Khadim, senegalês que partilhou a viagem para Portugal com o ex-avançado, então rumo ao Alentejo, e que o reencontrou depois no Bessa, traça o perfil de Fary, o presidente da SAD do Boavista
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Hoje a trabalhar no Senegal, após ter acompanhado Jaime Pacheco em vários projetos como treinador de guarda-redes, Khadim, antigo jogador do Boavista, não esquece a chegada a Portugal partilhada com Fary Faye, novo presidente da SAD axadrezada. Os dois senegaleses estavam no mesmo clube, o ASC Diaraf, e mantiveram-se companheiros no União de Montemor, na então II Divisão B. Depois de duas épocas, seguiram caminhos diferentes, com o guarda-redes a rumar ao Felgueiras e o avançado ao Beira-Mar, embora tivessem reencontro marcado no Bessa.
Khadim exulta com a dedicação do compatriota ao Boavista e aprova as novas funções de que foi investido o goleador da liga de 2002/03, faturando 18 golos pelo Beira-Mar. A unificação interna do Boavista foi aparentemente lograda por Fary, que conseguiu, até, ter o investidor Gérard López no Bessa na receção ao Vizela.
“Fiquei muito contente de o ver chegar a esse lugar. Vivi com ele muitos anos em Portugal e, para mim, é um irmão. Se me dissessem há uns anos que ia ser presidente, não acreditava! Mas ele continuou sempre no Bessa, foi mantendo esse carinho pelo Boavista. Fez o seu caminho, e isso fê-lo chegar ao lugar atual”, resume Khadim, de 53 anos, a trabalhar na academia Generation Foot, de onde saiu Sadio Mané, procurando ajudar jovens a abrir portas na Europa.
O ex-guarda-redes sublinha que “o futebol precisa de mais gente” como o atual líder dos axadrezados, embora confesse que não lhe passaria pela cabeça vaticinar tal destino ao amigo.
De longe, acompanha os tempos conturbados do Boavista e a herança pesada que, agora, cai nos ombros de Fary. “Sei que não é nada fácil. Mas ele é muito dedicado e concentrado no que faz. Gosta de aprender e estar atento a tudo. Conhece melhor do que ninguém a realidade do Boavista. Tem feito parte da gestão interna, já há vários anos. Tem boa ligação a toda a gente, entende de várias áreas. E algo posso garantir: nada será feito sem transparência”, elogia Khadim. “Fary só faz o que está correto, é extremamente sério e honesto, o futebol precisa de gente assim, e ele pode fazer a diferença”, acentua, valorizando o perfil afável e a personalidade amigável do antigo ídolo das panteras, tantas vezes chamado de Farygolo.
“Tem o dom de criar boa atmosfera, é pacifista e conciliador. Os boavisteiros podem contar que tudo será feito com clareza e honestidade. Desde que o conheço, fez tudo direitinho, não deixa nada para trás. Merece confiança máxima dos sócios”, atesta Khadim, nostálgico dos últimos tempos vividos no relvado com Fary. “Foi fantástico, continuou a marcar golos, como já fazia, e os adeptos rapidamente o adoraram. Habituou-os a resolver jogos, e já era uma fase complicada, de crise financeira”.
Khadim e Fary partilharam momentos, viagens e trouxeram o sabor de África a Portugal. A ligação fortíssima veio de Dacar para o Alentejo e foi o União de Montemor o primeiro clube a gozar do faro e pontaria do agora líder axadrezado.
“Fary chegou primeiro, voltou de férias ao Senegal e falou-me do Montemor. O empresário fez comigo a mesma movimentação. Ficámos os dois, vivíamos juntos, algo que se prolongou dois anos. Ele depois saiu para o Beira-Mar e eu para o Felgueiras; mais tarde, voltámos a reencontrar-nos no Boavista. Foi uma alegria voltar a tê-lo por perto”, recorda Khadim, brincando com uma situação mais insólita que viveram juntos ainda em Montemor. “Tivemos uma história muito bonita em Portugal, estávamos na mesma casa e saíamos frequentemente para jantar no mesmo sítio. Não tínhamos família connosco. Havia muitos cães na rua e falávamos disso, que não tínhamos medo. Há um dia que repetimos essa saída para jantar e um cão atacou o Fary. Ele fugiu que nem louco, eu ri-me muito, ainda me rio hoje, porque ele dizia que não tinha qualquer receio. Ele hoje também se ri”, garante.