Aos 80 anos, o padre António Pereira, figura mítica do clube, retomou as rédeas da Direção depois da queda no Distrital
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O Centro Desportivo de Fátima vai voltar, na próxima temporada, ao Campeonato de Portugal, depois de em 2020/21 ter recomeçado do zero, na última distrital de Santarém, na sequência da falência da SAD.
António Pereira, o “primeiro padre federado em Portugal”, como orgulhosamente se autodenomina, retomou as rédeas do clube para o fazer “renascer”. Arrancou “do zero” e agora festeja uma subida “inesperada”. “A nossa aposta não foi subir. Aconteceu sem termos planeado e, agora, precisamos de acolher o menino e tratá-lo bem. Não estávamos preparados para enfrentar o Campeonato de Portugal e o meu trabalho tem sido recolher fundos nos últimos tempos”, conta a O JOGO o pároco de 80 anos. Ora, para além das funções eclesiásticas, António Pereira é também presidente do Centro de Reabilitação e Integração de Fátima (CRIF), do Centro de Estudos e também pertence aos bombeiros. As quatro paróquias que tem a cargo ocupam-lhe os fins de semana e precisou de pedir que o substituíssem para poder ver o jogo que carimbou o acesso ao CdP, em Abrantes. “Só vi dois jogos esta época”, resume. “Sou um presidente invisível. Tenho colaboradores em quem confio e que fazem o trabalho no terreno. Ando por fora para que nada falte”, conta.
Em 2020, quando as dívidas atiraram o Fátima para a II Divisão, António Pereira disse aos jogadores que era preciso “renascer”. “O renascimento está a ser lento, mas vai acontecer. A morte não tem a última palavra. Nunca podemos morrer, temos sempre de ter a vida no horizonte”, exalta. Numa terra marcada pelo turismo religioso, traduzido em milhões de visitantes anuais, o futebol fica em segundo plano. “Em Fátima o trabalho faz-se ao sábado e domingo, quando estamos inundados de peregrinos. Por isso, é difícil termos adeptos. Temos de trabalhar de outra forma. As pessoas ainda não estão com abertura para apoiar como antigamente. Somos uma equipa pé descalço”, acrescenta. Apesar de garantir que o futebol lhe dá “vida”, o padre António espera por alguém que o substituia. “Se fosse amanhã, ficava já na retaguarda, mas ainda ninguém quer assumir. Ficarei eu, até poder”, promete.