivo é chegarem à equipa principal… no tempo certo.
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Na ressaca da conquista de Portugal no Europeu de Sub-17, em que o FC Porto contou com cinco jogadores, O JOGO conversou um pouco com José Tavares, diretor da formação dos azuis e brancos, sobre o plano de futuro para Duarte Cunha, Bernardo Lima, Mateus Mide, Martim Chelmik e Yoan Pereira.
Como se sentiu ao ver que cinco atletas do clube contribuíram para a conquista do Europeu de Sub-17?
—O sentimento, como português e como diretor da formação do FC Porto, é de felicidade. Não só pela vitória, mas, fundamentalmente, pelo desempenho que os nossos jogadores foram tendo desde os primeiros torneios da época e da ronda de apuramento, culminando com esta fase final da excelência, em que foram muito bons. O nível subiu e, perante as dificuldades, eles foram sempre capazes de encontrar outras soluções. A satisfação existe, porque a vitória é a cereja no topo do bolo. O caminho que cada um deles foi trilhando, a forma como foram competindo, respeitando as decisões do treinador e da equipa, colocando-se ao serviço do coletivo e assumindo a sua individualidade, para além do seu caráter, da mentalidade e talento, acho que, enquanto portugueses e adeptos do FC Porto, podemos ficar satisfeitos. É a garantia de que temos aqui jogadores, como outros que não estiveram lá e que são de outros escalões, com um potencial que queremos continuar a desenvolver.
Que acompanhamento terão estes jovens depois de uma vitória como esta, para que não se percam ao longo do processo de formação?
—Estamos a falar de jogadores jovens, mas com uma mentalidade, maturidade e talento diferenciado, o que nos permite perceber que o caminho será sustentado. Pelo conhecimento que temos de cada um, estamos tranquilos na lógica de desenvolvimento que estão a apresentar. O sucesso foi coletivo, mas temos que olhar sempre ao lado individual dos jogadores. A nossa perspetiva é sempre adequar os contextos competitivos, nos vários momentos, de forma a que cada um deles esteja a ser desafiado no que mais precisa para se desenvolver. Há jogadores que estiveram nos Sub-17, outros nos Sub-19 e outros já tiveram experiências nas equipas profissionais. Ou seja, tentamos sempre desafiá-los acima dos limites deles ou numa procura de algo que sentimos que possa ser necessário para o desenvolvimento deles. Nunca é quanto mais acima melhor. É sempre o que é mais adequado neste momento e circunstâncias com este jogador, no que é o historial dele, o talento, o desenvolvimento ao nível competitivo que está a demonstrar, a projeção que temos e que o jogador também se propõe a ter para o futuro dele.
Qual é o projeto do clube para eles?
—É comum a todos os jogadores que temos: alcançarem os sonhos deles, jogando na nossa equipa principal, sendo campeões e partilhando do sucesso coletivo do clube, sabendo nós que o caminho se faz caminhando, passo a passo. Às vezes com saltos quânticos, outras vezes com um caminho normalizado e, muitas vezes, é a sociedade que nos impele a que as coisas fiquem mais aceleradas, como estes momentos. No entanto, quem tem a responsabilidade de tomar as decisões – e a nossa estrutura desportiva tem essa responsabilidade –, vai, com toda a certeza, projetar estes jogadores para, no tempo certo, com os desafios certos, nos contextos certos, se desafiarem para o melhor deles. Queremos o melhor deles e o melhor para o FC Porto. Vamos esperar pela próxima época para percebermos como serão os passos a serem dados.
É natural que, depois do sucesso no Europeu de Sub-17, tenham concentrado a atenção de outro clubes. Estes jogadores estão seguros para o futuro?
—Todos os jogadores que estiveram presidentes no Europeu estão contratualmente seguros pelo FC Porto, como é normal, e de acordo com o que é o nível deles e a projeção que temos para cada um.
Que impacto é que este sucesso da seleção poderá ter ao nível da formação em Portugal e, nomeadamente, do FC Porto?
—O impacto é muito positivo. Mas também acredito que em Portugal, fruto da qualidade dos treinadores, dos jogadores e de todas as estruturas, tem que ser algo normalizado. Apesar de não termos tantos títulos, temos a norma de desenvolver talento e, aí, mérito seja dado a todos os intervenientes do processo. Não só os treinadores, como todo o staff de apoio e também as famílias, que ajudam imenso neste processo. Aproveito para dar os parabéns ao treinador da Seleção Nacional, o Bino Maçães, que já foi nosso treinador na formação e que teve umas escolhas muito positivas, bem como um trabalho muito meritório naquilo que foi o sucesso desta seleção, culminando com o título. Quando se vê a final, parece que foi fácil, pela forma como foi. Mas acompanhei todo o processo e é um trabalho muito bem conseguido. Quando olhamos para o futebol português, percebemos que o talento existe a vários níveis. Como o vamos continuar a alimentar é um dos grandes segredos. Como vamos ser capazes de proporcionar a estes jovens as oportunidades adequadas, sabendo que não é decidido de fora para dentro que o melhor acontece para os jovens. É sempre quem conhece bem os jogadores, quem os acompanha diariamente, o que é que eles precisam de continuar a melhorar, a evoluir, a demonstrar naquilo que é a sua maturidade emocional, a sua mentalidade, as suas questões técnicas e táticas, o seu nível competitivo, para que a sustentação do sucesso – que é um dos pontos-chave para o desenvolvimento de um jogador –, seja importante. É muito fácil colocarmos mais acima e depois as coisas poderem não correr bem. O ideal é sempre haver algo pensado e sempre desafiando os limites do próprio jogador. Eles são todos diferentes e, como tal, requisitarão e necessitarão de desafios diferentes.