Diretor técnico da Fiorentina é um assumido crítico da poluição provocada no futebol português por "gente que fala muito, mas percebe pouco do fenómeno" e sobressai pela "maledicência"
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Centrada nas quatro linhas ou nos bastidores: que tipo de corrida ao título perspetiva no campeonato português em 2017/18?
Falando de um mundo ideal, o melhor seria uma corrida centrada e concentrada nas quatro linhas. No entanto, os últimos anos mostraram que cada vez mais aquilo que é periférico e ligado a políticas de comunicação ganhou um peso e um espaço que não é equiparável a nenhuma realidade estrangeira. Há pessoas que exercem funções em Portugal que em situações análogas em clubes estrangeiros eu nem as conheço, Porém, em Portugal falam diariamente, o seu nome é mencionado. Há algumas coisas que seria bom repensar.
Sérgio Conceição regressou a Portugal para treinar o FC Porto. Estava escrito que ia acontecer?
Haveria de chegar a um grande clube, isso era inevitável. Ao contrário daquilo que é a sua imagem pública, muitas vezes associada só à rebeldia, estamos a falar de alguém com princípios de educação muito fortes e que faz da organização coletiva e da disciplina vetores principais. A vida pessoal obrigou-o a acelerar muito forte o sentido de responsabilidade. Vejo-o como mais do que preparado para ter sucesso nesta etapa.
Os três grandes portugueses têm-se diferenciado na abordagem ao mercado e na forma de reforçar os respetivos plantéis. O discurso de Sérgio Conceição, enfatizando que as principais aquisições do FC Porto estavam dentro do clube, casa com a realidade?
Casa muito bem. Fruto da obrigação de olhar menos para fora e de muitos dos jogadores que lá estão terem mais um ano de conhecimento do que é o clube e a Liga portuguesa, o FC Porto, liderado por um treinador com o perfil do Sérgio, terá um rendimento muito superior ao dos anos mais recentes.
Benfica, FC Porto e Sporting partem em pé de igualdade?
Sim. Têm excelentes treinadores e jogadores e um tecido social que os autoriza a serem candidatos. Tal como o Braga e o V. Guimarães cada vez mais têm condições para aparecer como "outsiders" e intrometer-se nos três primeiros, se algum dos grandes entrar em depressão.
A introdução do videoárbitro acrescentará fiabilidade ao futebol?
Parece-me uma boa medida, mas não creio que vá retirar a polémica ao futebol português. Há muita gente que fala uma, duas, três vezes por semana, mas que do jogo percebe muito pouco, do fenómeno em si menos ainda e tem uma capacidade de maledicência enorme, só polui. Um blogue pode dar origem a uma notícia ou a uma semana de comentários. Mas um blogue tanto pode ser feito por um catedrático como por uma criança de 12 anos! A polémica vende? OK. Não concordo com isso.