FC Porto só ganhou três vezes na Alemanha: heróis de 1994, 2000 e 2006 dão a receita

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AFP
Ambiente hostil, pragmatismo alemão e a entrada de Xabi Alonso podem pesar a favor do Bayer. O empate não seria mau, mas Domingos, Bruno Moraes e Clayton veem capacidade e talento para surpreender.
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Dezasseis anos: é esta a viagem temporal que os adeptos do FC Porto têm de efetuar para encontrar a mais recente vitória do clube na Alemanha, onde reza uma história de dificuldades para as equipas portuguesas, que ficaram bem espelhadas na última visita dos dragões, precisamente ao estádio onde regressam hoje, com o objetivo de consolidar um lugar de acesso aos oitavos de final da Liga dos Campeões.
Dragões procuram manter segundo lugar num país onde só ganharam três vezes. Heróis de 1994, 2000 e 2006 acreditam num sucesso na casa dos farmacêuticos.
Estávamos então no ano 2020, os portistas alimentavam o sonho de triunfar na Liga Europa e enfrentavam um Bayer acabado de ser afastado da Champions. O desfecho, como na maioria das vezes, foi uma derrota, causando uma queda da percentagem de sucesso naquele país para os 16%. Pior (0%), entre os denominados "Big 5", só em Inglaterra, onde nunca ganharam. Em França ganharam 31% dos jogos, em Espanha 24% e em Itália 22%.
Manter a identidade, fazer o 1-0 e surpreender
A matemática não deixa dúvidas sobre para que lado pende o favoritismo, mas no campo das probabilidades há sempre espaço para a surpresa. Foi o que fizeram Domingos (1994), Clayton (2000) e Bruno Moraes (2006), que saíram do banco do FC Porto para inscrever o nome nos três triunfos alcançados pelos azuis e brancos na Alemanha. E se eles conseguiram, não veem razão para Taremi e companhia não repetirem a história.
"Um resultado de 5-0 é difícil [risos]... Mas é possível ganhar, mesmo num ambiente diferente, hostil, porque o FC Porto não vai alterar a identidade", perspetiva Domingos, autor de um dos golos da maior vitória portista na Alemanha, com o Werder Bremen.
"As equipas alemãs, por norma, são fortes fisicamente, pragmáticas, colocam intensidade no jogo e não dão muitos espaços aos adversários. Mas se o FC Porto marcar primeiro, acredito que fará um jogo controlado", sustenta Bruno Moraes, que picou o ponto no triunfo com o Hamburgo.
"A receita é manter a concentração, estar bem firme na parte defensiva e concretizar as oportunidades. Temos jogadores de que gosto muito e, como naquele jogo de Berlim, em que o FC Porto tinha um rapaz brasileiro no banco de suplentes que fez a diferença depois do minuto 60, acredito que poderá surgir uma surpresa", refere Clayton, numa alusão ao golo maradoniano que apontou ao Hertha.
Sérgio dá estabilidade, Xabi provoca dúvida
A convicção é alicerçada na vitória obtida pelo FC Porto há uma semana, no Dragão, em que a estabilidade no banco foi bem evidente. "Ao longo destes anos, têm saído mais jogadores expressivos do que entrado. Mas o Sérgio [Conceição] tem feito um trabalho muito importante com os miúdos da formação, que estão a ser preparados e a ser lançados. É preciso dar muito valor a isso", nota Clayton, em contraste do que acontece em Leverkusen.
Xabi Alonso assumiu o Bayer após o despedimento de Gerardo Seoane e, na estreia, aplicou um 4-0 ao Schalke 04, que deve servir de alerta para os dragões. "Uma mudança de treinador cria sempre dúvidas no adversário e os próprios jogadores quererão dar uma resposta positiva, porque sabem que o caminho não tem sido o melhor. Normalmente, a equipa tem sempre uma reação a uma chicotada psicológica durante um mês", indica Domingos.
A isso, segundo Bruno Moraes, é preciso acrescentar a contabilidade do grupo. "Eles só ganharam ao Atlético [de Madrid] e precisam do resultado. Então, terão de assumir o jogo. O Bayer é uma equipa fragilizada, mas, se marcar primeiro, poderá ser complicado", antevê.
Clayton sabe que "do FC Porto se espera sempre muito", mas considera que "há que ter limite na expectativa e paciência". Talvez por isso Domingos não coloque de parte outro desfecho para o encontro de hoje. "Se calhar, por muito que não se queira dizer ou pensar isso, o empate até pode ser bom. Agora, em função dos objetivos de passagem à fase seguinte, também pode hipotecar tudo", reconhece.
Para que isso não suceda, Bruno Moraes só vê um caminho. "O FC Porto pode não ter ganho muitas vezes na Alemanha no passado, mas pode começar agora a mudar a história", sublinha. Ou, neste caso, repetir a de 1994, 2000 e 2006. Sem esquecer, claro, a vitória em Gelsenkirchen, na final da Champions, embora o jogo tenha sido em terreno neutro e contra os franceses do Mónaco.
NA PRIMEIRA PESSOA
Domingos numa noite às mil maravilhas
"Na altura, a diferença do futebol alemão para o português era maior. Portanto, era natural que o favoritismo fosse deles. A verdade é que o FC Porto tinha sido campeão europeu em 1987 e havia respeito. Foi uma noite em que correu tudo às mil maravilhas. Desde o golo do Kostadinov, eu (72") e o Rui Filipe (8") a entrarmos para marcar. O Secretário fez um golo, eu ainda saquei um penálti [apontado por Timofte]. Éramos fortíssimos em velocidade."
O arranque "maradoniano" de Clayton
"Estava como suplente, num jogo difícil, equilibrado. Tivemos algumas chances, eles também e eu com muita vontade de entrar no jogo. O Fernando Santos chama-me ali por volta do minuto 60. Entrei, fiz algumas jogadas bem conseguidas e um golo em que passei por vários jogadores. Foi o meu primeiro golo na Liga dos Campeões e fora do normal. É o golo da minha carreira."
Aquele momento único para Bruno
"Começámos o jogo a ganhar [golos de Lucho e Lisandro], depois o Hamburgo fez o 2-1 e estava um pouco melhor. O professor Jesualdo chamou-me para entrar, porque estava confiante e a viver um bom momento. Numa jogada, recebo um passe, trago a bola para dentro e, à entrada da área, remato com o pé esquerdo. Foi um bom golo, o meu único na Liga dos Campeões. Foi um momento inesquecível para mim, maravilhoso."

